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Basta juntar os pontos para concluir que Bolsonaro fugiria para a embaixada dos Estados Unidos

por Leonardo Attuch, no Brasil 247

Há episódios políticos que exigem grandes elaborações analíticas. O caso da prisão de Jair Bolsonaro, no entanto, não é um deles. A sequência de fatos envolvendo o ex-presidente nas últimas 48 horas é tão óbvia e tão ululante, como diria Nelson Rodrigues, que praticamente se torna autoexplicativa. Basta juntar os pontos.

No dia de ontem, Donald Trump revelou a jornalistas que cobrem a Casa Branca que havia conversado com Bolsonaro [1] na véspera e que os dois se encontrariam “em breve”. Horas depois da conversa com Trump, já no fim da tarde de sexta, Bolsonaro decidiu queimar sua tornozeleira eletrônica com um ferro de solda [2] – “por curiosidade”, segundo ele.

O relatório da Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal descreve queimaduras por toda a circunferência do equipamento. À 00h07 de sábado, o sistema acusou violação. Enquanto do lado de fora da casa planejava-se a vigília convocada por Flávio Bolsonaro, do lado de dentro a tornozeleira estava sendo rompida. 

Por isso mesmo, o ministro Alexandre de Moraes, ao retirar o sigilo do material, foi direto: havia risco concreto de fuga [3]. O condomínio onde Bolsonaro cumpria prisão domiciliar fica a cerca de 13 quilômetros da embaixada dos Estados Unidos. Quinze minutos de carro, talvez menos com a escolta improvisada dos apoiadores. Não é necessário grande esforço para imaginar o destino.

Felizmente, a Polícia Federal chegou antes. Por volta das seis da manhã, cumpriu o mandado de prisão preventiva. A tornozeleira foi substituída por outra, desta vez sem ferro de soldar por perto.

E então veio o último ato. No mesmo fim de semana em que Bolsonaro foi preso tentando violar o equipamento que o mantinha sob vigilância, a embaixada dos Estados Unidos publicou uma nota atacando diretamente Alexandre de Moraes [4] e afirmando que o STF produz “vergonha e descrédito internacional”. Era a manifestação que faltava para completar a cronologia: primeiro o telefonema entre Trump e Bolsonaro, depois a tentativa de destruição da tornozeleira para a fuga, e enfim a embaixada protestando – praticamente como quem passa recibo. Basta seguir a ordem dos acontecimentos. A história está inteira, evidente, alinhada no tempo.

Às vezes, a política produz enigmas complexos. Desta vez, no entanto, Bolsonaro, com a ajuda de Trump, fez questão de deixar tudo simples demais. Basta juntar os pontos.

* Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247

Foto reproduzida da Internet


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