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Jeffrey Epstein alegou que o presidente dos Estados Unidos [1], Donald Trump [2], “sabia” de suas condutas e que certa vez Trump “passou horas” em sua casa com uma vítima de abuso, segundo e-mails publicados pelo Congresso dos EUA nesta quarta-feira (12).
Segundo os democratas do Congresso, os e-mails levantam novas dúvidas sobre a relação entre Trump e Epstein. Em uma das mensagens vistas pelos congressistas, o bilionário afirma categoricamente que Trump “sabia sobre as meninas” —muitas das quais foram posteriormente identificadas pelos investigadores como menores de idade.
A Casa Branca acusou os democratas do Congresso de “vazamento seletivo” dos e-mails para manchar a reputação de Trump [3].
Jeffrey Epstein, um empresário dos EUA conhecido por sua vasta rede de contatos com políticos, celebridades e empresários de alto nível, foi acusado de ter abusado de mais de 250 meninas menores de idade e de operar uma rede de exploração sexual. [4] Ele foi preso em julho de 2019 e, segundo as autoridades dos EUA, tirou a própria vida cerca de um mês depois dentro de sua cela. Desde então, o caso e as condições de sua morte ganharam notoriedade pública.
Em um e-mail de abril de 2011, Epstein disse a Ghislaine Maxwell, sua assistente e confidente que mais tarde seria condenada por acusações relacionadas à facilitação de seus crimes: “Quero que você perceba que o cachorro que não latiu é Trump.” Ele acrescentou que uma vítima não identificada “passou horas na minha casa com ele … e nunca foi mencionada uma única vez.”
Em outro e-mail divulgado nesta quarta, Epstein reflete sobre como deveria responder a perguntas da imprensa sobre sua relação com Trump, que à época começava a ganhar destaque como figura política nacional.
O caso Epstein é uma crise do governo Trump. A população americana, incluindo os apoiadores do presidente, demandam a publicação total dos documentos ligados ao criminoso sexual (leia mais abaixo).
Durante a campanha, Trump chegou a prometer a divulgação da “lista” de clientes do esquema de abuso sexual infantil, um suposto documento que estaria entre as anotações de Epstein.
A pressão aumentou sobre o governo Trump após o Departamento de Justiça ter publicado, em fevereiro, alguns documentos do caso, porém sem novidades. [5]
Daí em diante, o presidente passou a negar a existência dessa lista, a minimizar o caso e até a chamar de “idiota” quem ainda se importava com isso —sendo que o próprio republicano ajudou a aumentar com teorias da conspiração durante anos. O presidente foi avisado em maio por seu Departamento de Justiça que ele aparecia nos documentos de Epstein. [6]
Trump nega enfaticamente qualquer envolvimento ou conhecimento sobre a rede de tráfico sexual de Epstein. Ele afirmou que ele e o bilionário foram amigos no passado, mas romperam a relação há muitos anos.
Bilhete de Trump
Outros documentos revelados pela Câmara em julho incluem uma suposta carta enviada por Trump a Epstein. O registro traz uma mensagem datilografada dentro da silhueta de uma mulher nua desenhada à mão.
A assinatura “Donald” aparece abaixo da cintura da figura. O texto termina com a frase: “Feliz aniversário — e que cada dia seja mais um maravilhoso segredo.”
O conteúdo da carta havia sido revelado pela primeira vez pelo jornal The Wall Street Journal [7], que reproduziu apenas o texto, sem mostrar o documento original. Na ocasião, Trump negou a autoria, entrou com um processo contra o jornal e pediu uma indenização de US$ 10 bilhões. [8]
Leia, a seguir, a tradução da suposta carta:
- Narrador: Deve haver mais na vida do que ter tudo.
- Donald: Sim, existe, mas não vou te dizer o que é.
- Jeffrey: Nem eu, já que também sei o que é.
- Donald: Temos certas coisas em comum, Jeffrey.
- Jeffrey: É verdade, pensando bem.
- Donald: Enigmas nunca envelhecem, você já notou?
- Jeffrey: Na verdade, isso ficou claro para mim da última vez que te vi.
- Donald: Um amigo é uma coisa maravilhosa. Feliz aniversário — e que cada dia seja mais um maravilhoso segredo.
Em julho, Trump negou ter escrito a carta ou desenhado uma mulher nua: “Nunca pintei um quadro na minha vida. Não desenho mulheres”, disse. “Não é a minha linguagem. Não são as minhas palavras.”
Logo após a divulgação do arquivo, o vice-chefe de Gabinete da Casa Branca, Taylor Budowich, questionou a autenticidade da carta e disse que a assinatura que aparece na correspondência é diferente da usada por Trump.
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, classificou a carta como falsa e afirmou que “está muito claro que o presidente Trump não desenhou essa imagem e nem a assinou”.
“A equipe jurídica do presidente continuará a levar adiante o processo [contra o Wall Street Journal] de forma agressiva”, publicou.
Apesar das dúvidas levantadas pela Casa Branca, veículos da imprensa americana resgataram documentos da década de 1990 nos quais Trump assina de forma semelhante à que consta na suposta carta.
Foto reproduzida da Internet