Entrevista

“À luz da conjuntura recente, estou convencida que hoje eles não têm os 54 votos necessários para afastar a Presidenta”, diz Fátima Bezerra

Em entrevista exclusiva ao blogdobarbosa a senadora Fátima Bezerra (PT-RN) disse acreditar que a presidenta afastada Dilma Ruosseff não sofrerá impeachment. “Há um sentimento efervescente na sociedade de que, questões partidárias à parte, o que está em jogo neste golpe travestido de processo de impeachment são as nossas instituições democráticas, a soberania do voto, a manutenção do Estado Democrático de Direito…  enfim, o sentimento das ruas está mudando, as pessoas estão compreendendo que a presidenta Dilma não cometeu crime algum e, por isso, não pode ser afastada. E esse sentimento começa a ter reflexo no Congresso Nacional”. E completou: “À luz da conjuntura recente, estou convencida que hoje eles não têm os 54 votos necessários para afastar de vez a Presidenta da República”. Veja a entrevista a seguir:

1- blogdobarbosa – Senadora, a Sra acredita que a presidenta Dilma possa reverter os votos no Senado e se livrar do impeachment?

Fátima Bezerra – Temos certeza de que isso já está acontecendo. Há um sentimento efervescente na sociedade de que, questões partidárias à parte, o que está em jogo neste golpe travestido de processo de impeachment são as nossas instituições democráticas, a soberania do voto, a manutenção do Estado Democrático de Direito…  enfim, o sentimento das ruas está mudando, as pessoas estão compreendendo que a presidenta Dilma não cometeu crime algum e, por isso, não pode ser afastada. E esse sentimento começa a ter reflexo no Congresso Nacional.

2- blogdobarbosa – Como estão as articulações do PT e aliados para convencer os senadores que estão ainda indecisos e quantos senadores podem reverter seus votos?

Fátima Bezerra – As articulações estão em curso. Nós sempre acreditamos que essa farsa jurídica que não tem fundamentação legal seria desnudada. À luz da conjuntura recente, estou convencida que hoje eles não têm os 54 votos necessários para afastar de vez a presidenta da República e, por isso, estão tão desesperados, com investidas cada vez mais abusivas contra a presidenta Dilma, como cortarem as viagens e até a alimentação. Esse desespero também ficou claro na comissão de impeachment, na semana passada, por exemplo, quando tentaram encurtando prazos…  A intenção era tão absurda que não lograram êxito.

3 – blogdobarbosa – O senador Romário, que abandonou a Comissão do impeachment, e que votou favorável inicialmente pelo impedimento da presidenta Dilma, insinuou que poderia mudar o seu voto. Mas o presidente em exercício, Michel Temer, agiu rápido e ofereceu cargos em Furnas a ele. O PT pode confiar em Romário?

Fátima Bezerra – A resposta está na pergunta seguinte

4- blogdobarbosa – Outro voto indeciso é o do senador Cristovam Buarque. É outro que o PT pode confiar?

Fátima Bezerra – Ambos fizeram questão de declarar, na primeira etapa do processo, quando o Senado analisou a admissibilidade do pedido de impeachment, que votaram para dar prosseguimento porque  queriam aprofundar o debate, já que achavam que as investigações deveriam ir mais a fundo.  O que espero é que eles acompanhem o sentimento crescente das ruas, que, como já disse, vem mudando no que diz respeito à aceitação do impeachment. As pessoas estão percebendo cada vez mais que a presidenta Dilma está sendo vítima de uma grande traição.  Esse convencimento está cada vez mais forte também, não só em razão da brilhante defesa do dr. José Eduardo Cardozo, que demonstrou que as pedaladas e os decretos de suplementação orçamentária não podem ser configurados como crime e, portanto, não podem ser usadas como fundamentação legal para o impeachment, mas também após os áudios que vazaram recentemente, das conversas entre o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado e vários caciques do PMDB, incluindo o senador Jucá, braço direito desse governo e que não durou 48 horas no cargo. Esses áudios deixaram ainda mais claro que se trata de um golpe; um golpe que, como ficou demonstrado, tem como um dos seus objetivos estancar as investigações da Lava Jato, mas que tem ainda outra intenção, não menos grave, de se implantar um outro projeto de governo, sem legitimidade, que representa um ataque à soberania popular e aos direitos sociais, mas também, como ficou demonstrado, que tem o objetivo de estancar as investigações da Lava Jato. Portanto, como já mencionei, acredito firmemente que esses novos fatos  farão com que o processo seja revertido, e, assim, conseguiremos, nesta fase final, os votos necessários para barrar o impeachment.

5 – blogdobarbosa – O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao STF a prisão de Renan, Jucá, Sarney e Cunha, por tentarem obstruir a Lava Jato. Todos do PMDB. O que a Sra tem a dizer sobre isso?

Fátima Bezerra – As denúncias são bastante graves, mas como tomamos conhecimento dessas notícias apenas pela imprensa, vamos esperar o ministro do STF Teori Zawascki, que está com os pedidos, se manifestar. O que posso adiantar é que esperamos que, salvaguardado o direito de defesa, quem for inocente que seja reconhecido como tal e que os culpados sejam punidos com o rigor da lei.

7 – blogdobarbosa – Em pedido de inquérito ao STF, o procurador-geral da República disse que há indícios de que o ministro do Turismo, Henrique Alves, atuou, ao lado de Eduardo Cunha para obter recursos desviados da Petrobras. Na opinião da Sra Henrique está mesmo enrolado no petrolão?

Fátima Bezerra – Volto a repetir que também nesse caso as denúncias são graves, mas que, salvaguardado o direito de defesa, que os inocentes sejam inocentados e os culpados punidos na forma da lei.   

8 – blogdobarbosa – Dias atrás o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), em entrevista ao blog, afirmou que não cogita mudar o seu voto. Segundo o parlamentar, “não existe nenhum fato no momento que me deixe confortável para mudar o meu voto. Além do mais existe a coerência em torno do PMDB”. Que conselho a Sra daria ao colega diante de novos fatos que surgiram na conturbada política nacional?

Fátima Bezerra – Não cabe a mim dar conselhos ao senador Garibaldi. Prefiro falar por mim: eu tenho absoluta clareza de que a presidenta Dilma não cometeu crime de responsabilidade e que, portanto, não há argumentos jurídicos para afastá-la. Tanto é que inventaram essa aberração jurídica que é “o conjunto da obra”, para tentar condená-la. Temos que ter claro que, independentemente de questões partidárias, o que está em jogo aqui é a manutenção do Estado Democrático de Direito, a defesa das instituições democráticas e da soberania popular. Quando a democracia fica fragilizada, abre-se espaço para implantar projetos que não têm respaldo popular, como essas medidas sugeridas pelo governo provisório, que vão desde a reforma da Previdência, que aumenta a idade mínima de aposentadoria para 65 anos, tanto para homens como para as mulheres, até a  limitação do reajuste dos gastos sociais à inflação do ano anterior e a desvinculação orçamentária das receitas das áreas sociais, o que ferirá de morte a saúde e a educação públicas do país.

 

 

 

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