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O presidente dos Estados Unidos [1], Donald Trump [2], ligou nesta segunda-feira (18) para o presidente da Rússia [3], Vladimir Putin [4], e disse estar preparando uma reunião trilateral entre os dois e Volodymyr Zelensky [5], da Ucrânia [6], em data e local ainda não acertados.
O principal assessor Kremlin, Yuri Ushakov, chamou a ligação de Trump de “franca e construtiva”, mas tratou o eventual encontro entre Putin e Zelensky como uma “ideia”, e falou de forma vaga em “explorar a possibilidade de elevar o nível dos representantes ucranianos e russos nas negociações diretas” entre os dois países.
Trump anunciou estar preparando o encontro trilateral após ter reuniões com Zelensky e sete líderes europeus de alto escalão na Casa Branca. Enquanto o americano mostrou otimismo para o fim da guerra da Ucrânia, Zelensky e os demais europeus pediram por robustas garantias de que a Rússia não volte futuramente a invadir a Ucrânia. No final, todos disseram que as reuniões foram boas.
“Durante o encontro, discutimos as garantias de segurança para a Ucrânia, que seriam fornecidas por vários países europeus, em coordenação com os Estados Unidos. Todos estão muito felizes com a possibilidade de PAZ para Rússia/Ucrânia. Ao final das reuniões, liguei para o presidente Putin e iniciei os preparativos para um encontro, em local ainda a ser definido, entre Putin e o presidente Zelensky. Após essa reunião acontecer, teremos um encontro trilateral, com os dois presidentes e eu”, afirmou Trump em sua rede social Truth Social.
Zelensky afirmou ter tido “uma longa discussão sobre territórios” com Trump, e que detalhes das garantias de segurança oferecidas pelos EUA à Ucrânia serão acordados nos próximos 10 dias. Segundo o líder ucraniano, o encontro desta segunda-feira foi “o melhor até agora”, e todos os aliados estão na mesma página. Zelensky reiterou estar pronto para se encontrar com Putin, e disse que esse encontro não deve vir com exigências prévias.
Os líderes europeus pressionaram Trump para que um possível acordo que ponha um fim à guerra, iniciada em 2022 com uma invasão russa, tenha robustas garantias de que a Rússia não voltaria a atacar, porque afeta a segurança de todo o continente europeu. O encontro se deu três dias depois de Trump e Putin se reunirem na Alasca. [7]
Trump disse buscar aparar as arestas com os aliados europeus nesta segunda para voltar a consultar Putin. “Em uma ou duas semanas vamos saber se vamos conseguir ou não resolver os combates terríveis”, disse. O presidente americano disse querer a reunião trilateral o “quanto antes”, e a esperança é que ela acontecesse até o final de agosto, afirmou uma fonte da Casa Branca ao site americano “Axios”. O chanceler Merz disse que o encontro entre Putin e Zelensky poderia ocorrer em até duas semanas.
Trump disse a Zelensky que os EUA estão prontos para prover garantias de segurança à Ucrânia, e que esse é um dos temas centrais do encontro desta segunda. Segundo os EUA, Putin concordou que, em um eventual acordo de cessar-fogo, os EUA e aliados europeus poderiam proteger a Ucrânia em um formato parecido com o Artigo 5 da Otan [8], que prevê defesa mútua em caso de ataque.
Os líderes europeus, no entanto, pediram a Trump por maiores garantias de segurança contra novos ataques da Rússia após um eventual acordo de cessar-fogo, e reforçaram que a segurança da Ucrânia é fundamental toda a Europa.
Macron e Merz fizeram apelos por um cessar-fogo imediato no conflito. O presidente francês disse a Trump que as negociações pelo fim da guerra na Ucrânia afetam todo o continente europeu, por isso pediu que líderes europeus sejam incluídos na cúpula tripartite que o líder americano planeja com Putin e Zelensky.
Meloni, por sua vez, disse que uma das perguntas mais importantes no momento é “como ter certeza de que isso [invasão russa] não acontecerá novamente, o que é a condição prévia de qualquer tipo de paz”.
Trump se reuniu primeiro com Zelensky, e depois os líderes europeus se juntaram a eles. A presença de diversos líderes europeus na Casa Branca simboliza uma união em busca de garantias concretas de segurança diante da ofensiva russa [9], que ameaça todo o continente. Além disso, havia uma preocupação com possíveis ataques verbais de Trump a Zelensky.
O encontro desta segunda entre Trump e Zelensky teve tom menos tenso do que o anterior, quando em 28 de fevereiro eles bateram boca e o ucraniano foi hostilizado pelos anfitriões. [10] Todos adotaram um tom mais consensual, apesar de ainda haver diferenças a serem tratadas. Zelensky foi elogiado por um repórter pela roupa que estava utilizando, um paletó [11], quando estava com Trump no Salão Oval.
A reunião ocorreu dias após uma reunião presencial de Trump com o presidente russo, Vladimir Putin, em uma base militar no Alasca, que terminou sem acordo para cessar-fogo. O evento foi a primeira vez que Putin pisou em solo americano em quase dez anos —algo considerado uma vitória diplomática para o russo, isolado da comunidade internacional desde que invadiu a Ucrânia.
Os termos da discussão entre Trump e Putin não foram divulgados [12], mas especula-se que Moscou apresentou uma proposta de paz que incluiria o fim dos combates em troca do reconhecimento de territórios ocupados da Ucrânia, sobretudo a Crimeia, como pertencentes à Rússia. (Leia mais abaixo)
O que está em jogo
Antes da reunião, Zelensky insistiu que não aceitará ceder território e que qualquer acordo precisa ser acompanhado de garantias internacionais semelhantes às do Artigo 5 da Otan, que prevê defesa coletiva em caso de ataque. “A linha de frente é agora o lugar onde essas negociações podem começar”, disse o presidente ucraniano neste domingo.
Trump, por sua vez, declarou no fim de semana que houve “grandes progressos” em sua conversa com Vladimir Putin, no Alasca. Segundo o enviado especial da Casa Branca, Steve Witkoff, o presidente russo teria sinalizado abertura para discutir garantias de segurança no modelo da Otan, algo descrito como “transformador” — mas sem detalhes sobre os termos.
Às vésperas do encontro, os presidentes comentaram as propostas nas redes sociais. [13] Trump voltou a pressionar Zelensky para aceitar a proposta de Putin, de anexar territórios como a Crimeia e desistir de fazer parte da Otan. Já o ucraniano negou que cogita ceder terras aos russos.
Esboço da proposta russa
Um rascunho da proposta de Putin para encerrar a guerra começou a circular entre diplomatas, segundo a agência Reuters. O plano prevê a retirada parcial de tropas russas do norte da Ucrânia, mas exige contrapartidas consideradas inaceitáveis por Kiev: o reconhecimento da anexação da Crimeia, a manutenção do controle do Kremlin sobre grande parte do Donbas [14], a promessa de que a Ucrânia não se juntará à Otan e o alívio das sanções internacionais contra Moscou.
Europa tenta cortejar Trump
O encontro em Washington também é interpretado como uma tentativa europeia de cortejar Trump após a cúpula realizada no Alasca, na última sexta-feira. Na ocasião, Putin conseguiu convencê-lo a abandonar a exigência de um cessar-fogo imediato e reforçou demandas que já eram conhecidas: anexação de territórios, desarmamento ucraniano e retirada de sanções.
Segundo o jornal americano “The New York Times”, Trump e Putin chegaram a discutir a cessão completa de Donetsk e Lugansk à Rússia, incluindo áreas que não estão sob ocupação militar. Zelensky sempre rejeitou a ideia, mas admitiu no domingo, em Bruxelas, que pode negociar sobre as terras já controladas por tropas russas.
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, também reconheceu que Kievm na prática, provavelmente terá que aceitar a perda de territórios, ainda que isso não seja reconhecido formalmente no âmbito jurídico internacional.
Rússia tenta ganhar tempo
Segundo o “The New York Times”, Trump pretende organizar uma “cúpula tripartite” com Ucrânia e Rússia já nesta sexta-feira (22) se as conversas com Zelensky e europeus forem boas. Ainda de acordo com o jornal, Putin prometeu participar, mas somente se Kiev aceitar renunciar a determinados territórios antes.
O presidente russo, no entanto, continua retratando Zelensky como ilegítimo. Para diplomatas europeus, há dúvidas se Putin realmente topará dividir a mesa com o ucraniano ou se continuará a ganhar tempo para consolidar seus avanços militares.
Foto reproduzida da Internet