Editorial, O Baú de um Repórter, Política

O Baú de um Repórter

Como jornalista já vivenciei várias situações das quais algumas me marcaram para o resto da vida. Era repórter de Política do Diário de Natal e na campanha para governador nas eleições de 1990 cobri a campanha do então candidato Salomão Gurgel (PT). Sempre à procura de informações as minhas fontes eram as mais diversas dentro dos partidos que formavam a coligação de apoio à candidatura Salomão Gurgel. Duas delas eram do PC do B: Alírio Guerra e Glênio Sá. Vamos ao fato:

O adeus a Alírio Guerra e Glênio Sá

Acho que já falei sobre isso uma vez, mais sem detalhes. No dia 26 de julho de 1990, os comunistas Glênio Sá e Alírio Guerra perdiam a vida num acidente de carro no Rio Grande do Norte. Glênio fora guerrilheiro no Araguaia, preso pelos militares em 1972 e libertado apenas em 1975. Naquele ano de 1990, percorria o estado para fazer sua campanha para senador, juntamente com o seu companheiro de lutas Alírio Guerra.

A notícia do trágico acidente surpreendeu o mundo político do Rio Grande do Norte. Me encontrava na hora, por volta das 14h30 na sede do PC do B, em Natal, à procura de informações sobre a campanha de Salomão Gurgel quando a notícia da morte dos dois chegou. Foi uma grande correria. Checa daqui, checa dali e veio a confirmação. Todos ficaram transtornados. No dia seguinte o destaque dos jornais era a morte de Glênio Sá e Alírio Guerra. Não poderia ser outro.

Fui escalado para cobrir o velório e o sepultamento dos dois comunistas. O velório aconteceu no antigo Centro de Velório, na avenida Hermes da Fonseca, e o sepultamento simultâneo no Cemitério de Nova Descoberta, localizado no bairro de mesmo nome. O cortejo fúnebre ocupou as duas vias da Hermes da Fonseca – mão e contramão – tantos eram os carros acompanhando até o local dos sepultamentos.

Próximo ao cemitério, os automóveis começam a ser estacionados e as pessoas saem em direção ao local já cantando a música “Canção da América”, de Milton Nascimento. Em uníssono a música aos poucos vai tomando conta da rua que dá acesso ao cemitério. Um momento raro e de grande emoção. Nunca tinha presenciado um momento como aquele antes.

Até a hora das urnas baixarem as sepulturas as pessoas continuavam cantando “Canção da América”. Realmente, nessa minha vida de jornalista jamais esquecerei esse momento. Um momento de tristeza mas ao mesmo tempo um momento bonito, de amizade, de fraternidade, raro nos dias de hoje. Pra mim uma coisa inesquecível que guardo até hoje entre as minhas lembranças de redação.

Obs do Blog: O web-leitor que quiser conhecer outras memórias deste repórter é só ir em BUSCA na coluna à direita e digitar uma palavra-chave tipo Baú



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