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Um empresário afirmou em depoimento à Polícia Civil [1] do Distrito Federal, em junho de 2021, que ouviu do presidente de uma entidade suspeita de fraudar aposentadorias que esse dirigente tinha “domínio sobre diretores do INSS [2]“, aos quais pagaria propina.
O empresário Bruno Deitos contou que sua empresa, Premier, havia sido subcontratada por outra, a Target, que tinha contrato com a Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais do Brasil (Conafer) para atualizar cadastros de associados.
Esses cadastros seriam fraudados para justificar descontos em pagamentos do INSS [3] sem autorização dos aposentados e pensionistas (veja detalhes abaixo).
“O presidente da Conafer, Carlos [Roberto Lopes], comentou em uma reunião da qual o declarante [Deitos] participou […] que tinha domínio sobre os diretores do INSS, mas não especificou quais diretores seriam. Que o domínio que o presidente da Conafer mencionou seria repasse de vantagens financeiras para tais diretores, a fim de alterar dados do sistema do INSS, bem como fornecer informações relativas a aposentados e pensionistas”, afirmou o empresário.
A Conafer foi a entidade que mais aumentou o volume de descontos [4] de aposentados e pensionistas entre 2019 e 2024, em números absolutos.
Passou de R$ 400 mil por ano, em 2019, para R$ 57 milhões, em 2020, e chegou a R$ 202 milhões em 2023, segundo dados da Controladoria-Geral da União (CGU).
Fraudes em assinaturas
O empresário denunciante prestou dois depoimentos à Polícia Civil do DF, em 10 e 11 de junho de 2021.
Na primeira ocasião, Deitos contou como seria a adulteração das fichas com assinaturas dos aposentados, para justificar os pagamentos supostamente indevidos.
“A Conafer enviaria para a Premier a base de dados dos associados das regiões: DF, GO, BA, MG, MT, MS; de posse dessa listagem a Premier deveria recrutar promotores de pesquisa que iriam pessoalmente nos endereços fornecidos pela Conafer para colherem assinaturas dos associados em formulários de exclusão do desconto de mensalidade, associação, e relatório de ausência ou mudança de endereço”, disse.
“O próprio RANDEL [dono da empresa Target], certa vez, em uma das reuniões realizadas entre ele e o declarante, após prestar os serviços, falou que o que interessava era simplesmente o quadro de assinaturas, pois ele contrataria uma empresa especializada em alteração de documentos em PDF que transformaria os referidos formulários em formulários de adesão.”
O empresário disse no depoimento que coletou assinaturas de 28.700 associados, e que foi à polícia porque não recebeu todo o valor combinado pelo serviço — R$ 742,5 mil. Quando procurou a Conafer para reclamar, afirmou ter sofrido ameaças.
As informações obtidas pela Polícia Civil do DF foram repassadas à Polícia Federal [5] em 2021, quando a Justiça decidiu que o caso era de competência da PF.
No último dia 23 de abril, a PF deflagrou a Operação Sem Desconto [6]para apurar fraudes supostamente cometidas por várias entidades associativas e que podem ter chegado a R$ 6,3 bilhões em todo o país.
O que dizem os envolvidos
A Conafer informou em nota que “se colocou à disposição das autoridades para colaborar com as apurações e esclarecerá todos os fatos no ambiente do inquérito policial e dos demais trâmites das investigações”.
O g1 não conseguiu localizar o empresário denunciante nem o dono da empresa Target.
Foto: Previdência Social