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O Congresso dos Estados Unidos [1] aprovou na terça-feira (18) um projeto de lei que determina a divulgação de todos os arquivos de investigação sobre o bilionário Jeffrey Epstein.
Contexto: Epstein foi acusado de abusar de mais de 250 meninas menores de idade e de operar uma rede de exploração sexual nos anos 2000. O caso voltou a ganhar destaque neste ano com o vai e vem do presidente Donald Trump [2] sobre a liberação dos arquivos.
- Na semana passada, o Congresso dos EUA publicou mensagens que sugerem que Trump tinha conhecimento da conduta de Epstein.
- Em um e-mail de 2018, o bilionário escreveu que o atual presidente “passou horas” em sua casa com uma das vítimas.
- Epstein era conhecido por sua ampla rede de contatos com políticos, celebridades e executivos. Ele e Trump foram amigos entre a década de 1990 e o início dos anos 2000.
- O bilionário foi preso em julho de 2019 e, segundo as autoridades, tirou a própria vida um mês depois, dentro da cela.
Na terça-feira, Câmara e Senado aprovaram rapidamente [3] — e quase por unanimidade — o projeto que obriga o governo a liberar todos os arquivos da investigação. O movimento foi visto como uma derrota política para Trump. Entenda mais abaixo.
Pelo texto, todos os documentos da investigação, incluindo informações sobre a morte de Epstein na prisão, deverão ser divulgados em até 30 dias após a sanção presidencial.
A lei permite que o Departamento de Justiça oculte informações pessoais das vítimas ou dados de investigações ainda em curso. Por outro lado, proíbe censuras com base em “constrangimento, dano à reputação ou sensibilidade política”.
A expectativa é que Trump sancione a lei assim que o texto chegar à Casa Branca. Isso pode acontecer ainda nesta quarta-feira (19).
Derrota política
Durante a campanha de 2024, Trump prometeu várias vezes que, se voltasse à Casa Branca, tornaria públicos arquivos secretos sobre o caso. Em uma entrevista, ele chegou a dizer ser “muito estranho” que a lista de clientes de Epstein nunca tivesse sido divulgada.
Em fevereiro deste ano, o governo liberou uma série de arquivos sobre o caso [4]. A procuradora-geral de Trump, Pam Bondi, chegou a afirmar que uma lista de clientes estava “em sua mesa para ser revisada”.
- Depois, no entanto, o Departamento de Justiça disse não ter encontrado provas da existência dessa relação.
- A declaração frustrou apoiadores de Trump, muitos dos quais espalham teorias da conspiração sobre o caso — algumas impulsionadas pelo próprio presidente.
- Desde então, ele passou a minimizar o tema e chegou a chamar de “idiota” [5] quem ainda se importava com o assunto.
A postura de Trump aumentou a pressão política da oposição e até de membros do próprio partido do presidente para que todos os documentos fossem divulgados.
Nos últimos meses, Trump passou a chamar o movimento de “farsa” criada pela oposição para desviar a atenção de temas como o orçamento federal.
- A Casa Branca e lideranças republicanas tentaram evitar que o projeto atingisse o número mínimo de assinaturas necessário para ser pautado na Câmara, mas não conseguiram [6].
- O texto alcançou o mínimo exigido em 12 de novembro, com apoio inclusive de deputados republicanos.
Três dias depois, Trump mudou de posição e passou a defender a aprovação da proposta [7], dizendo que os republicanos “não tinham nada a esconder”.
Presidente citado em e-mails
No dia 12 de novembro, o Congresso dos EUA divulgou mais de 20 mil páginas [8] de arquivos sobre a investigação de Jeffrey Epstein. Boa parte dos documentos contém e-mails que o bilionário trocou com parentes e amigos.
Em uma das mensagens, de janeiro de 2019, Epstein escreveu que Trump “sabia sobre as garotas”. No mesmo texto, aparecem o nome de uma vítima — que foi censurado — e uma menção a Mar-a-Lago, o resort do presidente na Flórida.
Em outro e-mail, de 2011, Epstein escreveu a Ghislaine Maxwell, sua parceira e confidente, sobre Trump.
“Quero que você perceba que o cachorro que não latiu é Trump”, afirmou. Em seguida, acrescentou que uma das vítimas “passou horas na minha casa com ele… e ele nunca foi mencionado uma única vez”.
Outro arquivo mostra Epstein refletindo sobre como deveria responder a perguntas da imprensa sobre sua relação com Trump, que à época começava a ganhar destaque como figura política nacional.
Para deputados democratas, as mensagens levantam novas dúvidas sobre a relação entre o presidente e o bilionário. Já o jornal The New York Times afirmou que Trump pode ter mais conhecimento da conduta de Epstein do que admitiu publicamente.
Trump, por sua vez, disse que a polêmica envolvendo os e-mails é uma “armadilha” criada pela oposição. A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que os arquivos mostram que o presidente “não fez nada de errado” [9].
Foto: gettyimages