Entrevista

`As empresas fazem um “empréstimo” durante o processo eleitoral. Depois, são ressarcidas com juros e correções ilegalmente´, diz petista

O deputado estadual Fernando Mineiro (PT) concedeu entrevista ao blog. Nesta entrevista, o parlamentar fala de política nacional e local. Ao ser indagado se achava que o fim do financiamento de campanha por empresas poderia, se não acabar, mas ao menos diminuir a corrupção na política brasileira, Mineiro foi taxativo: “A rigor não existe financiamento privado. De modo geral, as empresas fazem um “empréstimo” durante o processo eleitoral. Depois, são ressarcidas com juros e correções, através dos mais variados mecanismos ilegais. O fim do investimento empresarial em candidaturas políticas diminuirá a corrupção no Brasil”. Leia a íntegra da entrevista:

blogdobarbosa – O Senado aprovou na última quarta-feira o fim da doação de empresas para candidatos e partidos políticos. Agora, as legendas poderão receber dinheiro somente de pessoas físicas e do fundo partidário. Como o Sr ver essa medida?

Fernando Mineiro – Vejo como um importante passo para enfrentar uma das maiores causas da corrupção do sistema político brasileiro. As chamadas contribuições financeiras que as empresas fazem para as campanhas são, na verdade, investimentos com altas taxas de retorno através de superfaturamentos nos preços de obras e serviçosmpúblicos.

blogdobarbosa – O Sr acha que o fim do financiamento de campanha por empresas pode, se não acabar, mas ao menos diminuir a corrupção na política brasileira?

Fernando Mineiro – Acho que sim. A rigor não existe financiamento privado. De modo geral, as empresas fazem umm”empréstimo” durante o processo eleitoral. Depois, são ressarcidas com juros e correções, através dos mais variados mecanismos ilegais. O fim do investimento empresarial em candidaturas políticas diminuirá a corrupção no Brasil. Mas apenas o processo de amadurecimento político da sociedade e o desenvolvimento de mecanismo de controle social da máquina pública possibilitará combater a corrupção com eficácia.

blogdobarbosa – Defensor do financiamento privado de campanha, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou na última quinta-feira que a Casa vai modificar a decisão do Senado e restabelecer, no projeto de reforma política, a autorização de doação de empresas a partidos. Qual a opinião do Sr sobre essa posição do presidente da Câmara?

Fernando Mineiro – A aprovação do fim do financiamento empresarial no Senado foi um passo. Mas a disputa política continuará na Câmara, de forma mais intensa nos próximos dias. As empresas financiadoras de campanhas eleitorais e, portanto, detentoras do “passe” dos mandatários eleitos pressionarão pela continuidade desse mecanismo. É do interesse de determinadas empresas, e mesmo de setores empresariais, manterem o controle do Congresso Nacional. Estão aí as bancadas da bala, a ruralista, a do sistema financeiro, a das empresas de medicamentos, etc, etc. A derrota do financiamento empresarial dependerá da pressão dos setores da sociedade. Pesquisas indicam que cerca de 80% da sociedade brasileira é favorável ao fim deste modelo de financiamento de campanha. Mas a maioria dos parlamentares é fruto desse sistema é dele se alimenta.  Teremos uma dura luta pela frente.

blogdobarbosa – Dentro da reforma política que está sendo proposta no Congresso Nacional, no entendimento do Sr o que mais poderia ser feito para aperfeiçoá-la?

Fernando Mineiro –  Muita coisa precisa mudar no sistema político brasileiro, pois ele está falido. Aliás, é esta falência que explica, em muitos aspectos, a atual crise vivida em nosso país. O Congresso Nacional é a imagem invertida da sociedade brasileira. Basta ver o número de mulheres, negros, jovens e  trabalhadores que exercem mandatos eletivos. A composição do Congresso deveria se aproximar mais da realidade do país. As disputas eleitorais são desiguais, desestimulando a participação do cidadão e da cidadã “comum” na atividade política. Precisamos de uma verdadeira revolução cultural em nossa sociedade. Aprimorar o processo representativo e criar mecanismo de controle social na definição e implementação das políticas públicas. Infelizmente, vivemos o império do “voto de troca” em detrimento do “voto de opinião”. Mas tudo isso faz parte da permanente disputa sobre os rumos e a consolidação da democracia brasileira.

blogdobarbosa – Como o Sr está vendo as movimentações da oposição e de parte da sociedade com relação ao pedido de impeachment da presidenta Dilma?

Fernando Mineiro – Existe uma forte disputa política e ideológica sobre os rumos do desenvolvimento brasileiro. Uma disputa histórica, que atravessa décadas. Este é o pano de fundo da disputa atual, que é mais um capítulo desse processo. O acirramento dessa disputa se dá devido às medidas tomadas pelo Governo para o enfrentamento da crise econômica que, sabemos todos, não é apenas nacional. A oposição, derrotada por quatro vezes seguidas, se aproveita dos erros cometidos pelo PT e pelo Governo e potencializa a disputa. Uma parte dessa oposição, ancorada no apoio decisivo dos grupos empresariais de comunicação, alimenta (e se alimenta) da indignação seletiva frente às denúncias de corrupção. A oposição sabe que não existe base legal (nem social) para o impeachment da Presidenta Dilma, mas insiste nesta tática para enfraquecer o governo e impor a agenda derrotada em 2014. Os alvos são o PT e a possível candidatura de Lula em 2018. A crise econômica e as duras medidas adotadas pelo Governo para enfrentá-la geraram insatisfação na base da sociedade (mesmo em quem votou na Dilma). Em meio ao ódio de classe e ao inconformismo de setores da sociedade com a perda de privilégios históricos, essa insatisfação é o caldo de cultura da intolerância e do ódio social que marcam determinadas manifestações. Mas, no fundo, tudo isso faz parte do processo de amadurecimento da frágil democracia brasileira. O Brasil passou por amplas transformações econômicas e sociais nas últimas décadas. Mas somos devedores de uma transformação cultural, que possa alterar valores e concepções de mundo. A superação desses momentos só é possível através de mais e mais política e mais e mais democracia

blogdobarbosa – E sobre a prisão do ex-ministro José Dirceu, o que o Sr tem a dizer?

Fernando Mineiro – Faz parte do processo de criminalização do PT. Os filiados aos demais partidos e denunciados pelos mesmos motivos são sempre poupados. As denúncias e ações de justiça contra petista servem pra alimentar aindignação seletiva que citei anteriormente. Zé Dirceu está condenado de antemão, qualquer que tenha sido a sua responsabilidade e  independente do término do julgamento.

blogdobarbosa – Saindo um pouco da política nacional e entrando na política local. O Sr foi lançado candidato a prefeito de Natal pelo governador Robinson Faria tão logo saiu o resultado das eleições para governador. Depois o próprio PT de Natal deu aval a sua candidatura. Tendo em vista o desgaste político que o PT hoje atravessa, isso não poderá prejudicar uma eventual candidatura do Sr a sucessão de Carlos Eduardo Alves?

Fernando Mineiro – Não tem como se prever o impacto da situação política de hoje no processo eleitoral do ano que vem. Lógico que meus adversários torcem para que exista um impacto negativo (rs). Mas eles sabem que cada processo eleitoral tem suas dinâmicas e determinações próprias. De qualquer forma, estou preparado para este debate. Será bom pra sociedade debater sobre nossas propostas para a cidade e sobre nossas histórias políticas. Faço política há mais de três décadas e sempre agi com ética, dignidade e compromisso com os interesses da maioria da sociedade. Meus defeitos são outros e nenhum deles tem relação com desvios de conduta ou atitudes de irregularidade no trato da coisa pública. Por isso mesmo, faço política com desassombro, de cabeça erguida e consciência tranquila. Se eu vier a ser escolhido pelo PT como candidato a prefeito no ano que vem, darei o melhor de mim e contribuirei para a apresentação de propostas para os graves e históricos problema da nossa cidade. Aliás, acho que é isto que motivará a participação e a decisão da sociedade no processo eleitoral. Sociedade que está cada vez mais madura e sabe separar o joio do trigo e o bom debate de ideias das querelas politiqueiras.

blogdobarbosa – Deputado, o Sr. teve uma expressiva votação na última eleição para prefeito de Natal, o que provocou a ida ao segundo turno do candidato do PMDB, deputado Hermano Morais. O Sr, sendo candidato novamente, espera obter uma votação maior ainda do que na eleição passada, mesmo com o desgaste, repito, do PT?

Fernando Mineiro – Cada eleição tem sua dinâmica própria. A de 2016 nada tem a ver com a de 2012 e, muito menos, com a de 2014. Se candidato eu for (e falo isto em respeito à legislação eleitoral), espero ganhar as eleições, como todo candidato (rs). Sobre essa repetida questão do desgaste do PT: a torcida adversária é grande, reconheço. Mas o tira-teima será em 2016. Até lá, é só mais uma disputa de opinião, que terei de ouvir ene vezes.

Foto reproduzida da internet

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2 Responses to `As empresas fazem um “empréstimo” durante o processo eleitoral. Depois, são ressarcidas com juros e correções ilegalmente´, diz petista

  1. […] a íntegra da entrevista do deputado Fernando Mineiro (PT) concedida ao Blog do Barbosa sobre política nacional e […]

  2. Carlos Augusto disse:

    Coerentes os posicionamentos de Mineiro.

    Deve-se lutar pelo fim do financiamento privado nas eleições como uma forma efetiva de diminuir a corrupção.

    A candidatura de Mineiro não será penalizada pelo desgaste do PT. É a melhor opção.

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