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Economia

Alta do PIB: mercado passa a projetar crescimento maior para a economia, mas também espera subida dos juros

Está no g1

O mercado financeiro começou a revisar para cima as projeções de crescimento da economia brasileira em 2024, depois da surpresa com os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) no 2° trimestre.

Nesta terça-feira (3), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o PIB do Brasil cresceu 1,4% entre abril e junho de 2024, bem acima das expectativas de especialistas, que previam uma alta de 0,9% em média.

O Itaú Unibanco afirma que o resultado melhor é consequência direta da expansão dos gastos do setor público, do consumo persistente das famílias e de uma recuperação dos investimentos no país — ainda que a base de comparação com os últimos trimestres seja baixa. (veja os números por setores mais abaixo)

“O aumento da renda (liderado por um mercado de trabalho resiliente), bem como o ciclo de crédito benigno e mercado de capitais aquecido vem contribuindo para o forte crescimento do PIB”, diz o banco em relatório desta terça.

Os analistas do Itaú costumam demorar alguns dias para ajustar os cálculos e ainda projetam um crescimento de 2,5% para a economia brasileira em 2024. Mas já destacam que “há um viés de alta para nossa projeção de PIB do ano”.

Outras instituições já divulgaram novas projeções. Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, diz que a casa revisou seu número de 2,5% para 2,7% em 2024.

O analista ressalta que “o crescimento econômico no Brasil está muito pautado nas atividades internas”, o que é corroborado pelo forte crescimento de 7,6% das importações.

Para ele, além do mercado de trabalho aquecido — a taxa de desemprego no país está nas mínimas desde 2014 —, também contribuíram para o PIB do 2° trimestre “a retomada da confiança, o dinamismo do mercado de crédito, o aumento das transferências governamentais e, muito possivelmente, os esforços para reconstrução do Rio Grande do Sul”.

“Além de ser um resultado expressivo, ele é positivo na composição, mostrando tanto uma recuperação da ‘indústria de transformação’ quanto uma retomada dos investimentos”, diz Leal.

O banco BTG Pactual também aumentou suas estimativas. “Nossa projeção para o PIB de 2024 foi revisada de 2,4% para 2,7%, e ainda vemos riscos altistas caso os investimentos se mantenham resilientes ao aperto recente nas condições financeiras”, comentam os analistas, em relatório.

O banco, no entanto, revisou suas estimativas para o PIB de 2025 para baixo, saindo de 1,8% para 1,7%, por conta do “aperto nas condições financeiras e ao menor impulso fiscal [gastos do governo que estimulem a economia] esperado para 2025”.

Leonardo Costa, economista do ASA, também avisa que a casa revisou as contas para o ano que vem de forma preliminar, partindo de 2,5% para algo entre 3% e 3,5% em 2024. O PIB de 2025 ainda é projetado em 1,5%, mas com viés de alta.

Por fim, a Genial Investimentos revisou, de maneira preliminar, suas estimativas de um crescimento de 2,6% para 2,8%.

Alta do PIB pode contribuir para alta dos juros

Se por um lado o crescimento mostra, principalmente, uma demanda interna forte, por outro permanece a preocupação com as pressões inflacionárias, segundo Helena Veronese, economista-chefe B.Side Investimentos, que também revisou suas projeções para um PIB de 3% no ano.

“Um PIB mais forte impulsionado justamente por componentes que são mais sensíveis ao ciclo monetário, como consumo das famílias, impõe uma pressão adicional ao Banco Central, que já vinha sinalizando a possibilidade de uma nova alta na taxa Selic”, diz Helena.

A Guide Investimentos revisou de 2,2% para 2,9% o crescimento do Brasil neste ano e também considera que o resultado do último trimestres deve contribuir para que o Banco Central (BC) promova uma nova alta na taxa básica de juros.

Segundo a corretora, embora o número seja uma “foto do passado”, ele corrobora a visão de que o BC já deverá começar a elevar a Selic em setembro, mesmo que com uma alta de menor magnitude, de 0,25 ponto percentual.

Atualmente, a taxa Selic está em 10,50% ao ano e agentes do mercado financeiro enxergam uma possibilidade de que o BC suba os juros para controlar a aceleração da inflação vista nos últimos meses.

Em julho, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou uma alta de 4,50% em 12 meses. Esse é o teto da meta estabelecido pelo BC, de 3,0% para 2024, que será considerada cumprida se estiver dentro do intervalo de 1,50% e 4,50%.

Juros elevados costumam reduzir a atividade econômica porque encarecem a tomada de crédito, como financiamentos e empréstimos, tornando o consumo das famílias e os investimentos das empresas mais custoso. Mesmo que o BC eleve os juros, porém, há um tempo de alguns meses para que a alta seja sentida na economia real, explicam os especialistas.

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados comenta que o avanço dos serviços e da indústria, “parte importante da demanda doméstica, vai se tornar um bom problema para o BC”, justamente pela inflação que é decorrente do aumento do consumo.

Considerando a alta do consumo doméstico com outros itens de pressão, como a conta de luz mais cara, “o BC não terá alternativa a não ser subir os juros em setembro”, segundo Vale. “A chance maior era de 0,25, mas a possibilidade de alta de 0,5 aumentou e deve se consolidar”.

O economista destaca ainda que a “fonte de crescimento desse PIB é a expansão fiscal, principalmente com políticas de transferência de renda, que incentiva o consumo”.

“Isso coloca em dúvida a sustentabilidade desse crescimento”, pontua Vale. “Com isso, corre-se o risco de chegarmos em 2026, ano eleitoral, com a economia desajustada pelos exageros cometidos nos primeiros anos de mandato”.

Leonardo Costa, do ASA, diz que o resultado do PIB “apenas confirma o que já sabíamos: o ritmo da atividade doméstica permanece robusto, exercendo pressões inflacionárias significativas”.

“Embora esse cenário seja preocupante para a inflação atual, devemos observar com atenção a expectativa de desaceleração econômica nos próximos trimestres”, diz.

Para o economista, os desafios do BC permanecem inalterados, já que o núcleo da inflação de serviços, que agrega os preços da principal atividade da economia brasileira, continua acima da meta de 3%.

A atividade econômica mais aquecida, em especial nos serviços, dificulta um retorno das projeções do mercado para o centro da meta de inflação — chamado entre economistas de desancoragem das expectativas de inflação.

Isso força o BC a manter os juros altos. Para Costa, esse cenário pode justificar a alta de juros de 0,25 ponto percentual na reunião do Copom de setembro.

Haddad também espera um PIB maior

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comemorou o crescimento de 1,4% do PIB no 2º trimestre. Segundo ele, o resultado indica que o Brasil pode fechar 2024 com um crescimento econômico acima dos 2,7%.

“Vamos provavelmente reestimar o PIB para o ano, que deve — pela força com que ele vem se desenvolvendo — superar 2,7% ou 2,8%. Há instituições que já estão projetando um PIB superior a 3%”, disse o ministro.

A estimativa oficial do governo, até julho, era de um crescimento de 2,5% no acumulado do ano. Essa previsão é revista periodicamente pela área econômica.

“Temos que olhar muito para o investimento porque ele que vai garantir crescimento com baixa inflação, se nós não aumentarmos a nossa capacidade instalada, vai chegar um momento que vamos ter dificuldade de crescer sem inflação”, disse, apontando que os investimentos apresentaram desempenho acima do esperado no último trimestre.

O boletim Focus — relatório do BC que reúne as projeções de economistas do mercado para os principais indicadores econômicos semanalmente — também vem apresentando altas nas projeções para o PIB, mesmo antes do resultado do 2° trimestre.

Na última edição do relatório, divulgada nesta segunda-feira (2), era esperado um crescimento de 2,46% para a economia, contra 2,43% na semana anterior.

Resultado e destaques do PIB no 2° trimestre

A alta de 1,4% registrada entre abril e junho é o 12º resultado positivo consecutivo do indicador em bases trimestrais e vem depois de a atividade econômica brasileira crescer 1% no 1º trimestre. O resultado anterior, de 0,8%, foi revisado pelo IBGE.

Em valores correntes, o PIB totalizou R$ 2,9 trilhões. Foram R$ 2,5 trilhões vindos de Valor Adicionado (VA) a preços básicos, e outros R$ 387,6 bilhões de Impostos sobre Produtos líquidos de Subsídios.

Com os resultados, o PIB brasileiro teve alta de 3,3% em relação ao mesmo trimestre de 2023. Já a alta acumulada em quatro trimestres é de 2,5%.

Os principais destaques do PIB no 2º trimestre foram:

  • Serviços: 1,0%
  • Indústria: 1,8%
  • Agropecuária: -2,3%
  • Consumo das famílias: 1,3%
  • Consumo do governo: 1,3%
  • Investimentos: 2,1%
  • Exportações: 1,4%
  • Importação: 7,6%

Segundo o IBGE, o resultado da Indústria se destaca por conta do desempenho das atividades de Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (4,2%), favorecido pelo consumo residencial e influenciado pelas altas temperaturas.

Também houve bom desempenho da Construção (3,5%), favorecida pelo aumento de crédito, um patamar de juros mais baixos no país e programas de governo que ajudam a área, como o Minha Casa, Minha Vida.

Indústria de transformação subiu 1,8%, com alta forte tanto de bens de consumo — que se relaciona com a melhora de renda e de créditos para os brasileiros —, quanto pelo lado de bens de capital — que melhora com o desempenho dos investimentos produtivos da economia.

Já a Indústria extrativa registrou queda de 4,4% no trimestre, com paradas de manutenção do setor de petróleo.

“A Indústria cresceu, mas ainda estamos 5,4% abaixo do 3º trimestre de 2013, que é o patamar mais alto da série histórica da pesquisa”, diz Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

Os Serviços estão no maior patamar nominal da série histórica. Entre os subsetores, houve altas em Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (2%), Informação e comunicação (1,7%), Comércio (1,4%), Transporte, armazenagem e correio (1,3%), Administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (1%), Atividades imobiliárias (0,9%) e Outras atividades de serviços (0,8%).

Já o desempenho da Agropecuária era previsto por conta dos problemas climáticos no fim do ano passado. As safras de verão foram prejudicadas pelas seguidas ondas de calor, ou pelo volume muito grande de chuva em parte do país, além de seca em outras regiões.

“Esse cenário já prejudicou a safra do começo do ano. Com as enchentes do Rio Grande do Sul, as estimativas da produção de soja, que é a lavoura mais importante do Brasil, teve um agravamento da queda”, diz Rebeca Palis, do IBGE.

Com a queda no trimestre, o resultado nominal da Agropecuária está 5,8% abaixo do maior patamar da série histórica, que foi atingido com a supersafra do 1º trimestre de 2023.

Pelo lado da despesa, houve alta expressiva a despesa de Consumo das famílias (1,3%). São efeitos da força do mercado de trabalho brasileiro, que tem sua taxa de desocupação nos menores níveis em 10 anos, e a expansão real da massa salarial, que favorece o consumo.

A despesa de Consumo do governo (1,3%) também tem alta pela concentração de obras e investimentos do poder público em ano eleitoral. Em geral, os gastos se concentram no início do ano, por conta do bloqueio da entrega de obras durante a campanha.

Já os Investimentos (2,1%) cresceram bem em relação ao trimestre anterior, acompanhando a melhora da Construção, incentivada pela produção de máquinas e equipamentos no país, além do crescimento na importação.

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