Economia, Política

Não fui nem fiz questão de ir, mas como jornalista sou obrigado a registrar o lançamento do Brasil 200 em Natal

O empresário Flávio Rocha dono das Confecções Guararapes, das Lojas Riachuelo e do Teatro que leva o mesmo nome na capital do Rio Grande do Norte, lançou em Natal o manifesto “Brasil 200 anos”,  referência à proclamação da Independência que completa dois séculos em 2022. No documento, Rocha defende o capitalismo, critica os governos do PT e reafirma a defesa dos valores liberais conservadores à direita do espectro político. Ele já havia lançado este mesmo manifesto recentemente em Nova York para um grupo de empresários. A nata do empresariado potiguar, que defende o seu nome para Presidente da República, compareceu ao evento no dia de ontem.

Críticas ao governador do estado, Robinson Faria e, claro, ao PT foram a tônica do evento por parte do empresariado. Pergunto: quem apóia Flávio Rocha pode fazer críticas ao governador Robinson Faria? Flávio Rocha foi deputado federal e nunca fez nada pelo Rio Grande do Norte. Flávio Rocha pode propor o estado mínimo, se o seu grupo empresarial se beneficiou e se beneficia de dinheiro público? Rocha pode criticar o PT, se nos 13 anos dos governos petistas suas empresas cresceram?

Vejamos, caro leitor: A Agência Saiba Mais publicou reportagem em janeiro detalhando os ganhos das empresas de Flávio Rocha. Segundo a publicação, o que o empresário potiguar não conta no manifesto é que a família dele sempre recorreu ao Estado para ajudar a alavancar as empresas do grupo Guararapes Confecções S.A. De 2009 a 2016, Flávio Rocha conseguiu aprovar financiamentos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em nome da Guararapes e das lojas Riachuelo no valor de cerca de R$ 1,4 bilhão. Os dados são públicos e estão disponíveis para consulta no portal do órgão federal. Em junho de 2015, a revista Exame publicou reportagem apontando que o BNDES havia adotado uma política silenciosa de apoiar empresas brasileiras bilionárias, dentre os quais se destacavam a Rede Globo, JBS, Votorantim, BRF, Riachuelo, Natura e Boticário. Os financiamentos eram pagos a juros abaixo do mercado.

Em 14 operações diretas e indiretas não automáticas, o grupo Guararapes Confecções aprovou em 2010, 2011, 2012 e 2013 uma soma de R$ 60,6 milhões. Os recursos foram utilizados em construção de novas unidades e expansão de lojas no Rio Grande do Norte, Ceará e em obras interestaduais.

Já as lojas Riachuelo conseguiram, por meio de 11 operações indiretas, aprovar em 2011, 2013 e 2014 um financiamento de R$ 59.031.978,58 para investimentos em lojas de São Paulo e no Rio Grande do Norte.

O financiamento mais robusto também foi autorizado em benefício das lojas Riachuelo. Em 27 operações diretas e indiretas automáticas, em 2009, 2010, 2011, 2012, 2013 e 2016 o grupo conseguiu aprovar R$ 1,27 bilhão.

No Rio Grande do Norte, desde a década de 1950 a Guararapes faz uso da política de isenção fiscal do Estado. Em 1978, a revista Exame premiou a Guararapes Confecções S.A. como a empresa do ano. A imprensa local deu ampla cobertura para o feito do grupo que, àquela altura, tinha lojas espalhadas em Natal, São Paulo, Fortaleza e Mossoró. Ao todo, a empresa gerava 7 mil empregos diretos nas fábricas e também nas 300 lojas do Brasil.

Para comemorar a premiação nacional, reportagem publicada pela revista potiguar RN Econômico, em outubro de 1978, contou a história da empresa e revelou uma curiosidade: o primeiro ano em que o grupo Guararapes recebeu incentivo fiscal do governo do estado foi em 1959. Segundo o jornalista que escreveu a matéria, o benefício também não foi nada mal: dez anos consecutivos sem pagar imposto algum para o estado. Mais uma demonstração de que o Estado mínimo defendido por Flávio Rocha nem sempre foi tão mínimo na hora de estender a mão para o grupo.

Foto reproduzida da Internet

 

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