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O Baú de um Repórter

Nunca gostei de fazer entrevista com gravador. Mas há momentos em que se tem essa necessidade, até para se resguardar de qualquer questionamento do entrevistado que possa vir a fazer depois do texto publicado. O gravador ao mesmo tempo que dá uma maior segurança ao repórter – pois grava toda a conversa – também dá uma certa insegurança, porque pode falhar: Foi o que me aconteceu. Vamos ao fato:

O dia em que o gravador falhou

Era eu editor de Economia do Diário de Natal e o governo Garibaldi – primeiro governo – estava prestes a privatizar a Cosern [Companhia de Serviços Energéticos do Rio Grande do Norte]. A empresa ia a leilão, mas havia especulações na época que isso poderia não ocorrer. Marquei então uma entrevista com o governador Garibaldi Alves, através do seu secretário de Comunicação jornalista José Wilde.

Dia e hora marcados lá fui eu para entrevistar o governador. De gravador em punho – esqueci de testar as pilhas – entrei na sala de Garibaldi acompanhado por Wilde. A entrevista ocorreu pela manhã na Governadoria e durou uns 40 minutos. Fiz uma boa entrevista onde todas as dúvidas foram tiradas a respeito da privatização da Cosern que iria ocorrer através de um leilão realizado na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.

Acabada a entrevista Wilde ainda me sugeriu que ouvíssemos parte da entrevista alí mesmo na sala do governador para saber se tinha ocorrido tudo bem. Que nada. Disse a Wilde que não precisava e qualquer dúvida tiraria com ele à tarde quando chegasse ao jornal. Fui pra redação por volta das 14h30 para fazer a decupagem – ouvir a gravação e tirar a entrevista – para editar a matéria. Pra surpresa minha quando liguei o gravador nada. Sequer a fita rodava. As pilhas estavam descarregadas. Minha sorte é que – seguro morreu de velho – anotei os principais tópicos da entrevista. Costumo fazer isso mesmo nas entrevistas com gravador. Em cada palavra do governador que achava que merecia ser anotado eu anotava e colocava um asterisco quando achava importante. Foi a minha salvação.

No outro dia a matéria mereceu chamada de capa e foi destaque no caderno de Economia. Wilde ainda me ligou para me dá os parabéns não sabendo ele que passei um certo sufoco para editar o material. Mas como tinha anotado os pontos principais o texto saiu sem nenhuma ressalva ou correção a ser feita pelo secretário de Comunicação do governo. A partir daí todas as entrevistas com gravador que ia fazer pedia pilhas novas na redação e testava o aparelho antes.

Obs do Blog: O web-leitor que quiser conhecer outras memórias deste repórter é só ir em BUSCA na coluna à direita do Blog e digitar uma palavra-chave tipo baú.

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