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Um novo tempo da Covid-19. De como lidar com toda uma plêiade que comporá a síndrome tardia da doença

por Ricardo Lagreca

Mesmo ainda na vigência da pandemia causada pelo SARCOV-2, continuando a tirar a vida de milhares de pessoas em todo o mundo, um outro tempo da doença aparece e de uma forma ou de outra ela sempre nos preocupará.

O artigo de Alexander Zaitchik sobre “ A doença eterna: como a Covid-19 tornou-se crônica”, descreve o que está vindo e já vem acontecendo do ponto de vista de “síndromes malucas pós – infecção”, como diz ele próprio.

Uma patologia que assume na sua fase aguda uma forma avassaladora
deixando toda a comunidade científica perplexa, sem saber como enfrentar tamanha ameaça à humanidade não deixou por menos, o que tardiamente ela preparou para o mundo.

Nas suas formas mais graves, com intenso desarranjo do nosso sistema
imunológico, que para combater a agressão viral pode terminar nos levando a morte, é mais claro o entendimento das consequências tardias. Mas, mesmo nas formas menos agressivas, como salienta o autor, uma série de sinais e sintomas podem acompanhar por muito tempo as pessoas que as contraíram.

Neste ponto de vista vou mais além, e acrescento que todos mesmo os que
não adquiriram a enfermidade podem apresentar outras importantes
alterações pensando agora no âmbito do equilíbrio cognitivo e psíquico. É
absolutamente justificável. Nossa sociedade não foi preparada para o
isolamento dos homens. Somos afetivos, precisamos uns dos outros.

Contudo, não havia outra saída e tivemos que nos esconder do mal que nos cercava e ainda nos atinge. Imaginemos então os que tiveram a doença, como irão reagir à injúria sofrida?

Da mesma forma, que pouco se conhecia da sua forma mais aguda, na fase
de cronicidade teremos também muito o que aprender. De como lidar com
toda uma plêiade que comporá a síndrome tardia da covid-19. O autor descreve situações bem claras do acometimento orgânico, e por outro
lado, observamos uma mistura de queixas que se assemelham à doenças já
consideradas crónicas e de controle trabalhoso, como a síndrome da fadiga
crônica, também descrita como encéfalomielite miálgica.

Há ainda outras modificações do sistema nervoso que podem ter como alvos diversos órgãos do nosso corpo e muito bem se juntarem às consequências da covid.

De qualquer maneira está posto o desafio para os governos e sistemas de
saúde de todo o mundo, de se prepararem para acolher essa população que já existe e que fatalmente sofrerá um acréscimo substancial ao longo do tempo.

O sistema nacional de saúde inglês o NHS partiu na frente e estabeleceu
planos no sentido de um novo modelo de atenção clínica, social e psíquica com vistas ao atendimento dessas vítimas.

Finalmente o autor chama à atenção à previdência social. Por sua vez, ela
cuide de se preparar. Uma enxurrada de benefícios de seguro por invalidez, por certo, cairão no seu colo.

Observa-se assim, que existe em todos os sentidos, uma tamanha
complexidade no embate contra um agressor dessa natureza, que os torna
muito temido em qualquer e por um longo tempo. Trará sempre um mal
duradouro

Ao contrário de uma disputa entre os homens, quanto ao seu fim, podem até entregar as armas aos derrotados, como faziam os chineses com “ligação íntima com o passado antigo e os princípios de estratégia” narrativa de Luiz Otávio Cavalcanti nessa luta que travamos, não existe limites.

Há de se ter sim uma pluralidade e responsabilidade de medidas e cuidados duradouros, todos centrados na defesa e no bem-estar do homem que teve vulnerabilidade em franca e ampla exposição.

*Ricardo Lagreca é cardiologista, professor da Faculdade de Medicina da UFRN e ex-secretário estadual de Saúde

Foto reproduzida da Internet

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