Artigo

Cerveró: montanha pariu bode expiatório manso

De Josias de Souza em seu blog

A montanha de mágoas que a oposição supunha existir na alma de Nestor Cerveró pariu um bode expiatório manso. Ex-diretor Internacional da Petrobras em 2006, ano em que a estatal comprou a refinaria de Pasadena, Cerveró foi à Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara munido de dois objetivos: 1) não entrar em bola dividida com Dilma Rousseff. 2) não se autoencrencar. Atingiu 100% de suas metas.

Para não desautorizar Dilma, Cerveró chegou ao ponto de desmoralizar seu próprio advogado, Edson Ribeiro. Em 2 de abril, falando em nome do seu cliente, Ribeiro dissera que os conselheiros da Petrobras, entre eles Dilma, haviam recebido com 15 dias de antecedência o contrato de aquisição da refinaria. “Tiveram tempo hábil para examinar o contrato. Se não o fizeram, foram no mínimo levianos ou praticaram gestão temerária”, disse. “Cerveró não vai aceitar ser bode expiatório.”

Nesta terça, confrontado com a frase, Cerveró desautorizou o doutor com 14 dias de atraso. “Meu advogado, respondendo a um questionamento de não sei quem, deu uma informação baseada em informações gerais.” Heimm?!? “Houve precipitação”. Hã? “Ele se permitiu concluir que havia esse prazo”. Ah, bom!

Dilma embrulhara Cerveró em maus lençóis ao atribuir a ele todas as culpas pelo mau negócio do Texas. Em nota oficial, a presidente alegara que havia avalizado a compra da refinaria fiando-se num relatório de Cerveró. Um documento que, mais tarde, se revelaria “técnica e juridicamente falho”. Omitia duas cláusulas ditas essenciais. Nessa versão, Dilma jamais teria aprovado a transação se conhecesse o par de cláusulas.

Medindo as palavras na escala dos milímetros, Cerveró disse: 1) as cláusulas mencionadas por Dilma não eram tão importantes nem eram lesivas à Petrobras. 2) a compra da refinaria “não foi um negócio malfadado“. Ao contrário. Só deu prejuízo porque o pré-sal impôs prioridades novas à Petrobras, que teve de rever investimentos que faria em Pasadena. 3) não tomou decisões solitárias. Tudo foi aprovado pela diretoria e pelo conselho da Petrobras.

Terminada a inquirição, que durou mais de cinco horas, Cerveró deixara os oposicionistas decepcionados e os governistas agradecidos. Deputados do PT, o partido da presidente que o desqualificara, enalteciam o ex-diretor. Deputados rivais do Planalto o espetavam: “Na CPI, senhor Cerveró, será muito mais duro”, disse o presidente do PPS, Roberto Freire (SP). “Não seja bode expiatório”.

Os operadores políticos de Dilma respiraram aliviados. Concluíram que Cerveró não contestou o enredo construído pela presidente da República. Portanto, não impôs a ela nenhum problema novo além das dúvidas já assentadas nas manchetes. Do ponto de vista estritamente pessoal, Cerveró preparou o terreno para eventuais defesas que tenha de sustentar em órgãos de controle como o TCU ou no Ministério Público.

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