por Daniel Menezes, em O Potiguar
Poxa, caro leitor. Tem hora que eu fico com preguiça, mas comentar é preciso. O RN foi escolhido entre os cinco estados da federação para representar o Brasil nas olímpiadas e, com isso, divulgar o RN como parte das atrações turísticas nacionais. Ocorre que a viagem de Fátima, óbvias pelos fatos apontados, virou assunto político-eleitoral. Ora, o RN não cresce mais do que deveria porque aqui o debate é invertido.
Há duas questões fundamentais em voga hoje no RN, em especial, dois estelionatos que deveriam nos chocar – Natal passou a ter a gasolina mais cara entre as capitais do Nordeste, feito inédito. E a arrecadação do ICMS caiu, ao passo que os preços se mantiveram.
Estelionato1: Engordando a 3R Petroleum
Os potiguares deveriam estar revoltados porque estamos arcando com o enriquecimento daqueles que compraram a nossa refinaria e, hoje, cobram mais caro do que a Petrobras apesar de todas as promessas em contrário.
Vale lembrar que o então presidente da Peobras no governo Bolsonaro Camilo Castelo Branco vendeu a Clara Camarão e, após fora do governo, passou a presidir a empresa para a qual entregou um monopólio privado, obrigando a todos os norteriograndenses a girar a sua catraca milionária. A minúscula 3r Petroleum explodiu em crescimento e lucro.
Toda vez que você pára seu carro ou compra uma mercadoria que fora transportada, caro leitor, você despende 12% a mais em combustível pelo refino aqui no RN do que a refinaria de cabedelo na Paraíba. Se a gente fosse sério, haveria clamor estadual com pressão junto ao governo federal para que o negócio fosse desfeito, pois que lesivo ao povo do Rio Grande do Norte.
Estelionato 2: Emagrecendo os serviços públicos
Na outra ponta, mas mantendo a mesma linha, os serviços públicos foram desfinanciados em quase 700 milhões de reais com a queda do ICMS de 20% para 18%. Promessa: os preços dos produtos no RN iriam cair e a arrecadação crescer. Ora, aconteceu exatamente o contrário. Hoje, diferentemente de todo o nordeste, o tesouro estadual passou a ter queda em sua arrecadação e os preços praticados no varejo continuam semelhantes aos de outros estados.
Caro leitor, você pode até achar que cortar imposto é bom. O problema é para onde está indo o que poderia ser canalizado para uma viatura a mais, mais um médico contratado – para aumentar a margem de lucro de quem já ganhava com a venda de mercadorias. Esta forma de escoamento de recursos acaba sendo ruim para a maioria do povo potiguar. Aumentamos a regressão de quem tem menos em favor de quem já concentra a maior riqueza do Estado.
Se o debate fosse sério, os deputados que enganaram e as associações comerciais que lançaram falsas pesquisas estariam na berlinda. Só que é exatamente isto que não acontece.
Falar do que não importa
Mas no fim falamos do que não importa. Claro, contando também com o silêncio do trade turístico, importante gerador de empregos e beneficiado pela ação, mas incapaz de defender o seu setor quando é necessário.
*Daniel Menezes é professor de Ciências Sociais da UFRN
FONTE: opotiguar.com.br
Foto: Sindipetro-RN