Editorial

Tenho vergonha de ser brasileiro!

Há exatamente um ano o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a prisão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), do senador Romero Jucá (PMDB-RR) e do ex-presidente da República, José Sarney. No caso de Sarney, por ser idoso, ele seria monitorado por tornozeleira eletrônica. Também foi pedida por Janot a prisão do presidente afastado da Câmara, na época, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

O procurador-geral pediu a prisão dos quatro por suspeita de eles estarem obstruindo as investigações da Operação Lava Jato. Os pedidos de prisão foram encaminhados ao ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, morto misteriosamente em acidente de avião. Zavascki era o relator da Lava Jato

No caso de Cunha, o Ministério Público alegou, na época, que a decisão de Teori, em maio, de afastá-lo da presidência da Câmara e do mandato, não  surtiu efeito e o deputado continuou interferindo no comando da Casa. Janot pediu também o afastamento de Renan da presidência do Senado, a exemplo do afastamento de Cunha.

Em maior deste ano, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, recorreu da decisão do ministro Edson Fachin, que substituiu Teori Zavascki na relatoria da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, que negou a prisão preventiva do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Janot pediu que o ministro reconsiderasse a decisão ou levasse com urgência o caso para o plenário, com intuito de que os 11 ministros da Corte analisassem a possibilidade de prisão do parlamentar. Aécio Neves chegou a ser afastado do mandato por Fachin, quando foi deflagrada a Operação Patmos, com base nas delações da JBS.

Segundo Janot, a prisão preventiva era “imprescindível” para garantia da ordem pública e instrução criminal, diante de fatos gravíssimos que teriam sido cometidos pelo parlamentar. Aécio foi gravado por Joesley Batista em negociação de pagamento de propina pelo empresário.

O procurador-geral da República argumentou no recurso encaminhado ao Supremo que as gravações ambientais e interceptações telefônicas demonstraramm que Aécio  “vinha adotando, constante e reiteradamente, estratégias de obstrução de investigações da Operação Lava Jato”.

Esta semana surgiram três fatos relevantes que leva a crê que o intento de barrar a continuidade da Lava Jato está em curso: primeiro a negativa do ministro Marco Aurélio, do STF, ao pedido de prisão de Aécio Neves e a determinação do retorno do tucano ao Senado. O senador estava afastado do cargo desde o dia 18 de maio, por decisão do ministro Edson Fachin.

No despacho Marco Aurélio não se conteve no entusiasmo pelo tucano:

“O agravante [Aécio] é brasileiro nato, chefe de família, com carreira política elogiável – deputado federal por quatro vezes, ex-presidente da Câmara dos Deputados, governador de Minas Gerais em dois mandatos consecutivos, o segundo colocado nas eleições à Presidência da República de 2014 – ditas fraudadas –, com 34.897.211 votos em primeiro turno e 51.041.155 no segundo, e hoje continua sendo, em que pese a liminar implementada, senador da República, encontrando-se licenciado da Presidência de um dos maiores partidos, o Partido da Social Democracia Brasileira.”

Há de se dizer que no Supremo existem dois pesos e duas medidas:

“Não tenho prova cabal contra Dirceu, mas vou condená-lo porque a literatura jurídica me permite”, ministra Rosa Weber ao julgar o ex-ministro José Dirceu no caso do “Mensalão”.

“Aécio tem uma carreira pública elogiável, um homem honesto”, Marco Aurélio Mello, ao negar a prisão do senador Aécio Neves solicitada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no caso da “Lava jato”.

O segundo fato que chama a atenção é que, mesmo com várias denúncias contra Aécio Neves, o Conselho de Ética do Senado decidiu, por 11 votos a favor e 4 contra, arquivar definitivamente o pedido de cassação do senador  tucano apresentado pela Rede e pelo Psol.

E o terceiro fato, que me faz ter vergonha de ser brasileiro é que a Polícia Federal encerrou o grupo de trabalho exclusivo da Operação Lava Jato em Curitiba. Agora, a equipe fará parte da Delegacia de Combate à Corrupção e Desvio de Verbas Públicas (Delecor). A medida também será adotada para a Operação Carne Fraca.

Rio pra não chorar!

 

 

 

 

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