por Leonardo Attuch, no Brasil 247
Esta é, hoje, a questão central nos Estados Unidos. Também na Argentina. E, recentemente, foi a tragédia brasileira. A pergunta – brutal, direta, desconfortável – precisa ser feita sem meias palavras: quanto custa eleger um idiota?
Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump, em seu segundo mandato, vem colocando a maior economia do mundo de joelhos com medidas desastrosas de política comercial. Empresários de todos os setores relatam aumento de custos [1], demissões, suspensão de investimentos e até ações judiciais contra o próprio governo, como consequência de tarifas insanas que isolam o país e ameaçam sua estabilidade. Na Argentina, Javier Milei promove um desmonte acelerado do Estado, com cortes brutais nos investimentos sociais, destruição de políticas públicas e submissão vergonhosa ao capital financeiro. No Brasil, viveu-se a tragédia Jair Bolsonaro – uma presidência marcada por destruição ambiental, gestão desastrosa da pandemia, ataque sistemático às instituições e uma política econômica de submissão total aos interesses financeiros.
O que essas experiências têm em comum? Todas representam o colapso de sistemas democráticos que se tornaram vulneráveis a figuras grotescas, histriônicas, ignorantes e perigosas. A democracia ocidental, hoje, não é capaz de proteger a sociedade contra os piores representantes de si mesma. Ela está sendo sequestrada por populistas de direita que, apesar de sua completa incapacidade de liderar uma nação, conseguem conquistar corações e votos com mentiras, discursos de ódio e a exploração dos instintos mais primitivos do eleitorado.
Trump, Milei e Bolsonaro não chegaram ao poder por mérito, projeto ou capacidade. Chegaram pelo caos. Avançaram com base na manipulação de redes sociais, na fabricação de inimigos imaginários, na destruição do debate público e na criação de realidades paralelas onde a razão e os fatos não têm lugar. Alimentam-se do ressentimento, da desesperança e da desinformação.
O custo de eleger um idiota não é apenas econômico – embora os números sejam alarmantes. É humano, institucional, civilizatório. É o retrocesso nos direitos, a deterioração das políticas públicas, a ruptura do tecido social, a corrosão da confiança coletiva. É a destruição da política como espaço de construção de soluções e sua substituição por uma arena de gritos, mentiras e violência.
Se o Ocidente ainda quiser salvar a ideia democrática, será preciso pensar em novas formas de blindar os processos eleitorais contra o populismo reacionário. Isso inclui combater a desinformação, educar para a cidadania e reconstruir as pontes entre as democracias e os anseios legítimos da população, mas sobretudo abrir um debate sério sobre a viabilidade dos atuais sistemas políticos. Caso contrário, seguiremos vendo a ascensão dos idiotas – e pagando caro por isso – enquanto alguns poucos lucram com o caos.
*Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247
Foto: O Globo