Política

A aliança com o `centrão´ tira o tucano do limbo, mas o preço a pagar se vencer será altíssimo

Está no Blog do Helio Gurovitz

O acordo de Geraldo Alckmin (PSDB) com o bloco de partidos formado por DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade, conhecido como “centrão”, traz o alívio que a candidatura tucana precisava para se mostrar viável. Mas o preço a pagar num futuro governo em caso de vitória promete ser altíssimo.

De imediato, a coalizão de Alckmin, que já contava com PTB, PSD e PPS, reunirá 5min50 no horário eleitoral gratuito, praticamente metade dos blocos diários de 12min30. É uma força enorme para conquistar os 40% de eleitores que, na pesquisa estimulada, não definem voto.

Nenhum dos candidatos que hoje lideram as pesquisas terá um canhão semelhante. O PT tem 1min34; Ciro Gomes, 33s; Bolsonaro, 8s. Com o bloco, Alckmin também conquista o apoio de governos e prefeituras que levarão seu nome às regiões onde sua candidatura se revela mais fraca, Norte e Nordeste.

Estacionado em torno de 6% nas pesquisas, é natural que Alckmin cresça, embora não imediatamente, já que o horário eleitoral só começa em 31 de agosto. Ciro, em contrapartida, deverá cair do patamar de 10%, já que flerte com o “centrão” naufragou.

O anúncio oficial da candidatura Ciro previsto para hoje terá um gosto de derrota. Ele é o maior perdedor com a decisão de ontem. Abandonará o esforço que vinha fazendo para tornar sua candidatura palatável a investidores, banqueiros e empresários. Será, como esperado, um candidato de esquerda.

Ainda sofrerá novo abalo quando ficar definido o candidato petista, já que o partido não deixará de lançar um nome ao Planalto, apoiado por um cabo eleitoral dotado de imensa popularidade: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, impedido de concorrer pela Lei da Ficha Limpa.

Sem muita consistência ideológica, interessado apenas em cargos e espaço no novo governo, o “centrão” caiu no colo de Alckmin meio por gravidade. Verdade que havia incompatibilidade entre as propostas econômicas de partidos como DEM e PP e o programa estatizante de Ciro. Mas o fator que mais pesou na decisão foi político.

O Solidariedade, do deputado Paulinho da Força, obteve uma promessa de revisão no financiamento a sindicatos, extinto pela reforma trabalhista. O bloco ganhou ainda o direito de indicar o novo presidente do Senado.

Não se conhecem ainda outros detalhes do acordo, que deve na certa envolver cargos em estatais e ministérios. Os partidos do “centrão” levarão a proposta a suas bases para aprovação. Alckmin evita confirmar o acerto, até que ele seja anuciado oficialmente, no próximo dia 26.

Desde já, ele se tornou refém do “toma-lá-dá-cá” que amaldiçoa a política brasileira. Se vencer, a força de seu partido estará diluída. Não apenas por entregar postos-chave aos políticos mais fisiológicos de Brasília. Mas sobretudo pela necessidade de contar com o “centrão” a cada novo projeto levado ao Congresso, a começar pela reforma da Previdência.

A aliança entre Alckmin e o pântano brasiliense reforça o argumento central da campanha do deputado Jair Bolsonaro (PSL): afirmar que Bolsonaro é o único político que não é corrupto os demais, todos agora aliados para preservar o velho sistema político.

A campanha de Alckmin terá doravante dois desafios. Primeiro, livrá-lo da pecha de “candidato do sistema”, muito embora tenha se tornado justamente isso. Segundo, capturar o sentimento antipetista, hoje aglutinado em torno de Bolsonaro, que reúne, segundo as pesquisas, o eleitorado mais fiel e menos propenso a mudar de voto.

Nenhum desses desafios será fácil. A partir do anúncio da aliança, contudo, Alckmin contará com os meios para superá-los – maior capilaridade regional e tempo de TV. Apenas em setembro será possível avaliar o resultado de sua estratégia. Mas, se até agora a eleição se inclinava em favor de Bolsonaro, a disputa promete ser mais acirrada.

Foto reproduzida da Internet
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