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Por mais que tente, Jair Bolsonaro (PL) não consegue fugir da realidade já comprovada: durante sua gestão, houve o surgimento e a implantação de um esquema criminoso que promoveu descontos ilegais em aposentadorias e pensões pagas pelo INSS. Essa informação, longe de ser novidade, está sustentada por investigações profundas conduzidas pela Controladoria-Geral da União (CGU), Polícia Federal e pelo próprio Instituto Nacional do Seguro Social.
Apesar das evidências, Bolsonaro mantém sua linha de discurso desgastado, repetindo a famosa ladainha da “corrupção zero” no seu governo, um mantra que esbarra em inúmeros escândalos envolvendo figuras de alto escalão da sua administração. Quatro dessas autoridades, que ocuparam cargos estratégicos, já foram diretamente ligadas aos desvios descobertos [1] no INSS, isso para não falar de um assessor de gabinete do deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), hoje presidente da Câmara [2], diretamente envolvido em descontos de R$ 484 milhões.
Só que agora ele admitiu ser “possível” que gente de seu governo tenha participado e promovido do saque ao dinheiro de aposentados e pensionistas. A declaração foi dada numa entrevista ao Uol [3].
“É possível [que fraudes tenham ocorrido em seu governo] E vai investigar. Se por ventura alguém do meu governo fez algo de errado, pague, ponto final”, disse ele.
Bolsonaro, o político da culpa alheia: “a culpa é do Lula”
Em meio à pressão para esclarecer os fatos e responsabilizar os envolvidos, Bolsonaro adotou um comportamento caricatural ao tentar transferir a culpa integralmente para o governo Lula, ignorando que os descontos indevidos começaram no seu mandato e que muitos dos suspeitos pertenciam ao seu núcleo de poder.
Na mesma entrevista ao Uol, publicada nesta quarta (14), ele declarou que a investigação deve seguir seu curso e que “se alguém do meu governo fez algo errado, pague, ponto final”, mas não hesita em apontar que o problema “explodiu” durante a atual administração. Essa postura é vista por críticos como uma tentativa de negar responsabilidades, mesmo diante das evidências concretas contra sua gestão.
“Nós da direita assinamos [a CPMI]… PT, PSOL, PDT, ninguém assinou a CPMI. Vamos investigar. Não tem como falar corrupção zero. Pode até buscar, como zero absoluto, [mas] não tem como chegar lá. Agora, explodiu [o número de casos] no governo Lula”, disparou como sempre, em seu melhor estilo “e o Lula, hein?”.
Descontos ilegais: o que dizem as investigações e como o esquema funcionava
O golpe contra os aposentados e pensionistas consiste em adesões fraudulentas a associações e sindicatos, que repassavam descontos indevidos diretamente da folha de pagamento dos beneficiários para seus cofres. Esses descontos, muitas vezes imperceptíveis para os afetados, foram facilitados por limitações no acesso ao extrato de pagamentos do INSS e pela mistura desses descontos com outros abatimentos comuns, como empréstimos consignados e Imposto de Renda.
Os levantamentos apontam que esse esquema começou a ganhar força em 2019, já nos primeiros meses do governo Bolsonaro, mas a origem estaria ainda na gestão de Michel Temer (MDB), a partir de 2017. Entre 2019 e 2024, o volume total descontado dos benefícios chega a R$ 6,3 bilhões, ainda que uma parte significativa desse montante seja objeto de apuração para identificar a ilegalidade.
Em tempo: confira editorial do Blog que fala sobre o assunto clicando aqui [4]
Foto reproduzida da Internet