Baú de Estrela

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Stella1213Patacoadas a torto e a direito

por Stella Galvão

Foi uma sexta de luto para muitos correligionários. Já tinha sido providenciada a festança, com caravanas e muita comilança e beberagem programada. Na véspera do sábado, já caída a tarde, soube-se que nova decisão do tribunal superior tinha, pela segunda vez, mantido a titular eleita no cargo.

O vice, como é sina dos vices, amargou a frustração de assumir o cargo máximo no Estado depauperado.  Era a chance sonhada de posar dentro e fora da excrescência chamada arena das dunas e conseguir uma boa dose de exposição em ano de Copa do Mundo.

O episódio coroou uma série de patacoadas envolvendo velhos nomes da arena política potiguar e os tribunais eleitorais. Patacoada, conforme o insigne dicionário Aurélio, equivale a jactância ridícula; impostura; disparate.

O disparate, que se aplica plenamente a episódios recorrentes na cena política brasileira, no caso potiguar tem consistido nas idas e vindas das decisões dos Tribunais Eleitorais.

O de âmbito regional julgou inicialmente a governadora inelegível e cassou-lhe os direitos políticos por oito anos sob o argumento, fartamente documentado, segundo o noticiário, de que a senhora em questão usou seguidamente o meio de transporte aéreo oficial para deslocar-se à segunda maior cidade do Estado e lá, participar alegremente da campanha de outra senhora.

E havia ainda um poço de água em um assentamento que se soube estar mais vazio que a cabeça de certos assessores políticos desses nomes canhestros que se revezam no poder do pobre RN. A alcaide da cidade que resistiu a Lampião, a propósito do tema, foi declarada inelegível e afastada por quase uma dezena de vezes. Todas derrubadas por decisão do tribunal superior.

É fato conhecido até da mais leiga das criaturas em tópicos jurídicos que instâncias superiores existem para rever as sentenças proferidas em âmbitos regionais, corrigir eventuais desatinos e propiciar uma sobrevida aos acusados em geral. Mas o que causa pasmo coletivo é a guarita que vem sendo dada aos pedidos de revisão da sentença, por parte das titulares de cargos executivas eleitas pelo partido de sigla ‘DEM’ em terras potiguares.

Tal acolhimento, tão célere a ponto de gerar sucessivos desgastes na agenda potencialmente festiva do vice, sempre frustrado por sucessivos liminares que asseguram sobrevida à titular, certamente causa espécie a outra senhora que esteve à frente da coisa pública, na Prefeitura da cidade natalina.

A herdeira do espólio político, leia-se império de comunicação, foi apeada do cargo cerca de dois meses antes do prazo regulamentar. Pesava sobre a lepidóptera a suspeita de fraudes na gestão da saúde municipal.

Um dos ministros do Superior Tribunal de Justiça indeferiu o pedido de anulação do afastamento da alcaide alada sob o argumento eufemístico, mas não menos rigoroso, de existência de “vários indícios, concretos e robustos, da prática de condutas inadequadas”.

Apesar do destino fatídico de uma, apeada do poder a pouco mais de 60 dias do defenestramento natural, por obra do processo eleitoral, Borboleta e Rosa tem algo em comum, além da potencial polinização de uma por outra: O grau de rejeição da população.

Aquela amargou 92% (Ibope) de avaliações “ruim” ou “péssima” no último ano de sua gestão, enquanto esta não lhe fez sombra no quesito ruindade avaliativa. Foi apontada em recente pesquisa CNI/Ibope como a governadora mais rejeitada do país.

Um disparate perceptível, por exemplo, no grau de miserabilidade seguidamente denunciado (em rede nacional de TV) nos hospitais do Estado e, mais recentemente, na indigência da segurança pública, pauta de seguidas reportagens em cadeia nacional na semana passada. Festival de patacoadas!

* Stella Galvão é jornalista e colaboradora do blog, professora da Escola de Comunicação e Artes da UnP, mestre pela PUC-SP e autora de ‘Calos e Afetos’ e ‘Entreatos’. Endereço no twitter @stellag19, e-mail: stellag@uol.com.br

 

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