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por Stella Galvão
Noite de sexta-feira, 26 de agosto. A plateia é formada principalmente por senhores e senhoras saudosistas do trovador cearense que despontou para o país em 1973. A canção que tornou Ednardo conhecido de norte a sul do país, “Pavão Misterioso”, foi o ponto alto do show apresentado no teatro Riachuelo, acompanhado pelo competente violonista Carlos Patriolino Filho. Um show pontuado por muitas falas do cantor, relatos de vida e de uma longa estrada musical trilhada por um dos destaques do conhecido “pessoal do Ceará”, que inclui nomes como Belchior e Fagner.
Outro
destaque da noite foi a polarização política do público, que culminou com a
batida em retirada (voluntária) de um grupo de indignados, visivelmente
incomodados pelo relato do cantor sobre os anos de chumbo, metáfora da ditatura
civil-militar (1964-1985). Ednardo contou como perdeu muitos amigos que optaram
por opor-se ao regime e se somaram aos guerrilheiros que lutaram contra os
militares na região amazônica do Araguaia, tema de canção homônima do
compositor. “Quando eu me banho no meu
Araguaia/Bebo da sua água sangre fria.”
Ele fez uma defesa aberta da democracia, cantando mais forte os versos de
canções que falam em liberdade, como nos versos finais de Pavão: “Não temas
minha donzela/Nossa sorte nessa guerra/Eles são muitos, mas não podem voar”. O
público, majoritariamente pró-Lula, foi ao delírio. Via-se muitos fazendo o L
com as mãos, e um solitário grito de Lula ladrão, ao que se seguiu um coro de
“Gado!”. A plateia cantou à capela várias canções, presentes em uma memória
saudosa que levou muitos às lágrimas.
Ednardo, aos 77 anos, persiste na memória musical de muitos que viveram sua adolescência e início da vida adulta entre os anos 1970 e 80. Mas a idade já cobra uma fatura pesada para o cantor e compositor. A voz falha, os acordes na guitarra exigiram amiúde a presença do técnico de som. Mas, mesmo em meio às dificuldades visíveis, ele se agiganta no palco quando discursa em favor do papel do artista para falar de consciência social. “Viver é um ato político”, quase gritou. Como nos versos finais de “A palo seco”: Eu quero é que este canto torto/Feito faca, corte a carne de vocês.”
*Stella Galvão é jornalista, cronista e colaboradora do blogdobarbosa
Imagem ilustrativa
*Stella Galvão é jornalista, cronista e colaboradora do blogdobarbosa
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