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Baú de um Repórter

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O Baú de um Repórter

40 anos após a redemocratização do país, reporto-me hoje a uma façanha envolvendo a minha pessoa, enquanto correspondente da extinta EBN, e o colega Paulo Roberto, então repórter da Rádio Cabugi

O dia em que eu e Paulo Roberto “furamos” a segurança de Sarney

O Plano Cruzado fazia água. A inflação na estratosfera. O presidente Sarney já não tinha mais aquela popularidade do início de seu governo. A Presidência da República evitava que Sarney comparecesse a locais públicos. A agenda do presidente era cuidadosamente analisada. Foi quando marcaram para Sarney vir a Natal prestigiar um lançamento de um foguete na Barreira do Inferno.

Na semana anterior – e exatamente por isso a agenda do presidente passou a ser melhor analisada – o ônibus da comitiva presidencial tinha sido apedrejado no Rio. Sua vinda a Natal foi cercada de todos os cuidados. O esquadrão precursor – aquela equipe que visita as cidades previamente onde o presidente da República vai, tomou todos os cuidados para evitar a aproximação de populares a Sarney.

No dia do lançamento do foguete a BR-101, a avenida Engenheiro Roberto Freire e parte da Rota do Sol, que liga Natal a praia de Pirangi foram totalmente interditadas. Soldados do Exército e da Aeronáutica se postavam nos canteiros para fazer um cordão de isolamento para a comitiva presidencial passar. Entrevista para a imprensa nem pensar. Na Barreira do Inferno os jornalistas que foram cobrir o evento ficaram dentro do que a gente chama no jornalismo de “curral”. Uma área com um cordão de isolamento para evitar a proximidade com o presidente.

Na época trabalhava na extinta EBN [Empresa Brasileira de Notícias] uma agência de notícias do governo federal. Os jornalistas que foram cobrir o evento foram todos credenciados, inclusive eu. Fomos para a Base Aérea aguardar a chegada de Sarney. Eu e o motorista da EBN, Zezinho, era assim que o chamava. O carro era um fusquinha branco, muito bem cuidado, por sinal, por ele. Tratava o carro como se fosse seu, tal o zelo.

O presidente chega com a comitiva, é recebido pelo governador Geraldo Melo, salvo engano, e se dirige para a Barreira do Inferno. Os jornalistas ficam frustrados, pois esperavam que Sarney desse pelo menos uma palavrinha. Nada feito. Os repórteres de fora acompanharam a comitiva presidencial num ônibus fretado pela Presidência da República. Desde a Base Aérea de Parnamirim até a Barreira do Inferno. Lá foi a mesma coisa. Nada de entrevista. Apenas o factual, ou seja, o lançamento do foguete.

Não satisfeito disse pra Zezinho. Vamos sair na frente do presidente e você toca para a Base Aérea. Pensei: sendo da EBN é possível que o presidente conceda uma exclusiva pra mim lá. Chegando na Base Aérea de volta da Barreira do inferno encontrei com o colega Paulo Roberto, da Rádio Cabugi. Ele tinha uma missão: colocar o presidente Sarney ao vivo no ar. Perguntei a ele: Será que você consegue? Paulo Roberto me respondeu que iria arriscar.

Minutos depois chega Sarney e a comitiva na Base Aérea. O presidente cercado de seguranças. O avião presidencial já estava com as turbinas ligadas. Sarney se encaminha para a aeronave. Eu e Paulo Roberto numa área que dava visão para a pista onde se encontrava o avião. Quando o presidente se aproxima da gente eís que Paulo Roberto corre – e eu junto dele – abre o microfone e vai logo fazendo uma pergunta ao presidente. Os seguranças tentam evitar a aproximação ao presidente, agarra-o mas Sarney manda soltá-lo e permite que ele faça a entrevista. Me identifiquei e aproveitei para pegar carona na entrevista de Paulo Roberto. 

Nesse dia só eu e ele conseguimos falar com o presidente. Graças ao ímpeto e a ousadia de Paulo Roberto. Acho que ele lembra disso. 

Foto: O Globo

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