Dentre as lembranças que tenho guardadas do segundo governo Garibaldi, no Rio Grande do Norte, uma considero bem interessante e ocorreu já no final do seu governo. Pena ninguém da imprensa – afora a oficial – estar presente para relatar o fato. Acho que daria uma boa reportagem. Segue o fato:
O dia em que o governador almoçou na cantina junto com os servidores
Já era final de governo. O então governador Garibaldi Alves (PMDB) estava prestes a deixar o cargo para concorrer ao Senado nas eleições de 2002. Garibaldi despachava normalmente na Governadoria, sede do governo no Centro Administrativo no bairro Lagoa Nova em Natal. Como todo fim de governo o número de políticos na Governadoria era pequeno, mas o governador tinha ainda algumas coisas para acertar com sua equipe de auxiliares, tais quais, por exemplo, agenda de obras que ainda faltavam ser inauguradas. Garibaldi nas últimas semanas desse seu segundo governo se debruçou sobre essas inaugurações e demorou a ir almoçar nesse dia.
Eu era na época coordenador de imprensa da Secretaria de Comunicação do governo do estado, que tinha como secretário o jornalista José Wilde. Não podia deixar a minha sala enquanto o governador não fosse embora. Qualquer eventualidade na área de imprensa a coordenadoria era logo acionada por José Wilde. Nesse dia em que Garibaldi se demorou para almoçar fiquei plantado na assessoria de imprensa. Não sabia a demora do governador em sair para almoçar. A gente não tinha nenhuma informação sobre se estava agendado para aquele dia qualquer inauguração ou qualquer evento na Governadoria.
A sala da coordenadoria de imprensa ficava no andar térreo da Governadoria. Bem próximo ficava uma cantina que servia aos funcionários. Já era início de tarde. Não havia ainda almoçado. Resolvi então comer alguma coisa na cantina. A cantina não era do governo, era locada por uma servidora. Pois muito bem: Estava já fazendo o meu prato quando de repente o governador sem paletó e sem gravata, de camisa arregaçada entra pela porta da cantina. Pra surpresa de todos disse: “Vim almoçar com vocês”. Todos ficaram admirados. Mas com seu jeito simples Garibaldi se serviu – era um self-service -, sentou-se ao lado dos servidores, almoçou e ainda fez questão de pagar a conta. Detalhe: As mesas da cantina não eram propriamente umas mesas. Era uma prancha em forma de L com algumas cadeiras onde todos sentavam um ao lado do outro. Garibaldi não fez a menor cerimônia. Almoçou o mesmo prato oferecido aos servidores. Normalmente com poucas variações.
O fato me chamou a atenção porque embora Garibaldi seja um político simples, jamais ninguém esperava essa atitude dele enquanto governador. Sem ninguém ao seu lado, nenhum auxiliar sequer, nem mesmo José Wilde ou Wellington, seu secretário particular que sempre o acompanha, Garibaldi desceu as escadarias da Governadoria para ir almoçar junto com os servidores. Acho que daria uma boa matéria, mas não podia fazer por ser da assessoria de imprensa do governador. Não pelo fato em si, mas podia parecer querer encher a bola de Garibaldi.
Conto essa história, que pouca gente sabe, muitos anos depois como um jornalista que presenciou cenas dos bastidores do poder que aparentemente não tem nada de substancial, mas vejo pelo lado humano da coisa.
Obs do blog: o web-leitor que quiser conhecer outras histórias dos bastidores da notícia é só ir em BUSCA na coluna à direita do blog e acessar a palavra baú