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Prevent Senior na CPI: o depoimento do diretor da operadora em 3 pontos

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O plano de saúde Prevent Senior passou a ser investigado pela CPI da Covid no Senado por uma série de suspeitas de irregularidades. Entre elas, estão o uso de pacientes como cobaias em um estudo realizado para testar a eficácia da hidroxicloroquina, associada à azitromicina, no tratamento da doença e fraude em atestados de óbito para ocultar o coronavírus como causa da morte.

Em depoimento à comissão na quarta-feira (22), o diretor-executivo da empresa, Pedro Benedito Batista Junior, admitiu que a operadora:

  • alterou o prontuário de pacientes com Covid para excluir o diagnóstico dos registros, mas que isso seria apenas para saber quem já não estava mais com a doença;
  • usou remédios ineficazes contra a Covid, como cloroquina, mas somente com o consentimento de pacientes ou de seus parentes, e que os médicos tinham autonomia para prescrevê-los ou não;
  • e fez estudo com pacientes que tomaram esses medicamentos apenas para acompanhar os casos e que o levantamento não se tratava de um estudo científico.

As declarações dele, porém, divergem das informações que constam de um dossiê entregue à CPI com denúncias elaboradas por médicos e ex-médicos da Prevent e de documentos obtidos pela TV Globo. Além disso, a mudança nos prontuários dos pacientes é vista como uma tentativa de ocultar mortes por Covid ocorridas nos hospitais e unidades da operadora.

Durante o depoimento de Bastista, o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), decidiu converter a condição dele de testemunha para a de investigado – o que indica que a comissão vê indícios de que crimes foram cometimento.

Entenda as suspeitas que recaem sobre a Prevent a partir de 3 pontos:

  1. Alteração de prontuário de pacientes
  2. Uso de remédios ineficazes contra a Covid
  3. Estudo sobre o ‘kit Covid’

1- Alteração do prontuário


O diretor-executivo da Prevent Senior confirmou em seu depoimento que a operadora orientou médicos a modificarem, após algumas semanas de internação, o código de diagnóstico (CID) dos pacientes que deram entrada com Covid-19.

A mensagem que determinava a mudança e repassada aos coordenadores da unidade, revelada pela GloboNews, dizia que era necessário “padronizar” o código para todos os pacientes com suspeita ou confirmação de Covid-19.

“Após 14 dias do início dos sintomas (pacientes de enfermaria/apto) ou 21 dias (pacientes com passagem em UTI/Leito híbrido), o CID deve ser modificado para qualquer outro exceto o B34.2 (código da Covid-19) para que possamos identificar os pacientes que já não têm mais necessidade de isolamento. Início imediato”, informava mensagem encaminhada por um diretor.

Suspeita de ocultação de mortes

Batista afirmou que o objetivo era apenas saber quem já não estava mais com a doença. A modificação do CID, porém, faz com que o diagnóstico de Covid desapareça de um eventual registro de óbito.

A suspeita da CPI é que o objetivo era ocultar o número de mortes pela doença nas unidades da Prevent. Segundo o presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), César Eduardo Fernandes, não se pode alterar o diagnóstico de uma doença apenas porque passou o seu período de transmissão.

“O CID, se o paciente vem a óbito, tem que respeitar o diagnóstico de entrada. Se ele entrou como Covid, enquanto ele estiver internado, o diagnóstico é Covid. Ele pode evoluir com repercussões orgânicas, a pessoa com Covid pode ter pneumonia, pode agravar para um choque séptico, para uma coagulação nos vasos, ele pode ir a óbito. Mas ele foi a óbito porque teve septicemia? A causa inicial é a Covid. Não posso alterar esse diagnóstico depois que passou o período da transmissão”, afirmou Fernandes à GloboNews.

Uma orientação do Ministério da Saúde deixa claro que é o diagnóstico de Covid deve constar da declaração de óbito. Diz a orientação: “Declaração de óbito com resultado do exame para Covid-19 confirmado deve seguir a sequência de eventos que levou ao óbito, declarando a Covid-19 na última linha”. O documento traz um exemplo, listando as consequências e, por último, a Covid”.

Durante a reunião da CPI, senadores também criticaram a alteração do CID. “O senhor, como médico, é inacreditável. Não tem condição de ser médico com a desonestidade com o que fez agora. Sinceramente, modificar o código de uma doença é um crime. Infelizmente, o Conselho Federal de Medicina não pune”, afirmou Otto Alencar (PSD-BA), que é ortopedista.

“Eles consideram que depois de 14 dias esse paciente não tem mais Covid ou que depois de 21 dias não tem mais Covid. Essas pessoas que morreram, morreram de complicações de quê? De Covid. Então, é Covid. É lógico que isso é uma fraude”, afirmou Humberto Costa (PT-PE), que também é médico (veja abaixo).

Omissão da causa de morte de pacientes tratados com ‘kit Covid’

Documentos revelam que a operadora de planos de saúde Prevent Senior omitiu a causa da morte de dois pacientes de Covid que foram tratados com medicamentos ineficazes contra a doença, como a hidroxicloroquina.

Regina Hang, mãe do empresário Luciano Hang, dono da Havan, foi internada em um hospital da rede Prevent Senior em 1° de janeiro de 2021.

O prontuário dela, ao qual a TV Globo teve acesso, mostra que, no hospital, Regina Hang foi diagnosticada com Covid e que já tinha tomado esses medicamentos comprovadamente sem eficácia.

Questionado pelos senadores, o diretor da Prevent disse que não tinha autorização para falar sobre pacientes. Hang foi convocado para prestar depoimento à CPI na próxima quarta (29).

Segundo o prontuário, no quinto dia de internação, Regina passou por sessão de ozonioterapia – prática proibida pelo Conselho Federal de Medicina. A ozonioterapia só seria permitida em casos de pesquisas experimentais autorizadas pela Comissão de Ética em Pesquisa (Conep). A Conep disse que não havia nenhuma autorização de pesquisa para a Prevent.

Regina Hang morreu um mês depois de dar entrada no hospital, no dia 2 de fevereiro. Em um vídeo, o empresário Luciano Hang confirma que a mãe morreu de Covid e lamenta o fato de ela não ter feito um tratamento preventivo.

A situação de Regina Hang é semelhante à de outro paciente da rede Prevent Senior: o toxicologista Anthony Wong. A Revista Piauí teve acesso ao prontuário de 2 mil páginas do médico. A reportagem revela que Wong foi internado no dia 17 de novembro de 2020.

Quando deu entrada no hospital, ele contou que estava com sintomas de Covid-19 havia oito dias e que vinha fazendo uso de hidroxicloroquina.

TV Globo também teve acesso ao prontuário de Anthony Wong. Um exame de PCR feito no hospital confirmou a presença do Sars-CoV-2 e constatou a Covid-19.

Segundo o prontuário, Anthony Wong, que era um defensor do chamado “kit Covid”, já estava tomando hidroxicloroquina em casa e autorizou continuar sendo medicado dessa forma. Ele também foi submetido a sessões de ozonioterapia.

Tanto no caso de Regina Hang quanto no de Anthony Wong, a Covid-19 não aparece na declaração de óbito. Segundo as normas do Ministério da saúde, mesmo que o paciente morra de complicações da doença, a causa básica, que levou à internação, deve constar na certidão.

2. Uso de remédios ineficazes

O diretor da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, afirmou que os remédios do chamado “kit-Covid”, composto, entre outras drogas ineficazes, por cloroquina, eram prescritos somente com o consentimento dos pacientes ou seus parentes.

Um dossiê entregue à CPI, porém, afirma que a distribuição desses medicamentos sem eficácia ocorria de forma indiscriminada e, muitas vezes, sem a devida autorização. À comissão, Batista disse que os pacientes passaram a exigir a prescrição da cloroquina após declarações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro e por pessoas influentes, que divulgavam o seu uso.

No entanto, segundo o senador Humberto Costa (PT-PE), a CPI tem recebido denúncias de “diversos usuários” de que pacientes da operadora de plano de saúde são “assediados” para utilizarem o kit .

Autonomia dos médicos

O diretor da Prevent afirmou ainda que os médicos da operadora tinham autonomia para indicar o tratamento conforme sua convicção e mediante concordância expressa dos pacientes.

A empresa, no entanto, é acusada de pressionar médicos a recomendar remédios ineficazes contra a Covid-19.

O dossiê em posse da CPI afirma que a disseminação da cloroquina e outras medicações ineficazes contra a Covid foi resultado de um acordo entre o governo Jair Bolsonaro e a Prevent.

Segundo o Sindicato dos Médicos de São Paulo, o plano teria coagido médicos a declararem que receitaram o chamado “Kit Covid”, com drogas ineficazes, por livre e espontânea vontade.

Médicos, que trabalharam na empresa durante a pandemia, afirmam que eram obrigados a prescrever aos pacientes a medicação que não funciona.

3. Estudo sobre o ‘kit Covid’

Em abril de 2020, a Prevent Senior divulgou um estudo realizado com seus pacientes para testar a eficácia da hidroxicloroquina, associada à azitromicina, para tratar a Covid-19.

À CPI, o diretor disse que não se tratava de um estudo científico, mas de um levantamento de caráter “observacional”, para acompanhar a evolução dos casos.

A reportagem da GloboNews teve acesso à planilha com os nomes e as informações de saúde de todos os participantes do estudo. Nove deles morreram durante a pesquisa, mas os autores só mencionaram duas mortes.

O estudo foi divulgado e enaltecido por Bolsonaro, como exemplo de sucesso do uso da hidroxicloroquina.

No depoimento, Batista negou a ocultação de óbitos. O diretor afirmou ainda que dois ex-funcionários “manipularam dados de uma planilha interna” para “tentar comprometer a operadora”.

Foto reproduzida da Internet




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