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Política

Aparelho ideológico do imperialismo, Globo faz ataque rasteiro ao BRICS e à China

Está no Brasil 247

O jornal O Globo voltou a cumprir, neste domingo (6), o papel histórico que lhe cabe na engrenagem do imperialismo global: o de aparelho ideológico de dominação, como definiu o filósofo francês Louis Althusser. Em editorial intitulado “Cúpula consolida Brics como veículo do poder da China”, o periódico carioca repete argumentos rasos e previsíveis, buscando desqualificar a expansão do BRICS e atacar, de maneira enviesada, tanto a China quanto o projeto de integração do Sul Global.

A crítica do Globo, publicada no mesmo fim de semana da realização da 17ª Cúpula do BRICS no Rio de Janeiro, trata como ameaça o fortalecimento de uma aliança internacional que visa, justamente, contrabalançar o poder unipolar do Ocidente liderado pelos Estados Unidos. Ignorando as transformações geopolíticas do século XXI, o editorial acusa o bloco de “antiamericanismo atávico” e sugere, com desdém, que o BRICS se tornou um instrumento a serviço da China — e não uma plataforma de cooperação entre países em desenvolvimento.Play Video

O texto de O Globo é um exemplo típico do que Louis Althusser chamou de “aparelhos ideológicos do Estado” — instituições que atuam para reproduzir, no campo simbólico e cultural, a lógica do sistema capitalista e os interesses das classes dominantes. No caso da mídia corporativa, esse papel se expressa na fabricação de consensos, na ocultação de alternativas e na criminalização de projetos autônomos que desafiem a hegemonia do centro imperial.

É exatamente isso que faz o jornal da família Marinho ao tentar reduzir o BRICS a uma “voz da China”. O bloco, que nasceu da articulação entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e hoje conta com novos membros como Irã, Egito, Etiópia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Indonésia, representa uma resposta multilateral à ordem injusta consolidada pelas potências ocidentais desde o pós-guerra. Com 40% do PIB mundial e dois terços da população global, o BRICS não é o reflexo do poder de uma só nação, mas sim a expressão concreta do desejo de um destino compartilhado para a humanidade.

Ao desprezar temas centrais da cúpula, como o uso de moedas nacionais no comércio bilateral, o novo Fundo de Garantia Multilateral do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), a reforma das instituições internacionais e a governança global da inteligência artificial, O Globo tenta alimentar a narrativa de que o bloco é irrelevante. Não menciona, por exemplo, que o dólar tem sido sistematicamente utilizado como ferramenta de dominação econômica e geopolítica, com sanções unilaterais e controle sobre o sistema financeiro global.

Na ânsia de atacar o governo Lula — a quem acusa de usar o BRICS para “conter o poderio americano” — o editorial ignora a legitimidade dos esforços por soberania econômica, inclusão digital, combate às desigualdades e resposta às mudanças climáticas liderados por países do Sul Global. Ignora também a liderança da presidenta Dilma Rousseff à frente do NDB, cuja atuação tem fortalecido a capacidade de financiamento de infraestrutura e desenvolvimento em países historicamente marginalizados pelas instituições de Bretton Woods.

A crítica do jornal ainda recorre à comparação rasa com o antigo Grupo dos 77 para afirmar que o BRICS é heterogêneo demais para ter relevância. O que o Globo não compreende — ou finge não compreender — é que a força do BRICS está justamente na diversidade de seus membros e na disposição de cooperar em meio a diferenças, em nome de um sistema internacional mais equitativo, multipolar e baseado na solidariedade entre nações.

O editorial termina com um vaticínio malicioso: se o BRICS falar com uma só voz, “será a voz da China”. Na verdade, será a voz coletiva de países que recusam o domínio de um só império, que buscam construir uma ordem internacional democrática, onde a autodeterminação dos povos não seja apenas um discurso, mas uma prática.

Enquanto o BRICS caminha para consolidar-se como um instrumento de afirmação do Sul Global, a mídia conservadora brasileira se revela, mais uma vez, submissa à cartilha imperial. Cabe à sociedade discernir entre os interesses coloniais disfarçados de jornalismo e os projetos emancipatórios que emergem dos países que se recusam a ser eternamente periferia.

Imagem: IsTock

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