Entrevista

Economista considera quadro econômico desolador e culpa políticos pelo agravamento da crise

blog entrevistou o presidente do Conselho Regional de Economia do Rio Grande do Norte (Corecon-RN), economista Ricardo Valério Costa Menezes, sobre o momento econômico que o Brasil passa. Nesta entrevista, Menezes fala que o quadro para 2016 “não é nada animador”, levando-se em consideração que “todos os indicadores econômicos sinalizam mais deterioração do já grave quadro herdado de anos de descontrole fiscal cumulativamente”, e afirmou que  enquanto perdurar a crise política e o mar de lama da corrupção, somente estaremos aprofundando pra pior o cenário para nossa economia. Leia a entrevista completa a seguir:

1 – blogdobarbosa – qual o cenário que o Sr. vislumbra da nossa economia para 2016? 

Ricardo Menezes – Infelizmente o quadro não é nada animador, pois todos os indicadores econômicos  sinalizam mais deterioração do já grave quadro herdado de anos de descontrole fiscal acumulativamente, que nos levou ao déficit histórico para o orçamento deste ano, de cerca de 125 bilhões de reais. Se por si só, o cenário da nossa economia  já é caótico para 2016, ele se agrava mais ainda pela instabilidade do quadro político nacional com a gravíssima divisão em todas as esferas na Câmara dos deputados e no Senado Federal, que somente aumenta a instabilidade do nosso país e desmoraliza a nossa jovem credibilidade internacional conquistada na última década.

2 – blogdobarbosa – pelo cenário que o Sr. está traçando, isso ratifica que a instabilidade política é um dos vetores da nossa grave crise econômica? 

RM – Não tenho a menor dúvida. Nem o nosso déficit orçamentário de 125 bilhões, conseguiu mobilizar o Congresso Nacional para realizar as votações dos muitos ajustes fiscais e para as reformas  urgentíssimas que o país requer e implora. Isto abala a confiança interna e externa do país, pois a comunidade econômica ver claramente um país sem rumo e sem lideranças políticas, incapaz de abrir um diálogo para comprometimento de uma negociação de plano de salvação nacional, que caberia a um pacto de governabilidade entre o governo federal , Congresso Nacional, Poder Judiciário, classe empresarial e a população em geral.

3 – blogdobarbosa então o Sr. acredita que só um pacto pela governabilidade salvaria o país neste momento?

RM – Sim, mas ao contrário deste pacto pela governabilidade, temos a construção de barreiras intransponíveis e sem a menor chance de entendimentos a curto prazo como o Brasil requer. Enquanto perdurar as questões de tentativas de tirar do poder a presidenta Dilma e do presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, sem falar em igual tentativa do presidente do Senado Renan Calheiros, a tendência é infelizmente de agravamento da nossa economia. E isto tudo temperado num mesmo caldeirão das vaidades, falta de ética e corrupção em escalas nunca vista na história nacional, apuradas como no caso  da Lava Jato que vem conduzindo o Brasil  a perder a credibilidade externa,  nos levando a sucessivos rebaixamentos  internacional. Diante deste verdadeiro caos, nenhum investidor estrangeiro e até nacional vai querer investir recursos por aqui, proporcionando uma grande fuga de capitais, tão necessários para a nossa recuperação econômica. Não tenham dúvida que enquanto perdurar a crise política e o mar de lama da corrupção, somente estaremos aprofundando pra pior o cenário para nossa economia,  que  derrapa na mesma velocidade de lama do acidente em Minas Gerais.

4- blogdobarbosa – então estamos numa verdadeira encruzilhada, sem rumo e perspectivas de melhoria em 2016?

RM – Melhorias para 2016 infelizmente impossível, mesmo que fosse superada a vergonhosa crise política,  onde cada um defende seu próprio plano de poder ao invés de um amplo Pacto de Governabilidade. Ainda assim não haverá tempo para a recuperação da nossa economia em 2016, pois estamos quase no fundo do poço, que diga-se de passagem que não foram cavados  somente nos governos do PT,  pois já vem de muito tempo na historia da nossa República, agravado é fato,  pelo populismo implantado no governo da Dilma, e iniciado no governo de Lula, embora eu não tire os méritos de algumas conquistas relevantes obtidos nos primeiros  anos do presidente Lula, notadamente nos avanços sociais, melhor distribuição de renda e redução da pobreza no país, bem como exalto aos avanços também no campo da educação, embora ainda abaixo do que o Brasil precisa para ser uma Nação emergente com sustentabilidade.

5- blogdobarbosa – pelo o que o Sr afirma os problemas do Brasil são inúmeros hoje.

RM – Os problemas do Brasil já não são há muito tempo somente conjuntural, mas principalmente estrutural e não será com a aprovação simplesmente da CPMF,  com cortes pontuais nos orçamentos,  que atingiremos um equilíbrio fiscal sustentável, pois quase 90% dos recursos da União estão comprometidos  com despesas obrigatórias onde a previdência é a grande campeã. Precisamos de reformas na própria previdência social, reformas trabalhistas, fiscais, administrativas urgentes com redução da absurda máquina administrativa inchada e improdutiva, com Ministérios e empresas públicas, somente para servir de cabides de empregos e instalar verdadeiros cartórios de corrupção. Precisamos rever nossa  política monetária,  que não venha privilegiar somente  o sistema financeiro e a nefasta elevação excessiva das taxas de juros, que se de um lado ajuda no controle da inflação, do outro leva o país a uma recessão e paralisa  o nosso setor produtivo, além de gerar um custo altíssimo da nossa dívida. E para isto tudo acontecer, somente com a renovação do Congresso Nacional e surgimento de um novo estadista da estipe de um Ulysses Guimarães, para liderar o Congresso Nacional para as reformas estruturais que aqui já destacamos e que o país implora para retomada do nosso crescimento econômico.

6 –  blogdobarbosa – E será possível aguentarmos até 2018, quase quatro anos, a economia ladeira abaixo?

RM – Vamos resistir sim. O Brasil apesar de todo o nosso complexo de vira-latas, temos um enorme potencial econômico, um povo e empresários com um enorme capacidade de superação e adequação de rumos.  Ademais, embora que somente em 2018 estaremos retomando gradativamente o crescimento e recuperação, ainda que lenta da nossa economia, tirando 2016, que infelizmente de fato ainda estaremos aprofundando nossa crise, com mais de 9 milhões de desempregados, déficit orçamentário de mais de 3,33 do PIB, taxa de selic na casa dos 14%, dólar beirando mais de 4 reais, crise de credibilidade e novos rebaixamentos ainda este ano, já em 2017 o cenário tenderá a parar de se agravar, e começaremos a subir do fundo do poço ainda que lentamente e aí em 2018  começaremos a retomar a nossa gradual recuperação. Entre 2019 e 2020, o Brasil voltará a brilhar entre os países emergentes com grande destaque e com toda certeza muito mais fortalecido e com maior sustentabilidade no cenário econômico mundial.

7 – blogdobarbosa – é possível tirarmos alguma lição desta crise econômica que o Brasil vem atravessando?

RM – Com toda certeza, senão vejamos. Gosto de usar uma metáfora para explicar como a crise transcorreu  e os ajustes que ocorrerão no médio prazo. Comparo a nossa economia como uma embarcação, que estava navegando impulsionada por fortes ventos que estavam movendo o nosso crescimento econômico,  via o estímulo do nosso vigoroso mercado interno. O crescimento real da renda, a redução do desemprego, a melhor distribuição de renda, preços altos das commodities, a enxurrada de dólares que migraram para o Brasil a partir de 2008, tudo isto gerou ventanias fortes que estavam impulsionando as embarcações dos governos federal e estaduais, empresários, e da população em geral,  numa velocidade tão grande que não estávamos tendo condições  de  fazer ajustes na posição das velas, e assim os barcos seguiram sem correções de rumos. Agora que cessaram os ventos fortes que tocaram a nossa economia nos últimos 10 anos, chega a hora dos governos e empresários aproveitarem a recessão e paralisia  da nossa economia e fazermos  as mudanças estruturais que toda embarcação requer, quando parar no estaleiro para as necessárias manutenções e ajustes. Assim, vencida a nossa crise até 2018, as  empresas que sobreviverem estarão muito mais competitivas, enxutas e modernizada, pois a prolongada crise vai mostrar que precisamos cortar  custos notadamente nos desperdícios e aumentar a produtividade, coisa que não avançamos muito nesta última década, daí a volta da nossa inflação, pois houve crescimento significativo da renda nacional, mas sem ganhos compatíveis de produtividade. Da mesma forma temos que torcer que as reformas estruturais que o país requer na arca de Noé dos governos federal e estaduais, também se modernizem e passem a ter melhores gestores público, melhorando notadamente no combate a corrupção e melhorias na qualidade da aplicação dos recursos públicos, com uma estrutura enxuta e mais ágil.

8 – blogdobarbosa o Sr. tem exemplo de situações outras de crise e recuperação posterior de nossa economia?

RM – Nada melhor do que fazermos um resgate histórico desde 1930 para justificar a minha previsão otimista de médio prazo, que nossa economia vai superar mais uma das muitas cíclicas crise que a Nação passa historicamente em quase todas as décadas,  e que não haverá de ser diferente a partir de 2018, quando nossa economia  começará gradualmente a se recuperar, obviamente que não haja uma nova reedição dos desajustes políticos que interferiram enormemente na crise atual. Voltando a resgatar o que houve em 1930 com início do nosso processo de industrialização,  logo após a enorme crise mundial  e no Brasil agravada com o debacle do Ciclo do Café, que era a alavanca de nossa economia no passado, foi que passamos a  recuperação da nossa economia,  com o advento do processo de industrialização nacional, que impulsionou o Brasil até o final da década de 1970. Vindo para mais adiante, nos anos 1980, a crise foi oriunda da elevação assustadora do preço do petróleo e juros internacionais nas alturas com implicações internas no Brasil, e ainda assim superamos aquele grave cenário de inflação galopante. Já em 1990, os desafios foram a abertura comercial e financeira em cenários de globalização, havendo uma enorme necessidade de modernização do Estado e empresa mais competitivas, e tivemos como retorno o início da estabilização dos preços ainda que conquistada de forma artificial, e novamente superamos tudo e ainda conquistamos dois importantíssimo legados, que foram a autonomia do Banco Central e a famosa Lei das Responsabilidade Fiscais, que limitou os gastos desenfreados dos governos em todos os níveis, e que tanta implicações de avanços dos controles sociais a sociedade brasileira conquistou. Assim queira Deus, que nosso histórico se repita e possamos sair, e confio que isto ocorrerá a partir de 2018, com a retomada do nosso crescimento econômicos ainda que gradual, mas com mais sustentabilidade, desde que consigamos implantar as reformas estruturais, arquitetadas dentro de um novo Congresso Nacional renovado e com uma classe política mais consciente, digna,  ética e com verdadeiros interesses coletivos pelo bem comum da população, e não os nefastos interesses individuais e partidários que nos conduziram ao longo de muitos anos de nossa história contemporânea ao caos que horas enfrentamos, mas que vamos superar com toda certeza e saíremos muito mais preparados e competitivos.

*Ricardo Valério Costa Menezes é economista formado pela UFRN, com larga experiência profissional,  já tendo exercido diversos cargos públicos no governo do RN ao longo de mais de vinte anos, foi diretor administrativo-financeiro da Frutal, da Cooperativa Central do RN, Coordenador do PPA na Emater, diretor do Sistema Nacional de Emprego-SINE, superintendente Regional do Serviço de Aprendizado do Cooperativismo, entre outras funções. Atualmente, além de preidente do Corecon-RN, é empresário do setor imobiliário e consultor de empresas.

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