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Imprensa e mercado vão ao desespero com a perspectiva da esquerda novamente no poder

por Miguel do Rosário, no Blog O Cafezinho

Para registro histórico e para os internautas entenderem como estão pensando os “mercados” e a grande imprensa conservadora, segue um texto publicado no site da revista Exame, que ilustra bem o desespero e o medo deles de um próximo governo de esquerda no Brasil.

As pesquisas divulgadas ontem, com simulações de segundo turno que mostram avanço vigoroso da esquerda, parecem ter acordado setores da imprensa de que são grandes as chances de que, a partir de 2019, o país seja governado novamente por uma administração comprometida com a população e não com o interesse da plutocracia.

O fracasso político do golpe é a lição mais evidente que se pode tirar de uma análise objetiva das pesquisas de intenção de voto.

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Na Exame [1]

Retorno da esquerda no Brasil é pior pesadelo dos investidores

Os alertas mais calamitosos dizem que o Brasil poderia virar a próxima Turquia se o partido de esquerda voltar ao poder

Por Aline Oyamada e Vinícius Andrade, da Bloomberg
20 ago 2018, 15h50 – Publicado em 20 ago 2018, 15h12

Quando os investidores dizem que estão preocupados com as perspectivas para as eleições no Brasil, é de uma coisa que eles realmente têm medo: a possibilidade de retorno do Partido dos Trabalhadores ao poder.

Os alertas mais calamitosos dizem que o Brasil poderia virar a próxima Turquia se o partido de esquerda voltar ao poder. A Brown Brothers Harriman & Co. afirma que o real poderia cair mais de 20 por cento, para R$ 5. O Bank of America Merrill Lynch projeta uma queda ainda maior em seu pior cenário para o próximo governo, para R$ 5,5. O Ibovespa poderia perder mais de um terço de seu valor, de acordo com o fundo de hedge local Rio Bravo Investimentos.

Todo esse pessimismo evidencia que investidores e executivos realmente desaprovam o PT. Para eles, o governo da ex-presidente Dilma Rousseff foi o grande responsável por provocar a pior recessão em um século antes de seu impeachment e veem seu predecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, como um bandido. Embora Lula seja o candidato escolhido pelo PT, é improvável que ele possa concorrer em outubro, porque foi condenado por corrupção. Seu provável substituto, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, também não é querido pelos traders.

“A Turquia e a Argentina são exemplos de como é disruptivo para os mercados financeiros que os investidores percam a confiança no rumo da política e nas instituições”, disse Tania Escobedo, estrategista para América Latina na RBC Capital Markets, em Nova York. “O PT de Lula representaria esse cenário, a menos que modere significativamente suas opiniões.”

Escobedo, que foi a analista mais precisa para a moeda brasileira no primeiro e no segundo trimestre deste ano, segundo o ranking da Bloomberg, diz que o real chegaria a R$ 4,5 se o candidato do PT ganhar. O real foi negociado perto de R$ 3,9 na sexta-feira.

Não é fácil estimar o nível de apoio a Haddad enquanto Lula continuar tecnicamente como candidato. Uma pesquisa da CNT/MDA de maio mostrou que o PT tinha 33 por cento de apoio, mais que o deputado de extrema-direita Jair Bolsonaro, com 17 por cento. Entre os demais nomes na disputa estão o candidato favorável ao mercado, Geraldo Alckmin, e o ex-governador do Ceará Ciro Gomes, de esquerda.

Um receio específico é que o governo do PT tente reverter as iniciativas do presidente Michel Temer para fortalecer o quadro fiscal depois que a nota de crédito do país foi rebaixada ao grau especulativo, incluindo o debate da reforma da previdência. As medidas tomadas por Temer, um centrista que assumiu após a queda de Dilma em 2016, fortaleceram o real e as ações naquele ano.

You-Na Park, estrategista de câmbio do Commerzbank em Frankfurt, diz que se Haddad ou qualquer outro candidato do PT vencer a eleição, o real provavelmente se depreciaria como uma reação inicial. Mas isso aconteceria com quase todos os candidatos – a única exceção seria uma vitória de Alckmin, o ex-governador de São Paulo, de direita. No longo prazo, ela acha que quem quer que vença tentará restaurar o equilíbrio fiscal, independentemente do discurso de campanha.

“Os políticos no Brasil estão bem cientes de que o alto déficit fiscal não é sustentável e que pelo menos algum tipo de reforma é necessário”, disse ela. “Talvez a atual crise da lira seja um exemplo bom e assustador do que poderia acontecer se os mercados perdessem a confiança na política. Acho que nenhum dos candidatos no Brasil gostaria que isso acontecesse.”

*Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje

Foto reproduzida da internet

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