Política

consultor do Papa afirma que terço foi abençoado pelo Pontífice para ser levado a Lula

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Juan Grabois em seu Facebook

Querido Lula:

Ontem eu saí do Brasil muito angustiado. Como sabes, impediram-me de te visitar de forma injustificada, arbitrária e mal-educada. Depois, visitei os meus irmãos e irmãs catadores, carrinheiros, camponeses, favelados, professores, servidores públicos, operários e integrantes de diversas pastorais. Pude sentir a dor do povo, partilhar a sua impotência perante a injustiça, a sua revolta perante a perseguição do seu máximo dirigente. Notei também a enorme deterioração institucional, social e política que o Brasil sofre por causa da ambição de poucos que concentram o poder e impedem que as diferenças se apaziguem nos quadros da democracia.

O trago mais amargo, porém, me esperava no aeroporto de Curitiba. Foi aí que soube que estavas a ser atacado nos meios de comunicação social e redes sociais. Diziam que mentiu sobre o rosário enviado pelo Papa Francisco. Então você, preso e incomunicável, também mente! Com espanto vi que os seus inquisidores indicavam que a fonte da sua calúnia era o próprio Vaticano. Maior foi a minha surpresa quando confirmei que numa página da internet chamada Vatican News tinham publicado um texto em português agressivo, cheio de imprecisões e erros de redação.

A comunicação desta página não pode ser considerada oficial, mas, com efeito, trata-se de um local dependente do secretariado de comunicação do Vaticano. Enquanto lia, não podia evitar o meu espanto. Evidentemente, um editor desse site, sabe Deus com que intenção ou a pedido de quem, quis causar um tumulto e conseguiu. Quando pude reclamar com os superiores, a nota foi removida do site e substituída por uma adequada (https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2018-06/precisacao-sobre-caso-grabois-lula.html), mas o dano já estava feito. Infelizmente, os meios que espalharam até o paroxismo a suposto desmentido não visualizaram a nova nota com a informação correta. Será que vivemos na era da pós-verdade?

Nunca revelei o conteúdo de um encontro com o Papa Francisco porque sou leal, o respeito e admiro muito. Além disso, sei que o seu apoio aos movimentos sociais e aos pobres lhe traz mais do que dor de cabeça. Como sabe, ele também sofre o ataque sistemático dos fariseus e herodianos dos nossos tempos. No entanto, tendo em conta as circunstâncias, sinto-me na obrigação de te contar como foram as coisas. Em meados de maio estive no Vaticano para visitar Francisco, que me honra com uma amizade que não mereço, ama a Pátria Grande [a Argentina] e – como ele mesmo indicou – está preocupado com a situação atual.

Como sabe, é muito claro e frontal, não precisa de porta-vozes e eu nunca quis sê-lo. Sofro muito quando a mídia me coloca nesse lugar. Eu apenas tento ajudar no diálogo com os movimentos sociais, algo que tenho feito desde que nos conhecemos em Buenos Aires, há mais de dez anos, lutando por uma sociedade sem escravos nem excluídos. Neste momento, colaboro com o dicastério para a promoção do desenvolvimento humano integral presidido pelo cardeal Peter Turkson, com quem organizamos os três encontros mundiais de movimentos populares e outras atividades para promover o acesso à terra, o teto e o trabalho como direitos. Essenciais.

Por esses dias de maio, meus amigos dos movimentos populares do Brasil me ofereceram a possibilidade de te visitar. Fiquei muito satisfeito porque admiro o que fizeste como presidente pelos mais pobres e tenho a certeza de que és alvo de uma perseguição política, tal como Nelson Mandela e tantos outros dirigentes políticos na história recente. Aproveitei, então, aquela visita ao Vaticano para conversar com o papa sobre a situação e pedir-lhe um rosário abençoado para te levar a ti. Assim foi. É incrível que um gesto tão simples de solidariedade e proximidade do papa, um objeto que serve para rezar, gere tantos problemas, mas não é a primeira vez e o Vatican News é responsável por ter permitido que se publique essa nota tão inapropriada e sem profissionalismo. O seu responsável pediu-me perdão e perdoo-lhe, porque todos podemos cometer erros. Mas também sei que houve danos graves.

Também quero esclarecer que, quando me negaram ver-te, pedi aos teus colaboradores que te levassem o Rosário, esclarecendo-lhes expressamente que vinha da parte do Papa com a sua bênção. Por esse motivo, o que eles afirmaram na sua conta do Facebook – erroneamente denunciada de fake news e ameaçada com a censura – é simplesmente o que eu lhes disse: a verdade. Entrego esta carta aos seus colaboradores com a autorização expressa de que a postem se lhes servir para amenizar o dano causado, embora temo que aqueles que odeiam esse operário que tirou da fome quarenta milhões de excluídos e colocou de pé a América Latina não vão dizer a verdade.

Te peço perdão pelo que aconteceu e te deixo um abraço fraterno, latino-Americano e solidário;

Rezo pela tua liberdade, o teu povo e a nossa Pátria Grande.

Juan Grabois

Foto reproduzida da Internet

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