O blog está fazendo cinco anos. Para comemorar o aniversário e como se trata de um ano eleitoral em que vamos escolher o novo prefeito de Natal, este espaço dedicou-se a entrevistar os principais candidatos à sucessão municipal. A primeira delas é com Carlos Eduardo Alves (PDT) e durante a semana os demais candidatos. Ficou estabelecido como critério para as entrevistas a ordem de colocação nas pesquisas eleitorais. A série de cinco perguntas são as mesmas para todos os candidatos.
blogdobarbosa – Se eleito, o que o Sr. pretende fazer, de imediato, se não para solucionar, mas pelo menos amenizar o caótico trânsito da cidade, levando-se em conta de que as grandes obras de mobilidade urbana só estarão prontas – e se estiverem – próximo a realização da Copa de 2014? O natalense clama por soluções e não arremedos.
Carlos Eduardo Alves – Como você mesmo disse, o natalense clama por soluções e não por arremedos. As soluções, no entanto, não serão atingidas de imediato. É preciso ser consciente de que Natal vive problemas no trânsito como todas as cidades brasileiras com o aumento na frota de veículos. Isso é visível para qualquer um e comprovado pelas estatísticas. No acumulado dos sete primeiros meses deste ano, houve uma alta de 3,01% em relação à igual período de 2011 no emplacamento de veículos devido à redução do IPI dada pelo governo federal. Em julho, foi registrado o maior número de emplacamento de automóveis desde 1957. As ruas não se proliferam na mesma velocidade.
Portanto, a solução para os problemas do trânsito são de médio e longo prazo e devem partir da premissa de que o poder público tem que incentivar o uso do transporte coletivo, dando melhores condições de tráfego para os veículos, mais conforto e rapidez nos deslocamentos. A nossa proposta é implantar os BRTs, solução aplicada pioneiramente em Curitiba e hoje sendo empregado também em várias outras cidades brasileiras e até da América Latina. São corredores específicos para ônibus com uma estrutura apropriada e estações de transferência que facilitem o embarque e desembarque de passageiros.
Também vamos usar a tecnologia a favor do trânsito, implantando uma central de monitoramento do trânsito que iniciamos na nossa gestão, mas não tivemos tempo de expandir. Outro problema sério, esse sim que pode ser atacado a curto e médio prazo, são os estacionamentos. Vamos oferecer incentivos fiscais para que a iniciativa privada implante estacionamentos e discutir com comerciantes a possibilidade de se adotar em Natal o estacionamento rotativo.
De curtíssimo prazo mesmo, o que iremos fazer é recuperar a malha viária dos principais corredores de tráfego, dando maior celeridade no trânsito e diminuindo o desgaste dos veículos com os inúmeros buracos existentes hoje na cidade.
blogdobarbosa – E quanto à saúde pública, que se encontra literalmente na UTI? Não quero saber de promessas, porque já foram prometidos mundos e fundos para solucionar o problema e nada. Quero saber como o Sr. pretende, sem alquimia, fazer com que o município ofereça serviços de saúde condizentes sem que o cidadão tenha que enfrentar filas, falta de médicos e de medicamentos nos postos de saúde, muitas vezes com equipamentos quebrados.
CAE – A saúde é o maior desafio de qualquer gestor. Nossa proposta é acabar com a terceirização da UPA e das Ames, que passarão a ser policlínicas com atendimento de diversas especialidades. Iremos implantar uma UPA em cada distrito da cidade e fazer concurso para preencher o quadro de pessoal e passar a administrá-las com recursos públicos. Também iremos construir um hospital municipal. Na nossa gestão, foi construída a primeira maternidade da Zona Norte e Natal ainda não tem um hospital municipal. Existe uma pactuação junto ao estado e governo federal para o repasse de recursos para a criação de uma rede de urgência e emergência. Esta pactuação inclui uma central metropolitana de regulação que evita que os leitos contratados para a população natalense sejam utilizados por moradores de outros municípios. Esta pactuação envolve também a abertura de um hospital municipal, que irá servir de referência para as UPAs e incluirá áreas muito frágeis para o município. Por exemplo, unidade coronariana, leitos de UTI, leitos para usuários de álcool e drogas e leitos pediátricos.
blogdobarbosa – O setor educacional é outro setor com graves problemas que vêm se arrastando há anos. Reformar escolas e comprar computadores não resolve o problema do ensino. É preciso valorizar o professor e, sobretudo, qualificá-lo. Prédios pintados e com computadores sem que os alunos tenham acesso são medidas pra inglês ver. Quero saber do Sr como pensa efetivamente e sem malabarismos, caso seja eleito, oferecer um ensino de qualidade aos alunos da rede pública municipal.
CAE – Atingir um ensino de qualidade é um processo contínuo e discordo quando você diz que construir prédios não ajuda a melhorar a qualidade. Quando fui prefeito, construímos 28 novas escolas e reformamos 42 e não tenho dúvidas de que toda a comunidade escolar sai ganhando quando tem melhores condições de trabalho.
Também não tenho dúvidas de que a distribuição do fardamento escolar, a construção de quadras esportivas cobertas, a distribuição de uma merenda escolar de qualidade fazem parte de um contexto que contribui para incentivar o aluno ao aprendizado. Por que os alunos da rede privada têm uniforme e os da rede pública não podem ter? Por que as escolas privadas têm estruturas físicas dignas e as da rede pública têm que ser sucateadas?
Concordo que é preciso valorizar o professor, tanto assim que implantamos o Plano de Cargos do Magistério, apresentamos uma lei que indexa o aumento salarial da categoria à inflação do ano anterior e também investimos na qualificação, como atesta o Centro de Referência Aluízio Alves, onde os professores do município passaram a ter acesso a cursos, oficinas, workshops e eventos para seu aperfeiçoamento. Vamos estabelecer parcerias entre a SME e Universidades para formação continuada do professor em cursos de pós-graduação.
Na nova gestão, temos como meta eliminar o déficit de vagas na rede pública, principalmente na educação infantil e isso implica em construção de novas unidades escolares. Também queremos retomar o programa Escola Aberta, que leva as famílias para dentro da escola nos finais de semana e feriados.
Os laboratórios de informática são fundamentais no ensino hoje em dia. Iniciamos esse trabalho e vamos dar prosseguimento, é claro, com o objetivo de que os alunos tenham acesso aos computadores e à internet.
blogdobarbosa – A pouca arborização da cidade do Natal é outro problema. A cada ano que passa se constrói mais espigões na cidade. Hoje existem 1.400 prédios em Natal. Estão previstos mais 400 projetos. Com isso a cidade fica cada dia mais quente. Uma das soluções seria um efetivo programa de plantações de mudas para que no futuro Natal ficasse bem arborizada como é hoje João Pessoa. Isso teria um custo mínimo aos cofres públicos, podendo até se adotar uma campanha, tipo “adote uma árvore”, até pelas construtoras. Natal tem uma prefeita de um partido que se diz defensor do verde, mas não se pensou nisso. O que o Sr. pensa da proposta, e que não fique só na retórica do discurso.
CAE – Concordo completamente com sua tese. A arborização deve ser pensada como uma das metas na área do meio ambiente. Na nossa gestão, iniciamos um inventário das áreas verdes de Natal com um levantamento completo da flora existente na cidade e plantamos ou distribuímos mais de 30 mil mudas de árvores. Podemos e devemos ampliar essa meta e buscar parcerias. Soube que a universidade federal tem um projeto nesse sentido e vamos formalizar uma parceria com eles e também com a iniciativa privada para dar um incremento maior à distribuição de mudas para as pessoas plantarem no quintal de suas casas, ao mesmo tempo em que podemos aproveitar as áreas públicas do município para plantar novas árvores.
blogdobarbosa – Por fim, um problema que vem se arrastando há anos em Natal. A urbanização das nossas praias. A capital potiguar tem certamente a orla mais feia do Nordeste. Tirando Ponta Negra, que também não está lá essas coisas, as praias dos Artistas, do Meio e do Forte não oferecem nenhum atrativo. A ponte Newton Navarro, quando estava pra ser construída, dizia-se que iria valorizar essas três praias. Qual nada, a ponte foi inaugurada e até hoje não se verificou nenhum avanço. Nem o famoso hotel dos Reis Magos, primeiro cinco estrelas de Natal foi reformado, como chegou-se a prometer. Enfim, urbanizar as praias e dotá-las de infraestrutura necessária ao natalense e ao turista que nos visita estão nos planos do Sr? Me diga como viabilizar isso.
CAE – Primeiro, é preciso logo no começo da gestão fazer o dever de casa. Ou seja, limpar as praias e a orla, cuidar da iluminação, recuperar as calçadas e a pavimentação das ruas. Depois, é preciso contratar um estudo sério e amplo para se definir qual a melhor forma de se conter o avanço do mar que tem causado tantos prejuízos. Esse estudo deve levar em conta toda a orla, da Redinha a Ponta Negra, para que não se cuide de um problema pontual e se jogue o problema para outro ponto.
Já estive conversando com alguns empresários do setor turístico e vamos elaborar um projeto de urbanização do nosso litoral. A intenção é transformar a Ponta do Morcego num pólo gastronômico. Na verdade, algo que já existe lá por iniciativa dos empresários. O papel do Poder Público vai ser organizar a área, iluminar, fazer uns jardins, manter a limpeza e elaborar um projeto urbanístico para aquele setor.
Quanto ao Hotel dos Reis Magos, começamos a negociar com o grupo que é proprietário do hotel ainda na minha gestão. Eles estão interessados em construir um novo hotel no lugar, já obtiveram as licenças depois um debate com a Semurb para preservar as características externas originais. As notícias que eu tenho é que o grupo de Hotéis Pernambuco, proprietário do Reis Magos, chegou a entrar com um projeto no BNDES, mas estão tentando viabilizar o negócio através de parcerias com outros grupos do setor. A reconstrução do Hotel dos Reis Magos junto com a proposta que temos de fazer a Marina de Natal, também com a iniciativa privada, acredito iriam modificar o cenário daquela orla. Só para se ter uma ideia, a reconstrução do Hotel Reis Magos prevê investimentos iniciais de R$ 20 milhões, com ampliação para 294 apartamentos, garagem subterrânea, centro de convenções e um pequeno shopping com 60 lojas.
Já temos lá dois shoppings de artesanato instalados e um hotel desse porte acredito iria atrair novos estabelecimentos comerciais para o seu redor, voltados principalmente para o turismo. Isso iria ser um pólo indutor para mais investimentos em segurança e também iria levar o natalense a voltar a frequentar aquele trecho da orla de Natal.