por Sara Goes, no Brasil 247
Este artigo contém descrições médicas detalhadas e imagens verbais explícitas de processos fisiológicos e patológicos. O conteúdo aborda complicações clínicas graves e sua leitura pode causar desconforto físico ou emocional. Recomenda-se cautela, especialmente a leitores sensíveis a descrições de natureza biológica, cirúrgica ou degradante.
O histórico médico de Jair Messias Bolsonaro, analisado em conjunto com boletins hospitalares, manifestações públicas da família e relatórios clínicos técnicos, revela um quadro de deterioração sistêmica contínua. O ex-presidente vive hoje com um intestino instável, aderido e em risco constante de falência funcional. Vômito fecaloide, soluços incontroláveis, crises abdominais agudas e episódios de insuficiência orgânica compõem o retrato clínico real. O corpo que foi projetado como símbolo de resiliência política está em colapso anatômico.
Desde o suposto atentado a faca em 6 de setembro de 2018, Bolsonaro passou por pelo menos cinco cirurgias abdominais maiores. A primeira intervenção salvou sua vida, mas gerou uma consequência inevitável e progressiva: a formação de aderências internas. Essas estruturas fibrosas colam alças intestinais umas às outras e à parede abdominal. O resultado é uma série de obstruções mecânicas recorrentes, capazes de gerar bloqueios completos do trânsito de fezes e gases. A fisiologia da obstrução por aderência é implacável. O conteúdo intestinal para de circular. A pressão se acumula. O intestino distende, fermenta e apodrece por dentro.
O evento mais grave ocorreu em abril de 2025. Jair Bolsonaro foi transferido de helicóptero para o Hospital DF Star após episódios de dor intensa, distensão abdominal, vômitos repetitivos e sinais de falência. O boletim médico confirmava uma obstrução intestinal severa. A cirurgia durou doze horas. Foi necessário realizar uma lise extensa de aderências, com reconstrução da parede abdominal. O intestino estava dobrado. O tecido cicatricial formava alças fechadas. O quadro exigia intervenção de grande porte. O tratamento conservador que funcionara em anos anteriores falhou completamente. A progressão da doença ultrapassou a capacidade do corpo de se autorregular.
Após a operação, Bolsonaro permaneceu dias em unidade de terapia intensiva. Houve instabilidade hemodinâmica, alteração laboratorial persistente, gastroparesia e episódios de elevação da pressão arterial. O intestino não respondia adequadamente. A parede abdominal, severamente danificada, perdeu mobilidade. A digestão se tornou ineficaz. A distensão interna gerou novo ciclo de irritação do diafragma, culminando em crises de soluço duradouras. A dor e o refluxo tornaram-se sintomas constantes.
Em setembro de 2025, durante cumprimento de prisão domiciliar, Bolsonaro voltou a ser internado às pressas. Os relatos familiares incluíram vômito em jato, perda de consciência, frequência cardíaca elevada e dificuldade respiratória. O boletim médico confirmou desidratação grave, anemia por deficiência de ferro, alteração da função renal e presença residual de pneumonia por broncoaspiração. Os sintomas indicavam uma descompensação orgânica múltipla. O paciente estava intoxicado pelos próprios resíduos internos. O sangue transportava menos oxigênio. Os rins filtravam com lentidão. Os pulmões haviam sido contaminados por material gástrico aspirado.
O vômito fecaloide é o marco clínico mais perturbador. Trata-se da ejeção oral de conteúdo intestinal em decomposição. Ocorre quando o intestino delgado se enche por completo, permitindo o refluxo de fezes líquidas em direção ao estômago. O odor é pútrido. A textura é espessa. O material ultrapassa o esfíncter e sobe em direção à cavidade oral. Esse sintoma não é simbólico. É real, documentado e compatível com os relatos feitos pela própria família.
A fisiologia dos soluços também é explicada pela medicina. A obstrução intestinal eleva a pressão intra-abdominal. O nervo frênico, que controla o diafragma, é comprimido. O resultado são espasmos involuntários repetitivos que impedem o repouso, causam dor torácica e comprometem a oxigenação. Em pacientes operados como Bolsonaro, o singulto persistente pode romper pontos de sutura e provocar hérnias ou sangramentos. Não se trata de um incômodo qualquer. É uma manifestação de estresse severo dentro da cavidade abdominal.
A anemia é multifatorial. O corpo apresenta deficiência de ferro e vitamina B12, agravada por má absorção intestinal, inflamação crônica e perda contínua de sangue oculto. A medula óssea não consegue produzir glóbulos vermelhos em quantidade suficiente. A oxigenação dos tecidos é comprometida. A parede intestinal, já distendida e fragilizada, sofre ainda mais com a hipóxia. Cada crise agrava o risco de isquemia, necrose e perfuração.
A narrativa pública dessas internações é consistentemente dramatizada por membros da família. Flávio Bolsonaro relata crises respiratórias e atribui o agravamento à pressão judicial. Carlos Bolsonaro descreve sintomas com carga emocional elevada. Michelle Bolsonaro reforça o pedido de orações. A linguagem empregada sugere sofrimento real, mas tenta redirecionar sua causa a fatores externos. No entanto, os prontuários e boletins médicos descrevem um quadro clínico que evolui por razões orgânicas, estruturais e previsíveis. O corpo do ex-presidente não está sendo atacado por forças invisíveis. Está falhando por dentro. E nada disso, registre-se, impede o cumprimento de prisão. A legislação brasileira prevê atendimento sob custódia, acompanhamento médico em unidades especializadas e eventual internação hospitalar, sem prejuízo da responsabilização penal.
Hoje, Bolsonaro apresenta risco elevado de nova obstrução intestinal, com possibilidade crescente de que uma próxima cirurgia não seja bem-sucedida. O intestino apresenta áreas de cicatriz repetida. O peritônio já foi aberto e reaberto diversas vezes. O risco de sepse generalizada é real. O paciente sofre de fragilidade sistêmica. A reserva funcional dos órgãos está diminuída. Cada nova infecção, cada novo estresse, cada novo deslocamento pode representar uma emergência médica.
O verdadeiro estado de saúde de Bolsonaro não é um segredo. Está descrito em boletins, relatórios e exames. O corpo que antes foi usado como palco político agora revela em detalhes gráficos a degradação de uma anatomia que colapsa a cada ciclo. O que resta é um intestino imprevisível, uma cavidade abdominal marcada por aderências, um sistema digestivo que não digere, um estômago que vomita resíduos fecais, um pulmão que aspira o que não deveria e um sangue que já não transporta oxigênio suficiente.
A imagem do mito é substituída por uma realidade médica crua. Um corpo apodrecido por dentro. Uma fisiologia que transforma cada ato de negação, cada recusa ao tratamento, cada orgulho mal colocado em sofrimento material. O bolsonarismo projetou seu líder como incorruptível. Mas o intestino não respeita mitologias. Ele apenas entope. E quando entope, apodrece. E quando apodrece, vaza. Pela boca.
No fim das contas, Regina Duarte estava certa. Era tudo da boca pra fora.
* Sara Goes é jornalista e âncora da TV 247 e TV Atitude Popular. Nordestina antes de brasileira, mãe e militante, escreve ensaios que misturam experiência íntima e crítica social, sempre com atenção às formas de captura emocional e guerra informacional. Atua também em projetos de comunicação popular, soberania digital e formação política. Editora do site codigoaberto.net