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por Joaquim de Carvalho, no Brasil 247
O escândalo do INSS, que lesou um dos setores mais vulneráveis da sociedade, precisa ser seriamente investigado, porque há indícios de que pessoas com mais peso político podem estar por trás de um golpe bilionário. Refiro-me ao controlador da Crefisa, o banco com fortes vínculos com as economias daqueles que já deram a sua contribuição para o desenvolvimento do País e, com méritos, deveriam desfrutar de uma velhice tranquila.
José Roberto Lamacchia, dono da Crefisa, o banco que hoje é dos líderes dessa modalidade de empréstimo, emergiu de um dos setores com maior afinidade com o bolsonarismo, o agronegócio, e sua esposa e sócia, Leila Pereira, abriu as portas do Palmeiras para que Bolsonaro ganhasse exposição. Play Video
Em 2018, logo depois que se elegeu presidente, o clube quebrou o protocolo ao permitir que ele participasse da entrega das medalhas e das taça de campeão brasileiro aos jogadores. Na época, o presidente do Palmeiras era Maurício Galliote, mas Leila já era uma influente conselheira e pavimentava a estrada que a levou ao posto máximo do clube.
Nos bastidores, já era conhecida a relação que mantinha com os demais conselheiros, inclusive com benefícios nunca tornados públicos. Essa relação neutralizou politicamente Paulo Nobre, o dirigente que saneou as finanças do clube e semeou o terreno para que o Palmeiras se tornasse multicampeão.
Politicamente, os laços com o bolsonarismo também se intensificaram. Em 2020, o então prefeito de São Paulo, Bruno Covas, se opunha a Bolsonaro, sobretudo por conta de ações para combater a pandemia da Covid-19, mas os financiadores de sua campanha eram conectados a Bolsonaro.
O jornalista Pedro Rabucci Neto mergulhou na lista de doadores de Bruno Covas e, em artigo publicado no site Esquerda Diário, relatou que um de seus apoiadores era justamente José Roberto Lamacchia.
“Com uma doação de 200 mil reais, José Roberto Lamacchia, dono do banco Crefisa, da Faculdade das Américas e principal financiador da Sociedade Esportiva Palmeiras, aparece como o segundo maior doador individual para a campanha de Covas. Defensor declarado de Jair Bolsonaro, Lamacchia usou da sua influência no Palmeiras para dar palanque a Bolsonaro em 2018 e também é conhecido pelos processos judiciais dos quais é alvo, incluindo uma possível fraude em uma associação sem fins lucrativos”, escreveu.
A família Lamacchia possui raízes no agronegócio, setor que historicamente demonstrou apoio significativo ao governo de Jair Bolsonaro. O pai de José Roberto Lamacchia construiu sua riqueza em Birigui, interior de São Paulo, por meio da cafeicultura e do setor bancário. Seus irmãos continuam atuando no agronegócio, sendo proprietários de diversas fazendas no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Além disso, José Roberto Lamacchia e sua esposa, Leila Pereira, presidente do Palmeiras, foram mencionados nos Pandora Papers como proprietários da offshore Koba Investors Limited, criada nas Ilhas Virgens Britânicas em 2008. A utilização de offshores em paraísos fiscais é uma prática comum entre grandes empresários do sistema financeiro e autoridades econômicas do governo Bolsonaro, como o ex-ministro Paulo Guedes.
Reportagens indicam que o casal Lamacchia-Pereira teria utilizado o Palmeiras para apoiar a candidatura de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais. O Blog do Paulinho publicou matérias sugerindo que o clube foi usado como plataforma para promover o então candidato, o que motivou ações judiciais por parte do casal para tentar remover essas publicações. No entanto, a Justiça negou os pedidos de censura, mantendo as matérias no ar.
Embora não existam provas de uma ligação direta entre José Roberto Lamacchia e Jair Bolsonaro, há indícios de conexões indiretas por meio de afinidades políticas, interesses econômicos comuns e ações que sugerem apoio ao ex-presidente. Essas relações destacam a complexa interseção entre negócios, política e esportes no Brasil.
Crefisa amplia domínio no crédito consignado e reforça conexões políticas
A Crefisa, tradicional instituição financeira brasileira, consolidou sua posição no mercado de crédito consignado ao vencer, em outubro de 2024, o leilão da folha de pagamento do INSS para o período de 2025 a 2029. A empresa arrematou 25 dos 26 lotes regionais disponíveis, ficando atrás apenas no lote que abrange Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, conquistado pelo Banco Mercantil.
Com essa vitória, a Crefisa passou a administrar os pagamentos de aposentadorias e pensões do INSS, além de oferecer empréstimos consignados a novos beneficiários. Inicialmente, uma instrução normativa previa exclusividade de 90 dias para que os bancos vencedores do leilão ofertassem crédito consignado aos novos aposentados e pensionistas. No entanto, essa regra foi suspensa por decisão judicial, após contestação da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), que alegou violação às regras de concorrência econômica.
Apesar da suspensão da exclusividade, a Crefisa já possui uma base significativa de clientes aposentados e pensionistas. Em 2023, mais de meio milhão de beneficiários do INSS recebiam seus pagamentos através da instituição. A empresa oferece taxas de juros de 1,69% ao mês para crédito consignado, posicionando-se entre as mais altas do setor.
A trajetória da Crefisa está intimamente ligada à figura de José Roberto Lamacchia, fundador da instituição.
Em 2004, Lamacchia foi acusado de forjar uma assembleia para transformar o CEBRASP (Centro Brasileiro dos Servidores Públicos de São Paulo) de associação sem fins lucrativos em empresa privada, transferindo 95% do capital para si e 5% para sua empresa Crefipar. Em 2018, o Tribunal de Justiça de São Paulo anulou a assembleia e determinou a liquidação da empresa, obrigando Lamacchia e a Crefipar a restituírem os recursos apropriados.
Lamacchia não era funcionário público e se tornou conselheiro vitalício, e foi acusado por outra dirigente do Cebrasp de transformar a entidade numa operadora de crédito, a base do que seria seu banco. No caso, empréstimos são seguros para quem concede, já que o desconto é feito diretamente na folha de pagamentos.
O Tribunal de Justiça de São Paulo entendeu que essa manobra só foi possível graças a fraudes, numa engenharia criminosa muito parecida com o que se descobriu agora em relação às entidades que fazem o desconto de contribuições dos aposentados não autorizadas. É tudo fachada para abrir um ralo que leva as mensalidades para o bolso de bilionários.
A Crefisa também é conhecida por seu patrocínio ao Palmeiras, iniciado em 2015. No entanto, a empresa anunciou que encerrará a parceria com o clube em dezembro de 2025, possivelmente como parte de uma reestruturação estratégica focada no núcleo financeiro.
A ascensão da Crefisa no mercado de crédito consignado e suas conexões com figuras políticas e empresariais destacam a complexa interseção entre finanças, política e interesses privados no Brasil.
Alterações na revalidação de descontos
Em 2019, a Medida Provisória 871, sancionada pelo então presidente Jair Bolsonaro, estabeleceu que autorizações para descontos associativos em benefícios do INSS deveriam ser revalidadas anualmente. No entanto, durante a tramitação no Congresso, essa exigência foi modificada para uma revalidação a cada três anos, a partir de 31 de dezembro de 2021. Isso adiou a primeira revalidação para 2025, dificultando a identificação de descontos não autorizados.
Revogação de medidas antifraude
Em 2022, o Congresso revogou dispositivos da MP 871 que exigiam comprovação periódica das autorizações para descontos. A revogação ocorreu por meio da Medida Provisória 1.107, originalmente destinada à criação do microcrédito digital, mas que acabou incluindo a eliminação da exigência de revalidação das autorizações. Entidades sindicais alegaram dificuldades em obter as comprovações necessárias, o que levou à flexibilização das regras.
Ou seja, o pântano descoberto agora no INSS foi construído antes do governo Lula, e sua descoberta só foi possível graças a um ministro nomeado por Lula, Vinícius Marques de Carvalho, da Controladoria Geral da União, e da Polícia Federal.
Este artigo apresenta os pontos que precisam ser ligados. O alicerce do golpe foi assentado antes do governo Lula, e responsabilizá-lo pelas fraudes é fake news.
*Joaquim de Carvalho é colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br
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