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Coletânea de Causos

Que causos são esses, Barbosa?

Incentivado por amigos resolvi escrever também causos particulares vivenciados ao longo dos anos. Alguns relatos são hilários, e dignos de levar ao programa Que História é Essa, Porchat. Seguem os causos em forma de coletânea.

Artigo

André Lara Resende faz picadinho dos paladinos da austeridade

por Paulo Henrique Arantes, no Brasil 247

Os jornalões – assim nos referimos à velha mídia neoliberal, sempre a serviço de “o mercado” – noticiam na sexta-feira (31), com estupefação, que a Dívida Bruta do Governo Geral atingiu 78,1% do PIB. Lula, portanto, desde que assumiu responde por um aumento de 6,4 pontos percentuais da famigerada BDGG, que era de 71,7% do PIB em janeiro de 2023.

A intenção, clara como o sol, é transmitir a informação como um dado negativo da economia, afinal, desde quando endividar-se é recomendável? É a velha prática de comparar a gestão econômica de governos com a economia doméstica. Dona de casa valorosa não gasta mais do que o marido lhe disponibiliza. 

Fora dos redutos remanescentes do neoliberalismo mais rastaquera, como as editorias de economia dos jornalões brasileiros, sabe-se há algum tempo que o endividamento de governos não é algo obrigatoriamente deletério. Muitas vezes, é bem-vindo. André Lara Resende, formulador do Plano Real e até ontem queridinho de “o mercado”, acordou para esse fato anos atrás, abraçando teses keynesianas e incomodando seus pares.

Deve ser duro para os fanáticos neoliberais receberam aulas de realidade de André, ex-mito para a turba. Na mesma sexta-feira em que se noticiou em tom alarmante o aumento da dívida do governo, o economista publicou um alentado artigo no Valor Econômico intitulado “A fábula da fada da dívida pública”. Ele alude à “fada de Rogoff”, personagem fictícia imaginada pelo economista Kenneth Rogoff cuja varinha teria o condão de reduzir dívidas públicas, e a critica duramente:

“Sabemos que a vara de condão tem poderes mágicos, mas a macroeconomia, ao contrário da fantasia, exige coerência contábil. Como eliminar parte da dívida americana sem reduzir a riqueza dos que a detêm? Para fazer desaparecer parte da dívida, é preciso fazê-la desaparecer tanto para o Tesouro – o devedor – quanto para o público que a detém – o credor. A redução da dívida, como sustenta Rogoff, abriria espaço para uma política fiscal mais expansionista, mas esse é apenas o efeito sobre o devedor. A análise, para ser contábil e logicamente consistente, deve também considerar o efeito sobre o credor. Se o primeiro é inegavelmente positivo – mais espaço para política fiscal -, o segundo é incontestavelmente negativo: redução da riqueza financeira privada”.

Eis uma explicação bastante didática:

“Usemos os números sugeridos por Rogoff: uma redução da relação dívida/PIB para 60%. Como a dívida americana é hoje um pouco superior a 120% do PIB, estamos falando de uma redução equivalente a 60% do PIB na riqueza financeira dos detentores da dívida. O efeito recessivo de uma grande redução da riqueza financeira privada não pode ser subestimado. No caso americano, com cerca de um terço da dívida detida por estrangeiros, o impacto recessivo não se limitaria aos EUA, atingiria toda a economia mundial. Como a economia americana representa aproximadamente um quarto da mundial, uma redução de 60% dos 30% da dívida detida por não americanos significaria uma queda na riqueza financeira global equivalente a 4,5% da renda. O impacto direto seria menor fora dos EUA, mas ainda assim significativo.”

No parágrafo a seguir, André posta-se definitivamente contra um dos princípios neoliberais mais eloquentes, a austeridade cega:

“É sintomático do viés ideológico anti-Estado de muitos economistas que vejam com clareza os ônus do crescimento da dívida pública, mas permaneçam cegos aos seus eventuais benefícios. O aumento dos gastos públicos não é necessariamente negativo, nem positivo: tudo depende da qualidade dos gastos. Investimentos bem planejados e avaliados são muito diferentes de gastos correntes populistas, patrimonialistas ou corporativistas. Ainda assim, todos são estímulos à demanda e, ao menos no curto prazo, ao crescimento da renda. É o ensinamento de Keynes para evitar recessões – mas, se usado apenas para estimular a demanda sem respeitar as restrições da oferta, levará inevitavelmente à inflação.”

*Paulo Henrique Arantes é jornalista, autor do livro “Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil”. Editor da newsletter “Noticiário Comentado” (paulohenriquearantes.substack.com)

Foto reproduzida da Internet



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