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Quem ganha é o Brasil

por Luiz Carlos Azenha

Acabo de completar uma viagem de mais de 40 dias pela África. Comecei por Moçambique, passei pela África do Sul e por Botsuana e terminei na Namíbia.

A África do Sul desempenha, na África, um papel relativamente parecido com o do Brasil na América do Sul. É a potência regional. As grandes empresas sul africanas se expandem além fronteiras. O capital sul africano financia projetos em países vizinhos.

Mas a situação da África do Sul é menos confortável do que parece. Os governos pós-apartheid não deram conta de atender às demandas sociais, que são imensas. A renda continua altamente concentrada nas mãos da minoria branca. As terras, também.

No ano passado o país viveu espasmos de violência. As vítimas foram os imigrantes. Há mais de cinco milhões de imigrantes ilegais que vivem na África do Sul vindos da vizinhança, especialmente do Zimbábue, de Moçambique e do Malawi.

Temos, portanto, duas desigualdades embutidas na mesma realidade: uma, na África do Sul, entre brancos e negros; outra, regional, entre a África do Sul e os países vizinhos.

É essa a desigualdade que o Brasil deve ajudar a superar na América do Sul. O Brasil não pode crescer sozinho, deixando para trás especialmente o Paraguai e a Bolívia. Não se trata apenas de evitar a entrada, no Brasil, de milhões de imigrantes em busca de emprego e salário. Trata-se de apoiar o desenvolvimento de um mercado genuinamente regional, complementar ao brasileiro.

Um mercado que absorverá produtos e serviços brasileiros. Um mercado onde a vantagem competitiva das empresas brasileiras será imbatível contra produtos chineses, americanas ou indianos, seja pela proximidade geográfica, seja pela maior familiaridade dos empresários brasileiros com a região.

Além disso, nenhum país do mundo quer vizinhos politicamente instáveis. E o Brasil tem mais de 3 mil quilômetros de fronteira com a Bolívia e o Paraguai.

Portanto, é do interesse de todos os brasileiros que Paraguai e Bolívia cresçam, distribuam renda e se tornem democracias estáveis. Não dá para “precificar” isso.

Hoje, ao noticiar o acordo entre o Brasil e o Paraguai em torno da energia produzida em Itaipu, o New York Times disse que a diplomacia brasileira tenta combater a influência regional de Hugo Chávez.

É uma grande bobagem. Os americanos adoram dividir a América Latina entre “mais vermelhos” — Venezuela, Bolívia e Equador — e “menos vermelhos”  — Brasil, Chile e Uruguai.

Além disso, o jornalismo comercial tem uma necessidade cada vez maior de “dramatizar” a cobertura, dando a toda reportagem um tom épico. Talvez seja a saída consciente ou não que os jornais encontraram para enfrentar a perda de público e de credibilidade.

Seja como for, não existe nada de extraordinário nas concessões que o Brasil fez ao Paraguai ou à Bolívia. O Brasil não é “bonzinho” por isso. Ao “ajudar” os vizinhos, o Brasil está acima de tudo se ajudando.

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