O blog cria um novo espaço pra relembrar causos e editoriais, clique aqui para acessar o e-book.
Arquivos
Links Rápidos
Categorias
O blog cria um novo espaço pra relembrar causos e editoriais, clique aqui para acessar o e-book.
Está no Brasil 247
Na segunda-feira (14), por volta do meio-dia, os Estados Unidos deixaram de operar como uma república constitucional plena, segundo análise publicada pelo Financial Times. A ruptura institucional teria se aprofundado com a decisão do presidente Donald Trump de ignorar uma determinação unânime (9 a 0) da Suprema Corte norte-americana, que exigia a repatriação de Kilmar Armando Abrego García, deportado ilegalmente pelo governo.
Na contramão da ordem judicial, Trump chegou a distorcer publicamente o veredito, afirmando que os juízes haviam decidido a seu favor. O episódio foi agravado pela presença, no Salão Oval, de seu procurador-geral, do secretário de Estado e do presidente de El Salvador, Nayib Bukele — todos cúmplices no desrespeito institucional. “Não considero a possibilidade de devolver García”, declarou Bukele, sem apresentar qualquer prova de que o homem fosse um terrorista, ao que a equipe de Trump apenas assentiu.
Supremacia do Executivo e cerco ao Judiciário
O gesto de desafio explícito à Suprema Corte representa mais do que um episódio isolado: é parte de um movimento coordenado de erosão do sistema de freios e contrapesos. Trump consolidou a posição de que tribunais não têm autoridade sobre decisões executivas em matéria de imigração. A mensagem é clara: estrangeiros podem ser detidos sem apelação, e até mesmo cidadãos americanos podem ser presos sob acusações genéricas, como “antipatriotismo”.
“Trump sabe como prender a atenção diante das câmeras. Ele também estava fazendo história”, observa o artigo do FT. Segundo o jornal, o episódio com Bukele — que sequer usava gravata, ao contrário de Volodymyr Zelensky, repreendido meses antes por esse motivo — escancarou a afinidade do presidente dos EUA com regimes autoritários. El Salvador, hoje, abriga um centro de detenção financiado pelos EUA que se assemelha a um “gulag” moderno.
Provas fabricadas e uso do Estado contra opositores
A repressão se estende aos cidadãos americanos. Advogados do governo admitem erros em deportações, mas são afastados por expressarem esse reconhecimento. Provas podem ser retidas sob pretexto de “segurança nacional” ou simplesmente inventadas. García foi deportado apesar de não haver qualquer evidência concreta contra ele. Em paralelo, críticos do governo enfrentam investigações e perseguições judiciais.
Entre os alvos mais recentes está Chris Krebs, ex-funcionário federal que contestou as alegações infundadas de fraude eleitoral em 2020. Já a imprensa sofre com tentativas de intimidação: a rede CBS foi ameaçada com perda de licença após veicular entrevista crítica a Trump no programa “60 Minutes”, em que Zelensky falou sobre o avanço de supostas “narrativas russas” nos EUA.
Corrupção e autoritarismo como regra
O vínculo com Bukele vai além da retórica. O governo norte-americano se recusa a divulgar detalhes do contrato prisional com El Salvador, em um ambiente marcado por negócios obscuros e militarização da segurança. Empresas como a do mercenário Erik Prince, ex-CEO da Blackwater, estão entre as interessadas nesses contratos de deportação.
Analistas do Morgan Stanley alertaram recentemente que investidores americanos “devem se preparar para serem enganados muitas outras vezes”, em referência às tarifas e decisões econômicas erráticas de Trump. O presidente revogou normas anticorrupção e perdoou aliados condenados por fraudes, fortalecendo um ambiente de impunidade para os que orbitam seu poder.
Asilo nos sistemas jurídicos “menos sitiados”
À medida que o autoritarismo avança, cresce a preocupação de que cidadãos americanos comecem a buscar asilo em países com sistemas jurídicos mais estáveis. A comparação feita pelo FT com a Rússia de Vladimir Putin — onde opositores enfrentam perda de direitos, da liberdade e até da vida — deixa um alerta: a democracia mais antiga do mundo corre o risco de abandonar seus próprios princípios fundadores.
O encontro de Trump com Bukele e o desprezo à Suprema Corte entraram para a história como um marco sombrio da degradação institucional dos EUA. Mais do que um ato de força, foi uma demonstração do quanto o Estado de Direito está sendo corroído — de dentro.
Deixe uma resposta