Política

Zé de Abreu: `Não vou ficar quatro anos fingindo ser presidente como Bolsonaro´

Está no site Congresso em Foco

O ator José de Abreu vive no Twitter um dos mais inusitados personagens em seus 51 anos de carreira artística. Desde que se “autoproclamou” presidente do Brasil em 25 de fevereiro, em uma brincadeira despretensiosa feita em uma madrugada fria na Grécia, o artista viu sua legião de seguidores dobrar de tamanho nas redes sociais, seus desafetos se multiplicarem na mesma medida e seu principal alvo, o presidente Jair Bolsonaro, cair na “armadilha”.

“A partir do momento em que o presidente cai na piada, ameaçando com processo judicial, é um negócio de doido. Aí deitei e rolei (risos)”, conta o ator em entrevista ao Congresso em Foco (veja a íntegra mais abaixo)

Militante petista, Zé de Abreu encontrou no gesto extremo do líder da Assembleia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó, de se autodeclarar presidente de seu país, o mote para liderar a oposição brasileira nas mídias sociais. Ganhou fotomontagem com a faixa presidencial e a adesão do ex-presidente Lula, preso há quase um ano, do petista Fernando Haddad, candidato derrotado por Bolsonaro em 2018, e de vários outros nomes representativos da esquerda brasileira. E despertou, por outro lado, a ira dos apoiadores do atual presidente. “Ator decadente”, “veado” e “cocainômano” são alguns dos adjetivos mais suaves dirigidos contra ele por seus críticos.

Às vésperas de começar, nesta segunda-feira (18), as primeiras gravações de sua nova novela na Globo, “A dona do pedaço”, Zé de Abreu estuda uma saída triunfal para o seu personagem presidencial. “Não vou ficar quatro anos como Bolsonaro, fingindo que sou presidente. Comédia tem tempo cênico. Se passa do ponto, envelhece, fica chato. É um timing que tenho de descobrir. O bom ator sai de cena no meio dos aplausos. Não pode esperar os aplausos acabarem”, explica.

Posse no aeroporto

Aplausos não faltaram para ele nas últimas semanas. No último dia 8, ao desembarcar de Atenas no Rio, Zé foi recebido no aeroporto por simpatizantes vestidos de vermelho. Foi carregado nos ombros aos gritos de presidente. Ainda no saguão, encenou o rito de juramento da Constituição.

De lá, seguiu para um bar na Cinelândia, centro da capital fluminense, onde se concentravam as manifestações pelo Dia Internacional da Mulher. Mais uma vez foi venerado como presidente madrugada afora. Divertiu-se. “Fiquei quatro horas e não conseguia tomar chope, ganhando beijos – 70% mulheres, 20% gays e 10% homens héteros. Um carinho absurdo. É pessoal de esquerda, não é pessoal que fica babando ator, que viria tirar fotografia por eu ser da Globo. É gente que foi por causa da minha comédia”, afirma.

A comédia, aliás, é o antídoto contra a “tragédia inominável” e o “momento de terror” vividos pelo Brasil, na opinião do ator. “Fotografei hoje [sexta, 15] parte da minha timeline. Uma pessoa dizia que estava vivendo um momento terrível, que não sabia se lia as notícias e sofria, ou se se aprofundava na sua ignorância e também sofria. Tinha umas 200 pessoas falando a mesma coisa. Essa perplexidade entre os brasileiros que pensam é muito triste. Existe uma doença social”, avalia. “Como sou ator, humorista, comediante, sei que a única coisa que pode enfrentar a tragédia é a comédia”, ressalta.

“Mentecapto”

Amigo do ex-presidente Lula, em nome de quem já comprou várias brigas, o ator não poupa críticas ao governo Bolsonaro. “É o governo da imbecilidade, da pobreza intelectual, que escolhe a dedo pessoas do mesmo nível intelectual do presidente. Não é possível”, dispara. “As pessoas sabem que ele está metendo os pés pelas mãos. Cada tuitada é uma cagada”, emenda.

Para ele, Bolsonaro dificilmente chegará ao fim do mandato. “Nossa posição é que é melhor manter o Bolsonaro até o fim do mandato para que nunca mais o povo brasileiro eleja um mentecapto como presidente. O melhor é deixá-lo aí sangrando.”

Zé de Abreu também não perde a oportunidade de cutucar outro desafeto, o deputado Alexandre Frota (PSL-SP), ex-ator de novelas que enveredou pelo mercado pornô antes de entrar para a política. Frota entrou com representação contra Zé por causa da “incorporação” do personagem de presidente autodeclarado.

“Tem coisa mais comédia que Alexandre Frota presidir uma sessão da Câmara? Isso é a própria comédia. Ou a tragédia é tão grande que vira comédia. Se contasse isso em novela, ninguém ia acreditar. Nem Glória Perez e Aguinaldo Silva, em seus momentos de maior criatividade, conseguiriam imaginar um país desse”, observa.

Guerra civil

O artista diz que, apesar da virulência das mensagens trocadas na internet, não se sente ameaçado. Muito menos considera que sua histórica militância política e partidária tenha trazido prejuízo à sua carreira. “Estou na melhor fase da minha vida. A cada ano, melhora, ganho papeis melhores. Uma coisa não tem a ver com a outra”, considera. “Se esses caras me matarem, depois do assassinato da Marielle e da saída do Jean Wyllys e da Márcia Tiburi, aí fodeu. É capaz de ter uma guerra civil. Sou ator, caralho, estou fazendo comédia”, diz. “É um direito à sacanagem, ao esculacho, ao escracho, é a liberdade de expressão”, defende.

Para Zé, este é um bom momento para o PT fazer autocrítica. Na avaliação dele, o partido não tem culpa pela atual situação do país. “Não, nada a ver, o que teve foi uma disseminação do ódio ao PT, ódio à esquerda, com essa nóia de ver comunismo em tudo. Mais mamadeira de piroca, kit gay, pastores criando histórias inacreditáveis para criminalizar tudo que não fosse Bolsonaro. E dá-lhe bombas de WhatsApp sob a direção de Mr. Bannon [estrategista de Trump]. Agora o capitão vai jantar com ele nos EUA. Talvez levar um ‘golden shower’. E Trump? Seria culpa do PT?”

Na conversa a seguir, Zé de Abreu ainda rebate ataques que recebe na internet por ter utilizado recursos da Lei Rouanet, de incentivo à cultura, e por ter cuspido em um casal, em 2016, em um restaurante japonês em São Paulo. “Fascista tem de ser tratado no cuspe. Não sei brigar, sou velho, sou fraco, uma cusparada é o que eles merecem.”

Leia a entrevista na íntegra clicando aqui

Foto reproduzida do Congresso em Foco

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