por Carlos Alberto Barbosa
No depoimento à Polícia Federal na quarta-feira (12), o ex-presidente Jair Bolsonaro escorregou feio nas suas declarações aos agentes que lhe ouviram a respeito do seu suposto envolvimento no plano denunciado pelo senador Marcos do Val sobre tentativa de anular eleições.
Primeiro confirmou a existência da reunião entre ele, o senador Marcos do Val e o ex-deputado federal, Daniel Silveira, que está preso por atentar contra a democracia.
Segundo, ao ser questionado pelos agentes se Silveira havia adiantado que na reunião seria tratado algo sobre Moraes – Alexandre de Moraes presidente do TSE e ministro do STF, relator dos processos contra o ex-presidente – , Bolsonaro afirmou que Silveira disse que Do Val gostaria de tratar sobre algum assunto referente ao magistrado, mas não passou detalhes ao então presidente.
Terceiro porque a reunião não estava na agenda da Presidência da República, mas foi realizada na residência oficial, ou seja, no Palácio da Alvorada, a pedido do próprio presidente de acordo com relatório da Polícia Federal sobre o celular de Marcos do Val, onde foi identificado que as conversas do senador sobre a reunião haviam sido compartilhadas em dois grupos: o “Chefias” e o “Amigas para a eternidade”.
Em uma das conversas no grupo “Amigas para a eternidade”, o parlamentar diz:
“Eu fui convidado por ele (Bolsonaro) para fazer essa ação. Como integrante da CCAI (Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência), fui dando corda para ver até onde ele iria. Na eminência (sic) do fato acontecer eu passei para ele que estaria cometendo um crime gravíssimo contra a democracia e de lá reportei para o órgão responsável. Foi diante disso que ele fugiu para os EUA”.
No grupo “Chefias”, com dois assessores de seu gabinete, suas mensagens eram mais curtas, mas nem por isso menos relevantes, relatando diálogos com Silveira e descrevendo o plano como “missão que entrará para a história do Brasil/mundo”.
Como disse no título deste artigo, “o capitão escorregou feio” no seu depoimento à Polícia Federal. Está claro que Bolsonaro se interessou em saber o que Marcos do Val tinha pra falar de tão interessante sobre o ministro Alexandre de Moraes, conforme relato do próprio aos agentes ao afirmar que “Silveira disse que do Val gostaria de tratar sobre algum assunto referente ao magistrado, mas não passou detalhes”. Daí, supõe-se, que interessado no que Marcos do Val tinha a dizer sobre Alexandre de Moraes, Jair Bolsonaro teria agendado a reunião extra-oficial no Alvorada, com Daniel Silveira, o interlocutor até então, e Marcos do Val.
Foto: UOL Notícias