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Lula não é Walesa

A propósito da queda do Muro de Berlim, a revista alemã Spiegel publicou uma reportagem com Lech Walesa:

O título é “Foi bom que Gorbachev fosse um político fraco”.

Walesa ressalta o papel dele, do movimento Solidariedade e do Papa João Paulo II na luta para derrubar o comunismo no Leste da Europa.

Demonstra certo ressentimento com o fato de o alemão Kohl, o americano Bush (pai), Reagan e o próprio Gorbachev serem, hoje, consagrados como os responsáveis pelo fim da Guerra Fria e a queda do Muro.

Uma vez, entrevistei Walesa, então presidente da Polônia,  para uma reportagem sobre a dívida externa (a Polônia foi o único país cuja divida externa tinha sido perdoada).

Por que a dívida da Polonia foi perdoada, perguntei.

Walesa respondeu:

Porque eu e o  Papa (João Paulo II) fizemos mais para acabar com o comunismo do que o Pentágono com aqueles foguetes todos …

Nessa entrevista ao Spiegl, porém, Walesa mostra por que Lula se tornou um líder sindical que se fez político mais relevante que ele.

Pergunta do Spiegel:

Por que o movimento sindical Solidariedade (que Walesa liderou) não conseguiu se manter um poder político na Polonia, depois de mobilizar as massas para derrubar o comunismo (ou o regime militar, se diria no Brasil – PHA) ?

Walesa respondeu:

Você não consegue substituir um velho sistema por um novo. Nós ganhamos e apresentamos nossa vitória à Alemanha e à Europa. Claro que era uma confusão, mas a nossa tarefa não era substituir o comunismo. Ao contrário, era ajudar a construir uma outra coisa. Nesse aspecto, agi contra o meu próprio interesse. Surgiu um número muito grande de partidos políticos e eu não poderia pertencer a todos eles. Eu não poderia mais desempenhar o papel do grande Walesa. Acabei por enfraquecer meu próprio poder. Mas eu de certa maneira escolhi isso, porque eu não queria me tornar um ditador como Kim Il Sung ou Lenin. Por isso, eu tive que aceitar a derrota política em nome da democracia. Esse foi o meu destino. O destino de um verdadeiro revolucionário.