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por Paulo José Cunha, no Congresso em Foco
Não há dia em que não ouça no Congresso, nos corredores da universidade onde dou aulas, no ônibus, no shopping, na padaria, na fila do banco, onde eu for, uma mesma e única pergunta: “Trabalha no Congresso, conhece os ‘home’. Tu achas que isso vai dar em quê?”
Sei lá. Não tenho a menor ideia. E quem disser que sabe está mentindo ou é mal informado. Qualquer previsão é chute. Os mais experimentados na observação dos altos e baixos da cena política brasileira só se arriscam a dizer que esta crise – política, ética e econômica – é mais grave do que a que desaguou no desastre de 64. Marola gorda, ressaca braba, confusão pra mais de metro.
Cada um desses ingredientes, separado, contém nitroglicerina em dosagem superior à dos mísseis em teste pelo gordinho coreano. Se separados são aterradores, calcule associados. Antes de Joesley montar a arapuca, fazer aquelas gravações e abrir o bico na delação premiada, a suposição era a de que Temer seria a pinguela que levaria o país até o outro lado da crise (leia-se: eleições de 2018).
O diabo é que os irmãos Batista soltaram a boiada na estrada, a pinguela despinguelou e a descrença se instalou depois da apresentação da denúncia contra o pai do Michelzinho. Aposto que nem Marcela tem segurança em sua permanência naquela pousada às margens do Paranoá, onde voejam jaburus e outros aviões de carreira. Hoje, o país balança perigosamente num cipó esgarçado, que pode se romper a qualquer momento. E aí? Isso vai dar em quê?
Seja qual for o desfecho, tem se falado pouco sobre um aspecto altamente preocupante desse imbroglio: mistura de crise com ausência de lideranças confiáveis, como ensina a história, é caldo de cultura fértil para o surgimento de aventureiros salvadores da pátria com seus discursos demagógicos e populistas. Num passado recente tivemos um desses, que se proclamava caçador de marajás. Terminou caçado. Noutros países desta alegre Latinoamerica a piada se repete, só que em forma de tragédia.
A expressão “ausência de líderes” parece vazia. Mas, francamente, olhe em torno e responda depressa: que líderes – aqui, no sentido de figuras públicas com ficha limpa e competência pra pilotar aquela cadeira do Palácio do Planalto – temos hoje à disposição? Isso mesmo, leitor: entendo seu silêncio. Pois o vazio é de tal ordem que já se fala na possibilidade de se ter de “inventar” um nome que segure o tchan até 2018.
Por isso me recuso a responder quando alguém me pergunta em quê vai dar tudo isso. E não há neste mundo quem me obrigue a responder. Sempre fui ruim de bola: nunca aprendi a chutar.
* Paulo José Cunha é professor, jornalista e escritor
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