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Está no g1
A Argentina, sob o comando de Milei, enfrenta um rigoroso ajuste econômico. Herdando um país em recessão, com inflação descontrolada e dívida pública crescente, Milei implementou um corte abrangente de gastos públicos em uma tentativa de estabilizar a economia.
Desde que assumiu a Presidência, paralisou obras federais e interrompeu o repasse de verbas para as Províncias.
Subsídios a serviços essenciais, como água, gás, luz e transporte público, foram eliminados, resultando em um aumento significativo de preços ao consumidor.
Essas medidas de austeridade geraram uma resposta mista, com muitos argentinos e brasileiros sentindo o peso no bolso do encarecimento de itens essenciais e do mercado imobiliário.
Por causa disso, Lucas decidiu que era o momento de ir embora. “Em um mês arrumei tudo, consegui trazer meu gato e me mudei com o meu namorado”, conta Lucas, que hoje vive em Ciudad del Este, no Paraguai.
“Aqui consigo comer bem, sem ter o desespero se eu vou ter comida no fim do mês. Aqui é bem mais barato.”
Ele não é um caso isolado. A BBC News Brasil conversou com outros brasileiros que já deixaram a Argentina ou que pretendem se mudar em breve, principalmente, pelo aumento do custo de vida.
Disparada de preços
Um levantamento do Centro de Estudos Scalabrini Ortiz, que analisa índices socioeconômicos na Argentina, mostrou que inquilinos enfrentaram no país no último ano, de janeiro a dezembro, aumentos de 285% a 309% nos aluguéis de imóveis de um a três quartos.
Isso ocorreu porque uma legislação que estava em vigor desde a pandemia foi extinta.
A Lei do Aluguel, aprovada em 2020 pelo Congresso argentino, impunha limites aos aumentos dos aluguéis e havia estendido a duração dos contratos de dois para três anos.
O objetivo era proteger os inquilinos durante a crise sanitária e social provocada pela covid-19.
Já nesta época, muitos proprietários de imóveis optaram por vender em vez de alugar ou priorizam as locações por temporada, consideradas mais rentáveis, explica Gustavo Perego, diretor da ABCEB, consultoria de gestão e desenvolvimento de negócios da América Latina.
Isso gerou uma crise no mercado imobiliário, porque reduziu o número de imóveis disponíveis para locação.
“Os poucos que estavam para alugar subiam o preço, então, era caro e tinha poucos”, afirma Perego.
Os preços subiram ainda mais depois que Milei chegou ao poder. O novo governo revogou em dezembro de 2023, por meio do Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), a lei que limitava o aumento do aluguel — assim como outras medidas de controle de preços.
Os contratos passaram a poder ser negociados livremente, explica Perego, e os proprietários também puderam passar a cobrar em dólar, tornando oficial uma prática que já ocorria informalmente.
O economista Alberto Ajzental, coordenador do curso de Negócios Imobiliários da Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica que, com a lei anterior, os valores dos aluguéis ficaram defasados porque não puderam ser reajustados conforme a inflação.
“Isso prejudicou os proprietários e desestimulou a oferta de imóveis”, diz Azental.
“Agora, com a liberação, os proprietários estão buscando atualizar os valores para o patamar de mercado, o que gera um aumento considerável nos preços.”
Embora o país viva com a crise imobiliária há anos, além da lei de aluguéis que contribui para esse aumento, segundo especialistas, o problema também faz parte de uma crise imobiliária global.
A pandemia de covid-19 causou um grande impacto no mercado imobiliário, segundo Ajzental, com a diminuição da renda das famílias em contraponto com um aumento do preço dos imóveis.
Com a compra da casa própria mais distante, explica o economista, a locação se tornou a principal alternativa para muitas famílias, aumentando a demanda e, consequentemente, os preços dos aluguéis.
A disparidade entre o câmbio oficial e o paralelo na Argentina impactou o mercado de aluguel no país, segundo Perego.
Na Argentina, o câmbio oficial é a taxa controlada pelo governo, enquanto o paralelo, também conhecido como “dólar blue”, é uma taxa informal negociada fora dos canais oficiais.
Contratos de locação em pesos, atrelados ao câmbio oficial e à inflação, tornaram-se desvantajosos para os proprietários, explica o diretor da ABCEB.
A possibilidade de alugar por curtos períodos em dólares, via plataformas como o Airbnb, mostrou-se mais lucrativa, especialmente em áreas turísticas.
Ainda de acordo com Perego, os novos preços são uma realidade do país e ficarão bem parecidos com os das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.
Para o especialista, a queda no valor dos aluguéis vai acontecer, mas será gradual.
Foto reproduzida da Internet
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