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Artigo

A relação abusiva da elite financeira e de seus prepostos com o povo

por Elizabeth Lopes

Historicamente, no Brasil, uma minoria rica, parasitária da riqueza produzida pelos trabalhadores, tem determinado os limites de atuação dos governos progressistas. A relação entre a elite financeira e o povo pode ser classificada como abusiva. 

Essa oligarquia econômica finge respeitar as regras do jogo democrático, mas, quando a maioria escolhe nas urnas um projeto popular, imediatamente o cerca, ameaça e asfixia por meio de seus prepostos, seja pela mídia corporativa, seja pelo Congresso dominado pelo centrão fisiológico e pela extrema-direita bolsonarista, ambos representantes fiéis às bancadas reacionárias e a seus interesses exclusivos.

A composição BBB, expressa a convergência entre direita e extrema direita no Congresso, tem operado como um bloco de poder a serviço da manutenção do modelo político-econômico excludente. Hegemonizada pelas bancadas dos bilionários, dos bancos, da bala, da bíblia, do boi, das Bets e de qualquer outro ‘B’ que represente capital ou influência no mercado político, essa aliança legislativa atua sistematicamente para blindar privilégios, sabotando pautas de justiça social e esvaziando iniciativas voltadas à redistribuição de renda no país.

A derrubada inconstitucional do Decreto do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras)  editado pelo governo, que buscava taxar setores que podem e devem pagar mais, como os bancos e as casas de apostas, escancarou essa lógica. No início dessa semana, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), gravou um vídeo com seu costumeiro discurso populista na tentativa de amenizar as críticas que recebeu, não só da esquerda, mas de setores da sociedade que entenderam que o decreto não visava penalizar os contribuintes, e sim corrigir distorções tributárias. É prerrogativa exclusiva do Executivo propor decretos dessa natureza.

Todavia, a reação da elite não se deu apenas por meio do Congresso. Em jantar realizado em 30/06, na casa de João Doria, o ex-governador de São Paulo apresentou Hugo Motta a empresários paulistas, exaltando-o como “herói do Brasil” por ter enfrentado o que chamou de aumento de impostos. Um gesto emblemático da camada economicamente favorecida contrária historicamente à justiça tributária. 

Em entrevista à GloboNews, em 01//06, Doria criticou a campanha do PT pela taxação dos mais ricos, acusando o partido de colocar “ricos contra pobres” como se não fossem justamente os ricos que há séculos se colocam contra o povo brasileiro. Doria ao final de sua fala ainda elogiou Ronald Reagan, ícone do neoliberalismo excludente do imperialismo norte-americano, o que revela muito sobre a agenda que Doria e seus parceiros rentistas defendem. 

Não por acaso, a mídia corporativa intensificou seus ataques ao governo Lula nesta semana. Os jornalistas do Estúdio i da Globo News fizeram uma crítica irreal e absurda ao falarem em tom irônico que o governo federal não tem projeto. Com a economia em pleno crescimento, a altíssima taxa de emprego, a busca de justiça tributária, a proposta de isenção de impostos para quem ganha até cinco mil reais, os vários programas sociais em andamento, como o pé de meia, farmácia popular, o SUS “agora tem especialistas” com o objetivo aumentar o acesso a serviços especializados, disponibilizando consultas na rede pública e na rede privada, com o aumento real do salário mínimo, a antecipação do 13º de aposentados e pensionistas do INSS, a vinculação do ajuste da aposentadoria ao salário mínimo, dizer que esse governo não tem projeto é de um cinismo revoltante. É um discurso de má-fé, repetido exaustivamente para manipular a opinião pública e minar um governo que tenta promover a equidade. 

Além dessa investida, os mesmos prepostos da GloboNews apresentaram, em 2 de junho, uma pesquisa realizada pela Genial/Quaest entre os dias 7 de maio e 30 de junho de 2025, tendo como pesquisados 203 deputados federais. Entre os resultados, destacaram o índice de 68% de aprovação do presidente da Câmara. A divulgação estratégica desse índice teve como objetivo suavizar a imagem desgastada de Hugo Motta diante das críticas crescentes nas redes sociais. As reações negativas têm sido motivadas não apenas pela derrubada do Decreto do IOF, mas também pela recente aprovação do aumento do número de deputados e a proposta do parlamentar de acumular a aposentadoria ao salário recebido pelo mandato.

Na sequência, no Jornal Nacional do dia 03/07, os já conhecidos porta-vozes dos interesses da casa Marinho, William Bonner e Renata Vasconcellos, não perderam a chance de lançar uma pá de cal sobre o debate emergente e necessário sobre a perversa carga tributária que recai desproporcionalmente sobre os mais pobres. Com o tom de serenidade que costuma preceder a distorção, Renata afirmou: “uma campanha disseminada em redes sociais com ataques diretos ao Congresso Nacional está provocando preocupação de políticos e analistas”. Faltou esclarecer quem são esses preocupados certamente não os brasileiros sufocados por impostos injustos, mas sim os que sempre lucraram com essa lógica tributária regressiva. A declaração segue a linha histórica da Globo, a de criminalizar os movimentos populares, blindar o andar de cima e operar como aliada dos que temem qualquer redistribuição real de poder e riqueza. Globo, sempre inimiga do povo.

Diante desse contexto intimidador, é impossível ao governo continuar conciliando com a desfaçatez demonstrada pelos ativos dessa elite que oprimem a população mediante ações coordenadas. Ao mesmo tempo em que sapateiam sobre os corpos da maioria dos trabalhadores, que sobrevivem com um salário minguado, se locupletam em seus rentismos sem tributação.

A lógica de funcionamento, em grande parte, dos integrantes do Congresso revela uma estrutura viciada onde parlamentares se valem de emendas para alimentar suas bases eleitorais e perpetuarem-se no poder, sem a devida transparência. Um exemplo claro foi dado pela 4ª fase da Operação Overclean, deflagrada em 27/06/2025 pela Polícia Federal, Controladoria Geral da União e Receita Federal. Nessa fase estão   sendo investigadas as articulações de uma organização criminosa suspeita de desvios vultosos oriundos das cobiçadas emendas na Bahia. Mira o deputado Félix Mendonça (PDT-BA) e seu assessor, suspeitos de operar o esquema de desvios, o que já levou à prisão dois prefeitos. 

A esse cenário degradante, marcado pelo uso indevido de recursos públicos, somam-se outros fatores igualmente nocivos como a atuação de parlamentares que reduzem seu mandato a performances nas redes sociais, esvaziando o debate político em favor do espetáculo e da autopromoção. Sem compromisso com a formulação de políticas públicas que atendam às necessidades da população, deputados como Nikolas Ferreira (PL-MG) e Carlos Jordy (PL-RJ), entre outros, se tornaram símbolos de uma política performática e vazia. Inspiram-se no estilo do ex-presidente inelegível, que durante 27 anos em que ocupou uma cadeira na Câmara dos deputados teve uma atuação legislativa sofrível em produção e condenável em postura. Já outros, como o pastor Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), sem qualquer compromisso com os beneficiários do INSS, criticou o acordo homologado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, que permite que os valores usados para ressarcir os descontos indevidos dos beneficiários do INSS não sejam integrados no teto fiscal.

A hipocrisia se torna regra na conduta desses parlamentares que, mesmo cercados de benesses, insistem em criticar os gastos do Executivo com políticas públicas. Ao mesmo tempo, silenciam sobre os privilégios do Legislativo. Trata-se de um jogo de conveniências e distorções, no qual o povo segue sendo o principal prejudicado.

Desde o início do governo Lula a direita e extrema direita têm feito uma campanha articulada, que visa enfraquecer Lula e inviabilizar sua futura recandidatura em 2026, abrindo espaço para o candidato da Faria Lima, o bolsonarista neoliberal Tarcísio de Freitas que denomino como o Ronald Reagan latino sonho de consumo da elite financeira do atraso e já apontado como o candidato que vai dar o indulto a Bolsonaro, caso eleito.

Contudo, Lula reage e resolve enfrentar os segmentos e prepostos do mercado financeiro que devoram a mais de cinco séculos a esperança do povo, “de um dia ver esse país com uma política tributária justa”, como referiu Lula no lançamento do Plano Safra 2025/2026 nesta semana. 

Com a proximidade das eleições de 2026, cresce entre os brasileiros a percepção de que há uma batalha decisiva em curso. O povo começa a identificar quem de fato defende seus interesses e quem age para manter o país sob domínio de uma elite insaciável. Nesse panorama, o Partido dos Trabalhadores e outros setores da esquerda têm buscado ampliar o diálogo com a sociedade, por meio de vídeos e materiais informativos que ajudam a esclarecer os principais pontos da reforma tributária e seus impactos sobre a vida da população. 

Segundo pesquisa realizada pela Genial/Quaest, divulgada na sexta-feira (4/07), esses vídeos representaram uma virada de chave em favor do Executivo em detrimento ao Legislativo. O levantamento revelou que 61% das menções nas redes sociais sobre o tema foram críticas direcionadas ao Congresso Nacional, evidenciando o desgaste da imagem parlamentar diante da opinião pública. Percebe-se nessas recentes manifestações que os brasileiros não aguentam mais ser manipulados pelas sombras de quem nunca aceitou dividir o poder e a riqueza. 

A luta por justiça social no Brasil exige lucidez estratégica. O momento é de desmascarar os inimigos da equidade, sejam eles parlamentares sem compromisso com as necessidades do povo, seja a mídia de cativeiro, sejam empresários que atuam nos bastidores para sabotar qualquer avanço popular. Neste sentido, o governo Lula, precisa cada vez mais transformar a comunicação política em ferramenta de mobilização social. O povo precisa ser informado, conscientizado e convocado a lutar por um projeto de nação que o coloque no centro da vida política e econômica do país. É tempo de romper com a submissão histórica e reescrever o destino da maioria da população brasileira.

*Elizabeth Lopes é advogada, especializada em Direito do Trabalho, pedagoga e Doutora em Educação

Foto reproduzida da Internet

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