Entrevista

Zé de Abreu: `quieto eu não vou ficar´

Em entrevista ao Congresso em Foco, o ator José de Abreu falou sobre o conflito em que se envolveu na última sexta-feira (22). Em um restaurante japonês em São Paulo, Abreu bateu boca e cuspiu em um casal de clientes que o provocou chamando de ladrão e ofendendo sua esposa, Priscila Petit.

O bate-boca foi gravado pelo celular de clientes que se encontravam no restaurante e foi parar na internet, onde ganhou grande visibilidade. Declaradamente favorável ao governo e ao PT, o ator diz que na hora não pensou sobre sua reação, mas que não se arrepende. “Quieto eu não vou ficar porque não é o meu estilo”, afirma José de Abreu, que completará 69 anos em 24 de maio.

Zé de Abreu conta que ele e mulher haviam recém chegado do Japão, onde passaram a lua de mel, e decidiram ir ao restaurante, cujo proprietário é conhecido de Abreu (ele preferiu não revelar o nome do local). “Eu quero preservar, não falei para ninguém”, acrescentou. O ator fala que conversava com um dos garçons distraidamente sobre a viagem e quem percebeu as primeiras provocações foi sua esposa.

Confessando-se descrente com relação à possibilidade de reverter o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o ator também não é otimista quanto à superação. Culpando “os Reinaldos Azevedos da vida” (jornalista antipetista que criou a expressão petralha), ele lamentou as agressões contra simpatizantes do PT: “As pessoas estão com ódio, como se a gente fosse leproso”. Ele pediu à sua idade, à sua carreira ao “direito de jantar com a mulher numa sexta-feira à noite”.

Sem identificar o restaurante onde o incidente ocorreu, nem o casal filmado no vídeo, o Congresso em Foco não conseguiu ouvi-los, mas deixa à disposição de qualquer esclarecimento que os envolvidos na confusão ou o estabelecimento queiram fazer.

Segue a entrevista de José de Abreu:

Congresso em Foco – Como começou a discussão?

José de Abreu – Logo na chegada, os caras começaram com essa história de “pô, olha que sacanagem, temos que aguentar esse velho nojento no mesmo lugar que a gente frequenta” e eu estava conversando com o garçom. Eles ficaram jogando indiretas por um tempão, mas eu acho que estou ficando surdo do ouvido esquerdo [risos]. Eu estava num astral muito bom por causa da minha lua de mel no Japão. Eu vim um dia antes para ir lá nesse japonês que é muito bom. É um japonês bom aqui de São Paulo, eu conheço o cara, o sushiman, fiquei conversando sobre a viagem, as diferenças dos restaurantes (lá são pequenos e aqui são grandões), estava no maior astral, falando sobre saquê, a gente foi num barzinho só de saquê, coisas normais de quem está encantado pelo país, passei um mês lá.

Quando eu levantei é que ele falou claramente: “É fácil roubar o dinheiro do povo e vir comer num restaurante japonês com o nosso dinheiro”, alguma coisa assim. Eu levei um susto, achei que estava brincando e falei: “Ih, traz a conta aqui, acho que o menino quer pagar”. Aí ele falou “não é isso não”, daí eu falei: “Então o que você está falando? Eu trabalho na Globo, como vou roubar dinheiro do governo?” Aí ele: “Não? e a Lei Rouanet?”, respondi “eu não uso isso, tá maluco?”. Aí virou aquele destempero. Aí eu chamei o gerente e disse que o cara estava me importunando. Eu estava indo embora, ele podia ter deixado mais um segundo e eu só iria saber da história aqui em casa, quando minha mulher me contasse.

E aí aquela história louca, eu não ia agredi-lo, se a gente fosse partir para a porrada ia destruir o restaurante, que estava entupido de gente, as mesas estavam muito próximas umas das outras, eu nem pensei nisso. Imagina, ia estragar o jantar de pelo menos uns 40 casais, numa sexta-feira à noite de feriado. Fiquei muito indignado de ser chamado de ladrão, minha mulher ser chamada de vagabunda. Depois ela me contou mais coisas assim da bolsa dela, da “bolsa comprada com dinheiro do povo”, esses chavões ridículos. O cara não me conhece, eu fiz a Lei Rouanet uma vez na minha vida, no governo Fernando Henrique, quando montei um grande festival Nelson Rodrigues que saiu até no New York Times, do que eu muito me orgulho. Eles falam como se a Lei Rouanet fosse ilegal, eles são muito desinformados.

O senhor se arrepende da sua reação?

Eu não sei porque quieto eu não vou ficar nunca, porque não é do meu estilo. Eu sou italiano com português, não tem a menor possibilidade, 15 anos de análise e eu sei que a minha ira é sagrada. Não vou abaixar a orelha. Se eles estiverem em grupo eu vou apanhar, mas não vai me chamar de ladrão e minha mulher de vagabunda. O mais incrível é a outra mulher chamar a minha mulher de vagabunda. Eu fiquei olhando para a menina e ela “safado, safado, vagabunda” e eu cuspi, essas coisas a gente não pensa. Mas eu fiquei tão indignado, não sei que reação eu poderia ter, sabe? “Filho da puta”, xinga a minha mãe de puta, a minha mulher de vagabunda e me chama de ladrão? Eu não sou ladrão, minha mulher não é vagabunda e minha mãe não é puta. É um negócio de louco. Só porque eu fui jantar fora? Qual foi o meu crime?

Foi a primeira vez que esse tipo de situação aconteceu?

Foi a única, eu tiro fotografia, as pessoas me adoram, não tem essa. Eu saí da novela e viajei para o Japão no dia seguinte, nem peguei o fim da novela na Globo porque eu estava gravando feito um louco. Anteontem, quando cheguei em São Paulo, no aeroporto do Rio e no aeroporto de São Paulo eu tirei mais de 100 fotografias.

O que achou da repercussão do fato?

Normal, porque qualquer atitude minha… O cara que gravou devia estar mancomunado com ele porque ele gravou praticamente desde o primeiro segundo. Mas olha, se eu não reagisse iria ser ruim, se eu reagisse na porrada ia ser ruim, a cusparada foi ruim. Tudo é ruim, não tem uma atitude correta.

Congresso em Foco – O senhor tentou entrar em contato com o casal depois disso?

Não, o juiz é que vai entrar em contato. Ele diz que é advogado, então sabe que ele cometeu um crime. Já acionei a Justiça, é porque estamos no final de semana, mas já na segunda-feira o advogado entra com uma ação.

O senhor encerrou sua conta no Twitter por conta dessa confusão?

Não, não encerrei nada não, estou no Twitter. É um jogo que eu faço de vez em quando. Quando tem muita agressão eu saio meia hora e volto e elas somem todas. É muita loucura, 200 ameaças de morte, mil ameaças de agressão, estuprar minha mulher, é uma loucura.

Como avalia o atual clima político do país, com a população com os ânimos tão acirrados?

É muito ruim, é uma loucura, eu não sei como foi parar nisso. Isso é culpa de Reinaldos Azevedos da vida, que cunhou o termo petralha. As pessoas estão com ódio, como se a gente fosse leproso.

Consegue vislumbrar alguma saída para esse cenário de Fla-Flu político?

Não consigo. Não tão cedo. Estão tentando dar golpe, então está cada vez mais difícil, cada vez mais complicado. Não sei, eu peço a Deus para que haja um jeito, mas você nunca viu ninguém da esquerda provocar o ódio na rua, nunca aconteceu isso daqui pra lá, é só de lá pra cá. Eles é que têm que respeitar a gente. Ou que respeite meus 70 anos, que respeite a minha carreira, respeite o meu direito de jantar com a minha mulher numa sexta-feira à noite. Meu Deus do céu, o que é isso? Eu vou ter que ser exilado agora dentro do meu próprio país? Viver trancado na minha casa ou andar na rua com seguranças? Me recuso.

Na sua visão, ainda é possível reverter o processo de impeachment da presidente Dilma?

Parece que o povo na rua, espontaneamente, e a imprensa internacional estão conseguindo fazer uma reversão de expectativa, mas eu não acredito muito não.

Acha que a presidente vai ser afastada?

Acho que sim e vai ser um inferno, né? Vão entregar o Brasil para o PMDB do Rio de Janeiro, que é representado pelo maior abandonado, o Moreira Franco, o Cunha, o PMDB do Rio é o pior PMDB do mundo, é o PMDB do Paes, que cai a ciclovia e a ciclovia é feita pelo parente do secretário de Turismo, que lança para prefeito o Pedro Paulo, que é acusado de agredir a mulher, é difícil.

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