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Marcelo pediu a executivos da Odebrecht ‘segurada geral’ nas propinas no ano de estreia da Lava Jato

Está no G1

Preocupado com os imprevisíveis desdobramentos da Operação Lava Jato, o empresário Marcelo Odebrecht solicitou aos executivos do Grupo Odebrecht, no ano em que tiveram início as investigações do esquema de corrupção que agia na Petrobras, uma “segurada geral” nos pagamentos de propinas por, pelo menos, dois meses.

Mensagem enviada em 5 de novembro de 2014 por Marcelo Odebrecht relatando ao ex-coordenador do Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht Hilberto Mascarenhas da Silva Filho o pedido feito aos dirigentes da empreiteira foi entregue à Procuradoria Geral da República (PGR).

Mascarenhas comandou, por mais de oito anos, o setor criado dentro da Odebrecht, no final de 2006, para controlar, contabilizar e efetuar os pagamentos de subornos. O ex-chefe do chamado “departamento de propinas” é um dos 78 executivos e ex-dirigentes da empreiteira que fecharam acordo de delação premiada com o Ministério Público em troca da redução de uma eventual pena.

O e-mail no qual Marcelo Odebrecht conta a Mascarenhas que havia determinado aos executivos da empresa um freio nas solicitações para o Departamento de Operações Estruturadas repassar propinas foi enviado às 10h08 de 5 de novembro de 2014. Na mensagem, o empresário afirma ao subordinado que pediu uma redução das propinas, pelo menos, até janeiro de 2015.

Ele também destaca no texto que, durante este período, o departamento coordenado por Mascarenhas poderia se dedicar a auditar os pagamentos.

“Já orientei os LEs [líderes empresariais] que usam mais o OP. Estrut. [operações estruturadas] para dar uma segurada geral até janeiro. Até para a equipe HS [Hilberto Silva] poder se concentrar em revisitar passadas e atuais estruturas”, escreveu Marcelo Odebrecht no e-mail.

Três horas depois, Hilberto Mascarenhas respondeu ao chefe, relatando que havia se informado junto ao então tesoureiro do departamento, Fernando Migliaccio, sobre eventuais novos pedidos dos executivos do grupo.

No e-mail, o chefe do setor de propinas ressalta ao presidente da empresa que estava fazendo um “trabalho intenso” com os executivos que tinham autorização para determinar o pagamento de propinas para que eles não assumissem “novos compromissos”.

Ele destacou ainda que, naquela ocasião, estava se esforçando para quitar as propinas pendentes. Segundo ele afirma na mensagem, no início de novembro, havia um passivo de cerca de R$ 50 milhões a serem pagos até o final de 2014.

Ao Ministério Público, Hilberto Mascarenhas explicou que a decisão de Marcelo Odebrecht de reduzir o volume de propinas se deu naquele momento por conta da deflagração, oito meses antes, da Operação Lava Jato.

A força-tarefa da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF) vinha avançando, rapidamente, na apuração das irregularidades cometidas na estatal do petróleo desde que o ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa fechou acordo de delação premiada, em setembro de 2014.

US$ 3, 3 bilhões em propinas

O setor destinado ao pagamento de propinas da Odebrecht movimentou cerca de US$ 3,370 bilhões (R$ 10,6 bilhões) entre 2006 e 2014. O número consta de uma tabela entregue à PGR por Hilberto Mascarenhas, que realizava o controle de vantagens indevidas pagas a políticos.

Em depoimento aos investigadores da Operação Lava Jato, ele contou que chegou a alertar o presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, para o volume do dinheiro, que alcançou, tanto em 2012 quanto em 2013, US$ 730 milhões (R$ 2,2 bilhões, na cotação atual).

Forma dos pagamentos

O responsável pelo departamento de propina da Odebrecht explicou aos procuradores da República que os pagamentos para brasileiros ou estrangeiros de vários países onde a empreiteira tinha obras era quase todo feito via offshores, empresas que são criadas em paraísos fiscais apenas pra essas operações financeiras.

Outra parte, menor, era feita em espécie, com a entrega de pacotes ou malas de dinheiro em locais combinados entre funcionários da empresa e intermediários dos políticos. Com o crescimento do volume de pagamentos, foi preciso contratar um funcionário só para administrar os valores, relatou Mascarenhas.

Ele ainda explicou que, por ordem de Marcelo Odebrecht, as propinas só podiam ser pagas naquelas obras cujos pagamentos já haviam sido efetuados para a empreiteira.

Foto reproduzida da internet

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