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Artigo

Depois de Janja, a vez de Marina enfrentar o cerco do fascismo

por Moisés Mendes, no Brasil 247

Marina Silva foi cercada pela alcateia bolsonarista no Senado por ter entrado na fila de espancamento da extrema direita. Foi desrespeitada e teve de se levantar e ir embora porque toda situação com tensão política, envolvendo mulheres e fascistas, terá desfechos semelhantes.

Se as comadres da GloboNews se sentiram à vontade para depreciar as falas de Janja e pautar os colegas machos, e até mesmo parte das esquerdas, a extrema direita está mais do que autorizada a cercar Marina. Como fez na sessão desta terça-feira na Comissão de Infraestrutura do Senado.Play Video

São previsíveis os ataques, a valentia de Marina e a covardia do entorno hétero. Como aconteceu mais de uma vez nos duelos da deputada Maria do Rosário com o então deputado Bolsonaro no plenário e no salão verde da Câmara.

Machos olham de longe, no ambiente que é deles, no espaço corporativo de homens que fazem concessões às mulheres, mas não se metem nas falas machistas dos colegas de Congresso. Marina ouviu algumas manifestações de espanto, na base do que é isso, peraí, epa, por favor, e não ouviria mais nada.

Mulheres são alvo preferencial do fascismo, ao lado de negros, indígenas, gays e todos os diferentes. Em ambientes públicos, como aconteceu no Senado, com a imposição de quem fala grosso e mais alto, o ataque é orientado pela busca do corte, do trecho no vídeo que irá bombar depois.

Não importa o contexto, o conjunto de uma sessão pretende ser esclarecedora sobre a exploração de petróleo na Margem Equatorial. Importam os 20 segundos que irão sintetizar um ataque.

E foi o que aconteceu quando Marcos Rogério (PL-RO) ergueu sua voz de homem com imunidades e ordenou: “Me respeite, ministra, se ponha no seu lugar”. E quando Plínio Valério (PSDB-AM) esclareceu, dirigindo-se a Marina: “A mulher merece respeito, a ministra, não”.

No mundo das normalidades, que talvez tenha existido, com suas imperfeições, até pouco mais de uma década atrás, Rogério e Valério seriam desqualificados como políticos e até como dupla sertaneja.

Hoje, não. Hoje o machismo é cantado, e as falas dos senadores devem estar sendo compartilhadas e exaltadas nas suas bases virtuais como a afirmação do macho diante de uma ministra que tem a petulância de dizer que não é mulher submissa. Disse, duelou mais um pouco e foi embora.

O que teremos depois da cena no Senado? Teremos as comadres da GloboNews, com seu feminismo de jardinagem, escandalizadas com o que aconteceu. Notas de entidades diversas e de políticos e políticas. Editorial no Estadão e homenagens à bravura de Marina.

Mas ali, na hora, naquele momento, não aconteceu, como nunca ocorre, o que deveria acontecer. Ali, quando Marina era cercada pelas hienas da extrema direita, alguém tinha de tentar imitar o que Alexandre de Moraes vem fazendo nas sessões do STF que ouve advogados e testemunhas do golpismo: parou. Era o momento de dar um tranco.

Dirão que não há no Congresso, em situações como a dessa terça-feira, alguém com posição hierárquica acima dos demais colegas, que carregue a prerrogativa da intervenção sumária e contenha os ataques.

Claro que há. O senador Marcos Rogério, que presidia a comissão, é quem tinha esse poder, mas é exatamente ele quem, ao invés de exercer a moderação, inicia os ataques a Marina.

Dirão também que Marina tem histórico de luta e sabe se defender sozinha. Sempre usam essa desculpa quando da agressão a mulheres por gente com foro privilegiado. E dirão que assim é o Congresso.

Mas nunca vão dizer, nem nas internas, que falta quase sempre a reação forte de um macho no momento em que muitos deles testemunham agressões de extremistas misóginos.

* Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero Hora, de Porto Alegre.

Foto reproduzida da Internet

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