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por Stella Galvão
Fazia um bom par de anos que não frequentava, como colaboradora, este blog jornalístico admirável. Barbosa e eu fomos colegas de luta nos bancos escolares do curso de Jornalismo da UFRN, um bom par de décadas passadas. Barbosa abraçou o jornalismo em solo potiguar, eu zarpei rumo a outros desafios. Passadas duas décadas e uns quebrados retornei a este solo ensolarado para tocar a vida de olho mais próximo ao Atlântico. Quando saiu meu livro de crônicas, procurei o blog para divulgar. O titular não se fez de rogado. Ali constava um bom bocado de textos que eu publicara num falecido jornal impresso desta natalina cidade.
Então um dia, ao cair da tarde, recebo uma ligação com o convite. Nem matutei. Tive um fiapo de dias para escarafunchar um nome de batismo para a coluna semanal. Consulta feita a alunos e amigos resultou neste ‘Baú de Estrela’, ligeiramente metido pela livre associação entre um nome que remete às estrelas e uma autoimagem bem polida. Àquela altura, então, feita de expectativas e ardentes movimentações.
A periodicidade da publicação logo enfrentaria graves revezes. A vida acadêmica cobrava sua fatura e produzia estados de esgotamento que logo se revelaram incompatíveis com essa escrita mais leve e fluída. Para que ela prospere, há que soltar-se da rotina, há que permitir-se um pouco ou, pensando bem, um muito de diapasão. Quem já se aventurou pelo terreno literário, ainda que seja pela crônica do arrabalde, da província, do comezinho, sabe quanta verdade reside nesta frase da consagrada escritora francesa Marguerite Duras em “Escrever”. “A solidão da escrita é uma solidão sem a qual o texto não se produz, ou então a gente se acaba, exangue, de tanto procurar o que escrever” (1993, p. 14).
Sem a solidão necessária, ou solidão quebrada por tantas solicitações, eu parei de escrever crônicas. Dediquei-me, na verdade, à escrita da minha tese, uma tarefa inglória que nos lança nas teias mais intrincadas da razão, um fardo ao qual tantos sucumbem ou se deixam levar pelas facilidades do plágio. Sobrevivi e, no país gerido pela extrema-direita, não tive a oportunidade de usar o novo diploma para retornar à universidade, em função das restrições crescentes aos concursos. Então fui estudar Letras e, assim, escapar do buraco negro da ausência de perspectiva. Este ano, comemorei a seleção do meu primeiro conto pós fase de esvaziamento literário. E veio com o selo da USP, coisa que também reluz que é uma beleza.
Enfim, toda esta algaravia para dizer do meu contentamento com a recepção preparada por meu dileto amigo Barbosa, que retirou o ‘Baú de Estrela’ das catacumbas em que jazia e ainda me mimoseou com a “cutícula do respeito humano”, expressão feliz do crítico literário Antonio Candido ao escrever sobre o nosso gigante da Literatura, Machado de Assis. Aproveito para adiantar que tratarei de miudezas cotidianas, farei comentários políticos dissimulados ou não, e falarei bastante de literatura. E espero, com a alma conflagrada, honrar a periodicidade desta coluna. Qual será, o tempo nos dirá.
*Stella Galvão é jornalista e colaboradora do blog, Doutora em Educação pela UFRN e autora de ‘Calos e Afetos’ e ‘Entreatos’. Endereço no facebook: stella.galva e-mail: stellag@uol.com.br
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