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por Stella Galvão
Menino nascido e criado em Baía Formosa, cidade praiana vizinha da festejada Pipa, o norte rio-grandense Ítalo Ferreira se tornou o primeiro surfista da história a subir no mais alto do pódio da nova modalidade premiada em Olímpiadas, feita para quem cria intimidade com ondas, marés e tombos colossais. A oração curtinha pedindo o ouro era feita, segundo o campeão, todos os dias às 3h da madruga. Santa disciplina! Ele foi instruído por ancestrais, gente curtida pelas durezas da lida que sabe o valor do empenho.
A avó partiu dois anos antes da consagração do neto e foram em sua memória as lágrimas copiosas que o campeão verteu para câmaras sequiosas pela novidade do ouro tão rarefeito no pódio olímpico brazuca. A família do campeão foi levada rapidamente para um sofá global, onde relataram a escalada do herói. Ali e acolá o saudavam como o talento potiguar, ó glória!, escapar por um momento da anódina e generalizante identificação de ‘nordestino’. Menino pobre, surfou a princípio nas tampas de isopor do pai pescador. Começou assim, desafiando a leveza do material frente às fortes ondas da praia de sua infância. Na final de Tóquio viu sua prancha rachar tal o impacto das ‘lapadas’ das ondas surfadas. Trouxeram outra e mais outra até ele decidir-se qual o levaria à glória olímpica.
Histórias bonitas de superação que agradam a audiência, mas a fábrica dos heróis esportivos trabalha com a constância e empenho, mas também com patrocínio que mesmo no surfe ninguém nasceu filho de Netuno. Ítalo foi campeão do mundo em 2019, depois de infindáveis troféus e medalhas em outras competições. A Ítaca (patria de Ulisses nos poemas homéricos) Formosa entrou em festa com seu campeão. Ítalo logo regressará a seu lugar para nos brindar com uma exibição. Que seja amplamente divulgada mas, por favor, não às 3 da matina..
*Stella Galvão é jornalista e colaboradora do blog, mestre pela PUC-SP e autora de ‘Calos e Afetos’ e ‘Entreatos’. Endereço no facebook: stella.galva e-mail: stellag@uol.com.br
Sempre bom acompanhar os escritos de Stella. Sempre bom “revê-la”. Ave!
Salve, querido amigo, digo a mesmíssima coisa. Aquele abraço!