Política

O Baú de um Repórter

selo-blogdobarbosa-pSegundo governo do hoje senador José Agripino Maia no Rio Grande do Norte. Eu era repórter de Política do Diário de Natal e cobria a Assembleia Legislativa. O PT havia eleito pela primeira vez um deputado estadual, o professor Júnior Souto. Agripino tinha uma grande bancada no Legislativo estadual, além de contar com a maioria dos parlamentares no apoio ao seu governo. Vamos ao fato:

O dia em que fui afastado da editoria de Política do Diário de Natal

Início de semana. Acho que era uma terça-feira, se não me engano. Como de costume chegava à redação por volta das 14h. Como era repórter setorista quase não necessitava de pauta. Luciano Herbert, o editor de Política, só passava pauta quando havia algum assunto para repercutir. Fora disso sempre me deixou à vontade para fazer as matérias que achasse interessante. De preferência as de bastidores. Normalmente ia para a Assembleia às 15h, exatamente para colher os assuntos de bastidores. Para isso o repórter tem que contar com boas fontes. Era o que não me faltava. Uma delas o deputado petista Júnior Souto, com quem fiz uma grande amizade.

Nesse dia demorei um pouco mais a ir para a Assembleia. Era por volta das 15h30 quando fui chamado a sala de Albimar Furtado, então diretor-geral do Diário de Natal. Não sabia do que se tratava. Achei até que era para entrevistar algum político em visita ao jornal, como é comum. Peguei minha caderneta de anotações e me encaminhei a sala de Albimar. Ao chegar em sua sala me deparei também com Luciano Herbert. Albimar me pediu para sentar e começou a falar com certo rodeio. Me disse que o jornal iria passar por uma reformulação editorial, e com base numa pesquisa encomendada ficou constatada a necessidade de se dinamizar mais a editoria de Economia, defasada de informações locais.

Feito estas colocações, Albimar disse que como repórter experiente que era pensou no meu nome para atuar a partir daquele momento na editoria de Economia. Me perguntou se fazia alguma objeção, o que lhe respondi que preferia ficar em Política, mas como era um profissional não podia me furtar de colaborar com o jornal. Ficou decidido então que não mais pertencia a editoria de Política e, que, portanto, naquele dia mesmo não precisaria mais ir para a Assembleia. Decepcionado com a decisão de Albimar Furtado voltei para a redação.

Ao entrar na redação meio que desnorteado fui direto falar com Aluísio Lacerda, então editor de Economia do jornal. Primeiro já tinha ficado surpreso pelo fato dele não estar na reunião. Depois me surpreendi mais ainda quando ele também ficou surpreso em saber que eu iria trabalhar com ele. Ou seja: a decisão de Albimar foi unilateral, sequer ouviu o editor de Economia para saber se concordava com a decisão tomada.

Dias depois fiquei sabendo por um deputado – que me reservo no direito de não dizer o nome – que a decisão de Albimar Furtado em me afastar da editoria de Política tinha sido a pedido do deputado Getúlio Rego, líder do governo José Agripino, na época. Rego havia se queixado a Albimar o fato do Diário vir publicando muitas matérias desfavoráveis ao governo, afinal, o Executivo era um dos maiores anunciantes do jornal. E aí pediu a minha cabeça. Não fui demitido, mas fui para uma outra editoria para não correr o risco de incomodar o governo. 

O problema todo era o fato do deputado Júnior Souto ser uma das minhas fontes na Assembleia Legislativa. Tudo o que sabia e que, evidentemente, pudesse passar ele me passava. Daí a pressão do governo para que eu fosse afastado da editoria de Política. Uma forma de retaliação muito comum e usado até hoje contra profissionais de imprensa que não fazem o chamado jornalismo chapa-branca.

 

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