Entrevista

`Chegamos ao impeachment porque atrás disso tudo há o interesse geopolítico dos EUA´, diz Requião

O blog republica parte de uma entrevista publicada no Blog do Josias com o senador Roberto Requião (PMDB-PR). Segue a entrevista:

– Num instante em que até os petistas duvidam da hipótese de Dilma Rousseff retornar à poltrona de presidente da República, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) resiste em jogar a toalha. Avalia que Dilma pode obter os 28 votos de que precisa para evitar o impeachment recorrendo à mesma arma utilizada por Michel Temer: o fisiologismo. “O senador Armando Monteiro, nosso ex-ministro da Indústria e Comércio, cunhou a expressão fisiologia esclarecida. Essa fisiologia esclarecida ainda pode salvar a Dilma”, disse Requião em entrevista ao blog.

Requião recordou que 21 senadores votaram contra a conversão de Dilma em ré. E faz as costas: “A Dilma, então, precisa de mais sete senadores. E ela tem a República inteira para negociar com a fisiologia esclarecida.” Noutro trecho da conversa, o senador acrescentou: “Ela tem o Brasil na mão e precisa de apenas sete votos. Precisa ser muito inábil para não conseguir.” O julgamento final do processo de impeachment começa nesta quinta-feira. Num colégio de 81 senadores, são necessários 54 votos para confirmar a deposição de Dilma. O Planalto estima que terá entre 60 e 63 votos.

Com a franqueza que lhe é peculiar, Requião soou severo com o PT: “Dentro do PT tinha revolucionários que eram capazes de assaltar um banco para fazer caixa para a revolução. Perto disso, o sobrepreço numa obra pública não significava nada.” Evocou uma frase do ex-presidente do Uruguai: “O Pepe Mujica diz que o principal inimigo do socialismo não é o capitalismo, mas o desejo cultural de acumulação.”

Requião não poupou Lula, seu velho amigo: “Veja o Lula com aquele sítio [de Atibaia]. Tem cabimento isso? Ele tinha entrado naquela vigarice de palestras, que foi inventada pelo Fernando Henrique. O Bill Clinton também fazia a mesma coisa. O Lula, com essas palestras, não precisava ganhar de presente… Ele ia ganhar [o sítio] de presente. Eu sei o que é isso.”

E quanto a Dilma? “Conheço a vida da Dilma. O irmão da Dilma cria tilápia num tanque, na periferia de Belo Horizonte. Eu acho que a Dilma facilitou o trabalho do Sérgio Moro, junto com o [José Eduardo] Cardozo. Eles deixaram o Moro e a Polícia Federal trabalhar. […] Achavam que caía o lado corrupto do partido e ficariam eles, os puros. Só esqueceram de uma coisa: foram beneficiários dessa corrupção para chegar à Presidência da República.”

Requião fez uma revelação inusitada. Contou que, no segundo turno da campanha presidencial de 2014, Dilma estava animada com a atuação do juiz da Lava Jato. “Ela perguntou: ‘Esse teu amigo, o Sérgio Moro, ele vai mesmo tocar essa investigação para a frente? E eu: Não tenha dúvida, o Moro é um obstinado. Ele não pára. A Dilma deu uma risada e disse: ‘Requião, cai a República.’ Ela estava contente com o Sérgio Moro.” Vai abaixo a entrevista:

estrelinha— Por que o país chegou ao impeachment?

Roberto Requião – Chegamos a isso, em primeiro lugar, pela inabilidade de comunicação da Dilma. Nenhum governante deixaria de ter um terço de amigos no Senado, amigos pessoais até. Depois, por causa do Joaquim Levy, que foi o contrário dos compromissos que a Dilma tinha assumido na campanha. Hoje, sei que a Dilma pensava que, se tentasse aquele ajuste fiscal clássico por um ano, ela resolveria o problema e voltaria à sua agenda política. Ledo e vadio engano, como se demonstrou. Em terceiro lugar, chegamos ao impeachment porque atrás disso tudo há o interesse geopolítico dos Estados Unidos. O impeachment é o avanço norte-americano sobre as reservas minerais —minério, petróleo e água. Essa ação não se dá só no Brasil. Acontece também na Venezuela, na Argentina e na Colômbia.

— Acha mesmo que os Estados Unidos têm essa capacidade de articulação, a ponto de influir no processo de impeachment?

Roberto Requião – Eles têm essa capacidade de articulação. E eles têm agentes. O [José] Serra é um agente desta proposta de liberalismo e globalização. Defende a tese do governo único, global. O Serra é um agente disso.

— Teve a oportunidade de dizer para Dilma que ela precisava melhorar a comunicação com os senadores?

Roberto Requião – Eu não falo muito com a Dilma. Fiz a campanha dela, fiz o primeiro grande comício do segundo turno, em Curitiba. Ela ganhou a eleição. E eu nunca mais falei. Ela se isola. Eu também não podia engolir aquela política econômica do Joaquim Levy. Ela disse a mim agora que achava que mudaria depois de um ano. Achava que acertaria as coisas em um ano, seguraria o mercado e os bancos. Achava que depois tocaria a agenda social.

— Considera que o afastamento de Dilma é jogo jogado?

Roberto Requião – Acho que ela pode não ser impichada. Estamos trabalhando para isso. Creio que teremos 28 senadores.

— Na última votação, Dilma teve 21 votos. O que mudou?

Roberto Requião – Primeiro, nós tínhamos 22 votos. Daí, saiu o João Alberto [PMDB-MA]. Mas vieram outros. Prevalecerá uma visão ética desse processo. Todo mundo sabe que não há crime de responsabilidade. Isso é conversa mole. E há os erros do Temer.

— Que erros?

Roberto Requião – Você acha que não tem ninguém que esteja estupefacto com a boçalidade do Serra no Ministério das Relações Exteriores. Houve a tentativa de compra do voto do Uruguai [para suspender a transferência da presidência temporária do Mercosul para a Venezuela]. Isso foi denunciado pelo chanceler uruguaio. Temer loteou a República. A Dilma, então, precisa de mais sete senadores. E ela tem a República inteira para negociar com a fisiologia esclarecida. O fisiológico esclarecido é o que quer um benefício para se manter na política, mas não quer mais ficar com o Temer e essa vergonha que está acontecendo. Então, o que pode desequilibrar é o favor pessoal, é o favor para a sua reeleição, para a garantia do seu mandato. A diculdade disso é que Dilma não consegue se comunicar.

— O que seria do país se Dilma voltasse?

Roberto Requião – Não posso dizer que seria uma maravilha a volta da Dilma. Mas o país cresceria com isso em termos de debate político. O plebiscito faria o Brasil discutir essa proposta política do Temer, do Serra, do Meirelles, dos diretores banqueiros do Banco Central, dessa gente toda. Esse projeto que está aí não elege nem síndico no Brasil. Estão impondo isso. Não tem a menor viabilidade eleitoral. Isso é um golpe. Assim como achei um golpe a nomeação do Joaquim Levy para a Fazenda. Era um golpe contra os compromissos de campanha.

Por que fala da volta de Dilma sem entusiasmo?

Roberto Requião – Não estou na turma do ‘volta querida’ nem na turma do ‘fora Temer’. O país é o que me interessa.

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