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Em editorial O Globo volta a pressionar o Supremo. Ora, ora, ora! Remessa de delações da Odebrecht não é ininteligível?

O jornal da família Marinho, pra não perder o costume, voltou a pressionar o STF (Supremo Tribunal Federal) por uma decisão desfavorável ao ex-presidente Lula, que está preso na Polícia Federal em Curitiba (PF), por denúncias de corrupção e formação de quadrilha, com base em ilações e achismos.

Sob editorial que leva o título de “Em nome da segurança jurídica”, O Globo enfatiza que “é com essa perspectiva que este jornal faz essas considerações sobre a decisão da Segunda Turma que, na terça-feira, tirou da 13ª Vara Federal de Curitiba trechos das delações da Odebrecht relativos ao sítio de Atibaia e à compra de um terreno para o Instituto Lula. O ex-presidente é acusado pelo Ministério Público de ser o verdadeiro dono do sítio, beneficiado por reformas em parte pagas pela Odebrecht, que, também, teria comprado um terreno para a construção de uma nova sede do Instituto Lula, tudo como propina em troca de favores”.

Ora,ora, ora! Ainda ontem o mesmo jornal estampou em sua decisão a seguinte chamada de capa: “MPF diz que remessa de delações da Odebrecht é “ininteligível” e não muda processo contra Lula em Curitiba”. Afirma trecho da reportagem que “o Ministério Público Federal (MPF) disse, em parecer protocolado nesta quarta-feira (25), que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de tirar do juiz Sérgio Moro trechos da delação de ex-executivos da construtora Odebrecht que envolvem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e enviá-los à Justiça de São Paulo é “ininteligível” e “superficial””.

E o que é “ininteligível”, afinal? É no bom português uma coisa incompreensível; de difícil ou impossível compreensão. Portanto, as delações dos diretores da Odebrecht contra Lula, inclusive as do chefe-mor da Odebrecht, pai de Marcelo, Emílio Odebrecht, em que ele afirma que teria falado com o ex-presidente Lula no último dia de governo, se referindo a ele [Lula] como chefe, que as obras do sítio de Atibaia estariam prontas já após ele entregar o cargo, pelo o que diz o MPF, seriam “ininteligível”, de difícil compreensão, já que ele não falou objetivamente, mas de forma superficial, digamos assim, até porque o próprio Emílio Odebrecht afirmou que Lula não respondeu nem com um SIM nem com um Não.

Então por que O Globo fazer esta cobrança descabida ao Supremo? Será o receio de que a decisão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal que tirou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva das mãos de Sergio Moro no que diz respeito às delações da Odebrecht pode ter outras implicações a curto e médio prazo? Alguns ministros entendem que o gesto abre um enorme precedente para que a defesa do ex-presidente recorra dotada de uma família nova de argumentos técnicos. No entendimento desses ministros, o TRF-4 também está na iminência de perder a exclusividade em julgar embargos da defesa.

Caro leitor, a imprensa golpista atua assim, na forma sutil de cobrar dos poderes decisões que satisfazem suas redações. O Jornal Nacional, da Globo, por exemplo, dedicou 14 segundos para a formalidade de comunicar a decisão da Segunda Turma do Supremo e, em seguida, dinamitou Lula durante quase 8 minutos numa reportagem enviesada e acusatória — uma proporção 35 vezes maior de tempo televisivo para acusar e condenar do que o tempo televisivo para comunicar formalmente o fato [a decisão do STF favorável a Lula].

Já José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, diretor editorial do grupo EXAME e colunista das revistas EXAME e VEJA, integrando ainda o Conselho Editorial da Abril, usou sua conta no twitter para dizer que “os ministros Toffoli, Lewandovski e Gilmar, reforçados pelo colega Marco Aurélio, são um convite permanente à intervenção militar — ou golpe, como se queira. Rasgam as leis. Agem abertamente a serviço de um partido político e de seu chefe. Servem a um projeto de tirania”.

É como disse certa vez o escritor italiano Umberto Eco, já falecido:

O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade

 

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