Editorial

Por que a classe média tem tanto medo do Lula?

A pergunta acima se faz necessária porquanto a classe média brasileira está sendo usada pela elite e pelas oligarquias políticas. O sociólogo Jessé Souza, que agora em agosto lançou seu novo livro, A Elite do Atraso – da Escravidão à Lava Jato tem razão em afirmar quea classe média é feita de imbecil pela elite”. A sua mais recente obra compõe uma trilogia, ao lado de A Tolice da Inteligência Brasileira, de 2015, e de A Ralé Brasileira, de 2009, um esforço de repensar a formação do país.

Não é de agora que a classe média, dita pensante, é massa de manobra da elite e das oligarquias. Quem tem mais de 50 anos deve lembrar da famosa “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, nome comum de uma série de manifestações públicas ocorridas entre 19 de março e 8 de junho de 1964 no Brasil, iniciadas em São Paulo, berço do capitalismo brasileiro, em resposta a ameaça “comunista”. Isso em função do discurso em comício realizado pelo então presidente João Goulart em 13 de março daquele mesmo ano na Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Na data, Goulart assinou dois decretos, permitindo a desapropriação de terras numa faixa de dez quilômetros às margens de rodovias, ferrovias e barragens e transferindo para a União o controle de cinco refinarias de petróleo que operavam no país. Além disso, prometeu realizar as chamadas reformas de base, uma série de mudanças administrativas, agrárias, financeiras e tributárias, garantindo o que chamava de justiça social.

Agora, o medo se repete, isso após o PT ter governado o país durante 13 anos sem virar uma “ditadura comunista”. Ao contrário, houve avanços sociais, certamente aí esteja a razão da elite e as oligarquias políticas brasileiras não aceitarem mais um governo de esquerda e aí fazer a classe média de imbecil, como bem disse o sociólogo Jessé Souza. Agora eles dizem que o PT vai transformar o Brasil numa “República Bolivariana”, caso Lula seja eleito novamente presidente da República. Aliás, a palavra da moda no Brasil é usada por muita gente que não faz ideia de seu significado. Entenda o que é bolivarianismo e por que ele nada tem a ver com “ditadura comunista”.

Após ser apropriado pelo ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, o termo originado do sobrenome do libertador Simón Bolívar aterrissou no debate político brasileiro. São frequentes as acusações de políticos de oposição e da mídia contra o PT. “Lula e Dilma querem “transformar o Brasil em uma Venezuela”, dizem. Mas o que é o tal bolivarianismo de que tanto falam? Bolivarismo é sinônimo de ditadura comunista? Antes de sair por aí repetindo definições equivocadas, veja as explicações abaixo.

O termo provém do nome do general venezuelano do século 19 Simón Bolívar, que liderou os movimentos de independência da Venezuela, da Colômbia, do Equador, do Peru e da Bolívia. Convencionou-se, no entanto, chamar de bolivarianos os governos de esquerda na América Latina que questionam o neoliberalismo e o Consenso de Washington (doutrina macroeconômica ditada por economistas do FMI e do Banco Mundial).

Mesmo considerando a interpretação que Chávez deu ao termo, o que convencionou-se chamar bolivarianismo está muito longe de ser uma ditadura comunista. As realidades de países que se dizem bolivarianos, como Venezuela, Bolívia e Equador, são bem diferentes da Rússia sob o comando de Stalin ou mesmo da Romênia sob o regime de Nicolau Ceausescu. Neles, os meios de produção estavam nas mãos do Estado, não havia liberdade política ou pluralidade partidária e era inaceitável pensar diferentemente da ideologia dominante do governo. Aqueles que o faziam eram punidos ou exilados, como os que eram enviados para o gulag soviético, campo de trabalho forçado símbolo da repressão ditatorial da Rússia. No Brasil, por exemplo, há total liberdade de expressão, de imprensa e de oposição, seja em qualquer governo, e nos governos petistas não foi diferente, ao contrário do que muitos apregoam.

Muitos incautos dirão: mas Lula quer regular a mídia se ganhar de novo à Presidência da República. Sim, direi, mas do ponto de vista econômico e não da liberdade de expressão. O que tem que acabar são as concessões desenfreadas de emissoras de rádio e de televisão, sobretudo, a políticos que usam a mídia em benefício próprio. Como bem disse a ex-presidenta Dilma Ruosseff em evento recente em Natal, “é preciso regular a mídia do ponto de vista econômico, outra coisa diferente é tentar mexer no conteúdo, na liberdade de expressão. Não é isso que estamos propondo”.

Mas a “classe média pensante” ludibriada pela elite e as oligarquias acham que Bolsonaros e Dórias da vida são salvadores da pátria. Enganam-se redondamente. Está aí o presidente golpista patrocinado pelo “Pato Amarelo” querendo lotear o país de forma escancarada com apoio dos grupos oligárquicos.

Esquece essa mesma classe média que seus filhos e netos um dia vão querer fazer concurso público para ter uma garantia de emprego. Sim, porque com a reforma trabalhista que os neo-liberais como o deputado tucano Rogério Marinho (PSDB-RN) defende, garantia de emprego será difícil, ainda mais com estatais sendo privatizadas, caso agora da Eletrobras e já se fala na Patrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica, Banco do Nordeste e por aí vai.

Ou você, caro leitor, acha que Jair Bolsonaro, Geraldo Alckmin, Aécio Neves, Rodrigo Maia e outros menos votados são diferentes? Todos desta lista pensam iguais, não tenho dúvidas. Aí eu pergunto: algum deles pensará no social acaso venham a concorrer à Presidência da República e vençam? Algum deles vai deixar o projeto de privatização de lado acabando com os concursos públicos para seus filhos e netos? Ledo engano. O único capaz de parar este retrocesso chama-se Luiz Inácio Lula da Silva. O resto, bem, o resto é conversa pra boi dormir e ludibriar a classe média com o chavão de que se Lula for eleito vai implantar aqui a “República Bolivariana”.

A conferir!

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