Política

Investigadores usam diagrama para explicar atuação de suposta organização criminosa do PMDB da Câmara

Está no G1

O inquérito da Polícia Federal sobre o núcleo do PMDB da Câmara dos Deputados já está na Procuradoria Geral da República. A investigação apresenta detalhes da atuação do grupo – que é tratado como uma organização criminosa – e informações da delação premiada do doleiro Lúcio Funaro.

A investigação da Polícia Federal ganha ainda mais importância nesse momento, porque a Procuradoria Geral da República prepara uma nova denúncia contra o presidente Michel Temer.

A Polícia Federal disse no relatório que o grupo do PMDB da Câmara montou uma estrutura complexa para desviar dinheiro público. Os investigadores desenharam um diagrama para explicar como ela funcionava.

A Polícia Federal afirma que as figuras centrais do esquema são o presidente Michel Temer e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. Os investigadores dizem que, “enquanto Eduardo Cunha fazia a parte obscura das tratativas espúrias, negociatas, ameaças e chantagem política”, “o presidente Michel Temer, como liderança dentro do PMDB, tinha a função de conferir oficialidade aos atos que viabilizam as tratativas acertadas por Eduardo Cunha e os demais participantes, dando aparente legalidade e legitimidade em atos que interessam ao grupo.”

No entorno, estariam os chamados prepostos de Temer: os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, além dos ex-ministros Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves. De acordo com a PF, eles são utilizados por Temer para “executar ações sob seu controle e gerenciamento.”

Por fim, no que a polícia define como segundo escalão, estão o vice-governador de Minas Gerais e ex-ministro da Agricultura, Antônio Andrade, os ex-assessores de Temer na presidência da República Rodrigo Rocha Loures, Tadeu Filippelli, Sandro Mabel e José Yunes, além do ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal Fábio Cleto. Em destaque como operador financeiro do esquema, a Polícia Federal coloca Lúcio Funaro.

Os investigadores afirmam que estes integrantes do esquema “atuam como longa manus, executores de ordens, dos integrantes que compõem o núcleo político/gerencial, orbitando e executando as decisões tomadas pelo primeiro escalão.

A polícia destaca que vários integrantes do grupo são “amigos de longa data” e “subordinados há diversos anos” do presidente Michel Temer, sendo o presidente “justamente o ponto comum entre essas pessoas.”

Os investigadores ligam o nome de Temer a um montante que chega a R$ 31,5 milhões: R$ 30 milhões da Odebrecht; R$ 1 milhão do grupo J&F e aqueles R$ 500 mil da mala entregue ao ex-assessor Rodrigo Rocha Loures em uma pizzaria em São Paulo durante ação controlada da PF.

A Polícia Federal também cita repasses feitos a “pedido” de Michel Temer, como R$ 5,4 milhões para campanha de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo.

O relatório afirma que os integrantes do grupo cometeram crimes como receber propinas para direcionar concessões de aeroportos, liberar operações de crédito na Caixa Econômica Federal, conseguir atos administrativos no Ministério da Agricultura e incluir emendas em medidas provisórias. Em resumo, o grupo teria cometidos diversas vezes os crimes de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, fraudes em licitações e evasão de divisas, entre outros.

O relatório da Polícia Federal também traz depoimentos do doleiro Lúcio Funaro, operador financeiro do grupo. Ao explicar a atuação do grupo, ele relata benefícios ao presidente Michel Temer. Segundo Funaro, Temer solicitou dinheiro para campanhas, incluindo a dele próprio, vindo de comissões pagas por operações ligadas ao fundo de investimentos de FGTS. O delator também diz que o presidente atuou para defender os interesses de grupos privados aliados durante a tramitação da chamada medida provisória dos portos e conta ter sido informado pelo ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de que o presidente Michel Temer sabia das propinas pagas envolvendo contratos de plataformas da Petrobras.

Lúcio Funaro diz também que encontrou pessoalmente com Temer em três oportunidades: uma na base aérea em São Paulo, onde também estava o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha; outra em 2012, durante um comício para as eleições municipais de Uberaba, em Minas Gerais – esse encontro, diz Funaro, inclui Cunha e o executivo da J&F Ricardo Saud; e o último encontro teria sido em São Paulo, em uma reunião de apoio à candidatura de Gabriel Chalita à Prefeitura.

O doleiro Lúcio Funaro também fala sobre o pacto de silêncio que fez com o empresário Joesley Batista. O compromisso era não fazer delação premiada em troca de dinheiro, que seria usado para amparar a família dele caso fosse preso. Funaro conta que dias depois de ser alvo de uma operação de busca da Polícia Federal, em dezembro de 2015, foi chamado a casa de Joesley e o empresário ofereceu a ele um contrato de R$ 100 milhões. Funaro aceitou e disse que só resolveu procurar o Ministério Público e se tornar um delator quando teve certeza de que Joesley tinha quebrado esse pacto de silêncio entre eles.

Funaro fala que, no dia em ofereceu o dinheiro, Joesley dizia para ele: “Vamos tocando juntos, vamos amarrar as pontas”, e que ele entendeu que deveriam combinar versões.

Segundo o depoimento, o estado de ânimo de Funaro era constantemente monitorado por Joesley e por integrantes do governo Temer, como Geddel Vieira Lima e Eliseu Padilha.

Funaro conta que enviava mensagens a Joesley para que ele ficasse seguro de que ele não delataria o grupo. Um desses recados foi enviado a Joesley dentro de uma caneta. Tudo para tranquilizar Joesley e o advogado do grupo quanto ao compromisso firmado com ele.

Funaro também disse no depoimento que, caso os pagamentos acertados fossem suspensos, ele iria “estourar” Joesley. Que o ânimo em delatar também aumentaria significativamente. Contudo, a opção de delação incriminaria não somente Joesley, mas também uma série de pessoas, entre elas Geddel Vieira Lima, Eduardo Cunha e Michel Temer.

Nessa época, os advogados de Funaro, que segundo ele eram ligados a integrantes do grupo do PMDB, como o ministro Eliseu Padilha, prometiam que ele iria ser solto logo. Mas um dia depois de uma audiência em que Funaro não conseguiu a liberdade, ele disse ao advogado: “Fala para o teu chefe, para o Padilha, que eu vou arrebentar com todo mundo”.

O que dizem os citados

O PMDB declarou que jamais teve qualquer operador e que as doações ditas ilegais foram registradas e aprovadas pelo TSE.

A defesa do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha negou todas as acusações e afirmou que vai prestar os devidos esclarecimentos oportunamente.

O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou que só vai se pronunciar quando e se houver acusação formal contra ele.

O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Moreira Franco, declarou que jamais participou de qualquer grupo para a prática de atos ilícitos, que repudia a suspeita e que vai responder quando tiver acesso ao inquérito.

O advogado de Geddel Vieira Lima declarou que o ex-ministro tem sofrido violações seguidas do direito de defesa dele e que, por isso, só vai prestar os esclarecimentos necessários em juízo.

A defesa de Henrique Eduardo Alves declarou que ele faz parte do PMDB há mais de 40 anos e não de uma organização criminosa e que a inocência dele vai ser provada ao longo do processo.

O advogado de Rodrigo Rocha Loures declarou que as instituições se contradizem, que estão atribuindo o mesmo fato da JBS ao caso da Rodrimar e que isso demonstra a falta de seriedade nas imputações do procurador-geral da República.

Sandro Mabel afirmou que não participou de nenhum ato ilícito e que as investigações vão comprovar a inocência dele.

A defesa de José Yunes afirmou que ele é advogado há mais de 50 anos, que jamais praticou qualquer irregularidade ou ato ilícito e que vai tomar as providências cabíveis na Justiça sobre qualquer inverdade.

A defesa de Lúcio Funaro declarou que todas as manifestações dele se darão oficialmente, quando forem solicitadas pelos órgãos competentes.

A Odebrecht afirmou que está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua, que já reconheceu seus erros e pediu desculpas públicas e que assinou acordos de leniência com as autoridades de seis nações.

A Caixa declarou que está em contato permanente com as autoridades, prestando colaboração irrestrita com as investigações.

A J&F Investimentos afirmou que os colaboradores apresentaram, dentro dos prazos legais, as informações e documentos que complementam os esclarecimentos prestados previamente à Procuradoria e que eles continuam à disposição para cooperar com a Justiça.

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, disse que, desde que assumiu o cargo, em maio de 2016, o ministério não sofreu qualquer influência política nas decisões que tomou e que, o que ocorreu antes da gestão de Blairo, deve ser investigado.

Gabriel Chalita afirmou que os recursos das campanhas em São Paulo vieram do PMDB nacional, que se responsabilizou pela arrecadação. Ele também declarou que deixou o partido há dois anos e que nunca teve relação com Lúcio Funaro.

O vice-governador de Minas Antonio Andrade afirmou que os fatos são absolutamente falsos e que isso será efetivamente demonstrado no âmbito do inquérito.

O Jornal Nacional não conseguiu contato com as defesas de Tadeu Filippelli, Fabio Cleto e Joesley Batista.

Foto: Reprodução/TV Globo

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