Editorial

O caso Senadogate

Em 1972 o então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon renunciou ao cargo devido ao escândalo conhecido como Watergate envolvendo o seu nome. O caso Watergate foi a invasão aos escritórios do Partido Democrata americano em Washington, no conjunto de edifícios Watergate. Após dois anos de investigação, culminou com a renúncia do presidente Richard Nixon. A invasão rolou durante a campanha eleitoral e, mesmo com evidências ligando o episódio ao comitê de Nixon, o presidente foi reeleito com larga margem de votos.

Pois muito bem: no Brasil o caso Senadogate, assim que vou chamar os grampos autorizados pela Justiça em gabinetes de deputados e senadores culminou com uma operação da Polícia Federal na última sexta-feira (21) no Congresso Nacional. Ao contrário do Watergate os grampos no Senado foram autorizados pela Justiça, bom que se diga.

Em uma ação de enorme repercussão política, a PF, obedecendo ordens de um juiz, prendeu quatro integrantes da polícia legislativa que obedeciam ordens do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), acusados de atrapalhar investigações da Operação Lava Jato.

O impacto político do que aconteceu é bastante claro: o juiz que mandou prender integrantes da Polícia Legislativa os acusa de terem formado uma associação criminosa que foi usada por parlamentares para, de alguma maneira, se proteger de investigações da Lava Jato.

Eles citaram os lugares onde esse trabalho foi feito dentro e fora do Congresso e de Brasília. Também que foi depois que os senadores passaram a ser investigados na Lava Jato, no ano passado, é que o Senado comprou equipamentos de última geração para varrer escutas e também para fazer interceptações. Um gasto de mais de R$ 400 mil.

No pedido de autorização encaminhado à Justiça, o Ministério Público afirma que “a deliberada utilização de um equipamento sofisticado, de propriedade do Senado, utilizando recursos públicos, passagens aéreas custeadas pelo erário e servidores concursados, em escritórios ou residências particulares, não possui outro objetivo senão o de embaraçar a investigação que envolve organização criminosa”.

Não à toa os equipamentos de última geração para varrer escutas foram comprados pelo Senado após os senadores passarem a ser investigados na Lava Jato. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi citado em delação premiada de Felipe Parente, um dos assessores de campanha do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, a procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato. De acordo com informações divulgadas pela revista Época, em sua edição neste final de semana , Parente se encontrava com Iara Jonas, assessora do Senado, para fazer repasses de valores desviados de empresários que mantinham contratos com a Transpetro. Ainda segundo a publicação, Parente ficou conhecido como “o homem das malas do PMDB”.Renan Calheiros e membros do PMDB teriam recebido mais de R$ 5 milhões em propina, segundo reportagem da Época.

E como dizia Cazuza,

E assim nos tornamos brasileiros
Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro
Transformam o país inteiro num puteiro
Pois assim se ganha mais dinheiro

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas ideias não correspondem aos fatos
O tempo não pára

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